Universidade do Ceará é acusada de antissemitismo no vestibular
Cientista social afirma três questões criam "narrativa unilateral que nega ao povo judeu sua história"; Confederação Israelita do Brasil vai procurar a instituição e o MP
O vestibular da Universidade Estadual do Ceará (UECE), realizado no último domingo, foi acusado de promover ideias antissemitas em três itens da prova. Ao Globo, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) informou que vai oficializar o Ministério Público e a instituição de ensino por conta das questões.
O caso ganhou repercussão após uma postagem na rede social X feita pelo cientista social Matheus Alexandre. Em uma delas, ele ressalta que a resposta correta "sugeria que o extermínio dos judeus não foi racional do ponto de vista econômico, pois poderiam ter sido utilizados como escravos".
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"Isoladamente, as questões podem parecer um acidente. No entanto, quando analisadas em conjunto na mesma prova, compreendemos sua intenção: transmitir uma narrativa unilateral que nega ao povo judeu sua história e relação originária com o território do Levante, além da absurda relativização do Holocausto", argumenta o pesquisador em antissemitismo contemporâneo, em sua publicação.
Procurada pelo Globo, a universidade ainda não se manifestou.
A prova foi aplicada para a seleção dos novos alunos para o segundo semestre do ano letivo de 2024. Duas das questões constavam na prova de História e a terceira na de Geografia.
Veja as questões:
De acordo com o Gabarito 4, a resposta correta da questão acima é a opção C
De acordo com o Gabarito 4, a resposta correta da questão acima é a opção D
De acordo com o Gabarito 4, a resposta correta da questão acima é a opção D
Na avaliação de Andrea Vainer, diretora jurídica da Conib, as questões têm "cunho extremamente preconceituoso" e são "abertamente antissemitas".
— A resposta à questão 29 ofende e desumaniza, de forma flagrante e irreparável, a memória das vítimas do Holocausto, na medida em que normaliza as atrocidades cometidas contra o povo judeu pelo regime Nazista e aplica um cálculo de custo-benefício para avaliar o genocídio de 6 milhões de pessoas — afirmou.
Ela também afirma que a questão 27 "deturpa de forma maliciosa o texto bíblico sobre o êxodo do Egito, buscando apagar os laços milenares do povo judeu com a Terra de Israel".
— Como se sabe, Moises conduziu o povo Judeu à Canaã, Terra de Israel. A denominação “Palestina” surgiu muito tempo depois, no Império Romano, não guardando absolutamente qualquer relação com o contexto da questão apresentada. Frise-se que o povo judeu foi escravizado no Egito. Portanto, é verdadeiramente inconcebível utilizar o termo “elite judaica” ao se referir a um povo escravizado, que fugia da perseguição no Egito — alega.
Já sobre o item 35, Vainer afirma que a questão "foi construída de maneira tendenciosa e carente de respaldo histórico, distorcendo a definição de Sionismo e instigando preconceitos e estereótipos contra a comunidade judaica".