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Uruguai ratifica "compromisso democrático" ao recordar 50 anos do golpe de Estado

O golpe provocou um regime cívico-militar que durou 12 anos, sendo a ultima ditadura do país

Vigília em comemoração aos 50 anos do início da ditadura uruguaia Vigília em comemoração aos 50 anos do início da ditadura uruguaia  - Foto: Pablo Porciuncula/AFP

O Uruguai ratificou na segunda-feira (26) o compromisso de preservar a democracia ao recordar os 50 anos do golpe de Estado que provocou a última ditadura no país, um regime cívico-militar que durou 12 anos, cujos ecos ainda são sentidos.

O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, e os três ex-presidentes da abertura democrática ainda vivos - Julio María Sanguinetti (1985-1990 e 1995-2000), Luis Lacalle Herrera (1990-1995) e José Mujica (2010-2015) - participou em um ato na sede do Poder Legislativo, que foi acompanhado por uma vigília nos arredores do prédio, organizado pela sociedade civil.

"Há 50 anos, a ditadura tentou calar os representantes do povo. Hoje queremos ratificar nosso compromisso democrático neste Parlamento eleito democraticamente pelos cidadãos", afirmou a vice-presidente, Beatriz Argimón, na abertura da cerimônia.

A última sessão do Senado antes da acústica das duas Câmaras, na madrugada de 27 de junho de 1973, foi recriada com imagens daquela noite projetada na cúpula do edifício, enquanto eram ouvidos discursos emblemáticos de legisladores da época.

A apresentação foi aplaudida pelos participantes, vários deles emocionados, que em seguida cantaram o hino nacional no majestoso Salão dos Passos Perdidos, invadido pelos militares há cinco décadas.

A fachada do Palácio Legislativo foi iluminada com os núcleos da bandeira uruguaia e as palavras "Democracia para sempre", frase escolhida para marcar a data.

Nos arredores do prédio, centenas de velas foram acesas para marcar o "dia de reflexão", convocado pelo grupo Jacarandá, integrado por ativistas sociais e sindicatos.

"Guerra interna"
A última ditadura no Uruguai começou em 27 de junho de 1973, quando o então presidente, Juan María Bordaberry, decretou o fechamento do Parlamento com o apoio das Forças Armadas. Mas a ruptura institucional vinha sendo preparada desde fevereiro daquele ano, quando vários militares se insurgiram contra a nomeação de um ministro.

O clima de "guerra interna" não era novidade.

Historiadores apontam como antecedentes a crise econômica em miados dos anos 1950 e a posterior motivação social e econômica. Foi na década de 1960 que surgiu a guerrilha urbana Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN-T), entre outros grupos de esquerda radical inspirados na Revolução cubana.

As ações de luta armada aumentaram o peso dos militares na vida política em um contexto de Guerra Fria, ao qual o Uruguai, assim como o restante do Cone Sul, não ficou alheio, afirmam analistas.

A abertura democrática da década de 1980 na região também ocorreu no Uruguai. Após uma saída combinada com os militares, em 1º de março de 1985 o país encerrou um período obscuro de sua História, que deixou dezenas de milhares de opositores presos, proscritos e exilados.

Oficialmente, são contabilizadas 197 pessoas desaparecidas em ações atribuídas ao Estado uruguaio entre 1968 e 1985, a grande maioria presa na Argentina no âmbito do Plano Condor de colaboração entre os regimes militares da região.

Junho intenso
No Uruguai foram identificados cinco presos desaparecidos enterrados em edifícios militares. Os restos mortais de uma mulher, encontrados em 6 de junho em uma unidade do Exército, ainda estão sob análise.

Em 2 de junho, dois militares reformados do Uruguai foram condenados a 12 anos de prisão por crimes contra a humanidade, cometidos durante a ditadura contra militantes comunistas.

E no dia 15 de junho, a Justiça argentina emitiu um apelo internacional para que fosse preservado um avião encontrado no território uruguaio, que teria transportado preso durante o Plano Condor.

Em cumprimento a sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos, o Estado uruguaio realizou dois reconhecimentos públicos por sua atuação ilegítima durante o regime.

O ato de mais recente ocorrido ocorreu em 15 de junho, quando ocorreu a execução extrajudicial das três "Muchachas de abril" (Moças de abril), assim como dois desaparecimentos forçados ligados a estes casos. Em 2012, o Estado assumiu sua responsabilidade no desaparecimento, em 1976, da argentina María Claudia García, nora do poeta Juan Gelman.

Bordaberry, que em 1976 foi substituído por presidentes militares, morreu em 2011. Ele estava em prisão domiciliar desde 2007, processado por violação dos direitos humanos.

Gregorio "Goyo" Álvarez, o último militar que governou o Uruguai (1981-85), morreu em 2016, enquanto cumpria pena de 25 anos de prisão por homicídio de 37 pessoas no âmbito do Plano Condor. Ele foi um dos que entrou no Salão dos Passos Perdidos há 50 anos.

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