Uruguai acelera vacinação em guerra contra a Covid-19
Mais de 80% das 1.009 mortes provocadas pela Covid-19 no Uruguai ocorreram em 2021, marcando um momento crítico da pandemia
O Uruguai, que superou mil mortes por Covid-19, avança na vacinação de sua população sem paralisar a economia ou renunciar à "liberdade responsável" de seus cidadãos, enquanto a oposição exige mais restrições.
Mais de 80% das 1.009 mortes provocadas pela Covid-19 no Uruguai ocorreram em 2021, marcando um momento crítico da pandemia que no ano passado parecia estar sob controle.
Enquanto entre março de 2020 - quando surgiram os primeiros casos de coronavírus - e dezembro o país de 3,5 milhões de habitantes contabilizava apenas 181 mortes por Covid, nos primeiros três meses de 2021 somou mais de 800 mortes, 400 delas apenas em março.
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Esta semana, também ultrapassou 100.000 infecções, das quais quase 60% ocorreram nos últimos 90 dias.
Esse aumento sustentado se traduz em um maior número de pacientes graves: 42% dos leitos de terapia intensiva em todo o país estão ocupados por pacientes com Covid.
Os números ilustram a mudança radical de cenário que vive a nação sul-americana, distante do manejo bem-sucedido da pandemia que nunca recorreu à quarentena obrigatória e que lhe rendeu elogios.
Neste contexto, a comunidade científica e associações médicas, bem como a oposição e parceiros políticos do governo exigem medidas mais restritivas à mobilidade.
Mas o presidente de centro-direita, Luis Lacalle Pou, foi enfático ao descartar o confinamento obrigatório, argumentando que seu governo "não acredita em um Estado policial" e até relutou em fechar alguns setores da economia.
O presidente considera que as medidas em vigor, como a suspensão das aulas presenciais ou o fechamento de algumas repartições públicas, são "suficientes" se acompanhadas de um comportamento individual responsável.
Lacalle Pou levantou a bandeira da "liberdade responsável", conceito ao qual apelou várias vezes em 2020, quando se recusou a decretar uma quarentena, apesar dos múltiplos pedidos da oposição de esquerda e de outros setores.
Colapso e vacina
Um eventual colapso do sistema de saúde passou a ser o foco das atenções e esta semana foi objeto de debate entre aqueles que apoiam as decisões do governo e aqueles que argumentam que é imperativo o endurecimento das medidas.
A União Médica Uruguaia (SMU) se envolveu dias atrás, pedindo aos médicos que se filmassem testemunhando o colapso do sistema de saúde e divulgando os vídeos nas redes sociais.
Embora a SMU tenha indicado que seu único objetivo era conscientizar a população, políticos pró-governo consideraram isso uma "campanha" contra o governo, negando também que os hospitais estejam lotados.
Na terça-feira, um documento do Ministério da Saúde Pública (MSP) foi vazado e distribuído entre os hospitais para definir as prioridades de admissão nas unidades de terapia intensiva, o que para alguns mostra que o próprio governo está prevendo o pior cenário.
Além disso, e embora o MSP tenha acrescentado dezenas de leitos de terapia intensiva, a sociedade de médicos intensivistas indicou que não há recursos humanos suficientes para atendê-los.
O outro lado da moeda é a vacinação, que desde seu início, em 1º de março, está a todo vapor: em um mês, quase 20% da população já recebeu a primeira dose da CoronaVac ou Pfizer.
Por meio de convênios com os laboratórios americano e chinês Sinovac, o Uruguai conseguiu cinco milhões de doses, das quais dois milhões já chegaram ao território nacional.
O país também aguarda a chegada de vacinas AstraZeneca, adquiridas pelo mecanismo Covax. No domingo, chegarão as primeiras 48 mil doses, segundo a mídia local.