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TRATAMENTO

Vacina contra o câncer de rim: nove pacientes seguem livres da doença 3 anos após testes

Descoberta aumenta a esperança de que uma vacina antitumoral seja viável para o tratamento de pacientes com câncer renal com alto risco de recorrência

Vacina contra o câncer de rim: nove pacientes seguem livres da doença 3 anos após testesVacina contra o câncer de rim: nove pacientes seguem livres da doença 3 anos após testes - Foto: Freepik

Num pequeno ensaio clínico com nove pacientes com câncer renal em estádio III e IV, uma vacina personalizada gerou uma resposta imunitária robusta, de acordo com os resultados de um estudo publicado recentemente na revista científica Nature. Embora os resultados ainda precisem ser replicados em estudos maiores, essas descobertas aumentam a esperança de que uma vacina antitumoral seja viável para o tratamento de pacientes com câncer renal com alto risco de recorrência.

"Estamos muito entusiasmados com estes resultados, que mostram uma resposta tão positiva em todos os nove pacientes com cancro renal", diz o coautor sênior e coinvestigador principal Toni Choueiri, diretor da Faculdade de Medicina de Harvard Jerome e Nancy Kohlberg e diretor do Lank Center para Câncer Geniturinário no Dana-Farber, em comunicado.

O estudo foi liderado por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Harvard no Dana-Farber Cancer Institute. Como esse foi um ensaio clínico de fase 1, concebido para determinar a segurança, viabilidade e dosagem ideal de um tratamento, foram incluídos apenas nove pacientes.

Todos os participantes tinham carcinoma de células renais de células claras (CCRCC) e foram considerados de alto risco de recorrência devido ao estágio avançado da doença. Destes, dois tinham doença metastática e sete tinham doença avançada e de alto grau. Esse é o tipo mais comum de câncer de rim, representando cerca de 70% a 90% dos casos.

As vacinas, concebidas para treinar o sistema imunitário do corpo para reconhecer e destruir o câncer, foram administradas após a cirurgia para eliminar quaisquer células tumorais remanescentes. No momento em que os investigadores interromperam a coleta de dados, todos os pacientes permaneciam livres de câncer durante uma média de 40 meses após a cirurgia.

"Estamos entusiasmados em relatar esses resultados", diz a coautora sênior Catherine Wu, professora de medicina de Harvard e chefe da Divisão de Transplante de Células-Tronco e Terapias Celulares da Dana-Farber e membro do instituto Broad, que desenvolveu a tecnologia de vacina NeoVax usada para criar as vacinas personalizadas contra o câncer para este ensaio.

O tratamento padrão para pacientes nos estágios III e IV da doença é a cirurgia para remoção do tumor, que pode ser seguida de imunoterapia com um medicamento chamado pembrolizumabe para reduzir o risco de recidiva. No entanto, cerca de dois terços dos pacientes ainda podem apresentar recorrência do câncer, o que os deixa com opções de tratamento limitadas.

"Pacientes com câncer renal em estágio III ou IV apresentam alto risco de recorrência", pontua Choueiri. "As ferramentas de que dispomos para reduzir esse risco não são perfeitas e estamos incansavelmente à procura de mais."

No estudo atual, os pesquisadores trataram todos os pacientes com a vacina personalizada contra o câncer após a cirurgia. Cinco deles também receberam o medicamento ipilimumabe, uma forma de imunoterapia contra o câncer.

Como atua a vacina
As vacinas foram individualizadas para cada paciente, utilizando material genético do tumor como forma de ensinar o sistema imunológico a detectar e destruir as células cancerígenas.

Para fazer isso, os cientistas extraíram pequenos fragmentos de proteínas mutantes – chamadas neoantígenos – do tumor renal de cada paciente. Esses neoantígenos são a assinatura molecular de um tumor – altamente específicos do câncer e não encontrados em nenhuma outra célula do corpo.

A equipe também usou algoritmos preditivos para avaliar quais dos neoantígenos tinham maior probabilidade de induzir uma resposta imunológica. A vacina foi então preparada e administrada ao paciente em uma série de doses iniciais seguidas de dois reforços.

Alguns pacientes apresentaram reações locais no local da injeção e alguns desenvolveram sintomas semelhantes aos da gripe. Não houve outros efeitos colaterais mais graves.

"Os neoantígenos visados por esta vacina ajudam a direcionar as respostas imunológicas às células cancerígenas, com o objetivo de melhorar a eficácia no alvo e reduzir a toxicidade imunológica fora do alvo", explica Choueiri.

Quando a equipe iniciou este estudo há oito anos, não estava claro se esta abordagem poderia funcionar no câncer renal. A abordagem já se tinha mostrado promissora no melanoma, uma forma mortal de câncer da pele que tem muito mais mutações e, portanto, muitos neoantígenos possíveis.

Mas o câncer renal é uma doença com menos mutações e, portanto, menos alvos para utilização na vacina. Era importante que os investigadores aprendessem o máximo possível com este estudo de fase inicial sobre como a vacina influencia a resposta imunológica ao tumor.

Através de uma série de análises, a equipe descobriu que a vacina induziu uma resposta imunológica em três semanas. O número de células T induzidas pela vacina aumentou 166 vezes, em média, e essas células T protetoras permaneceram no corpo em níveis elevados por até três anos. Experimentos laboratoriais em células tumorais renais humanas também mostraram que as células T induzidas pela vacina eram ativas contra as células tumorais do próprio paciente.

"Observamos uma expansão rápida, substancial e durável de novos clones de células T relacionados à vacina", conta Patrick Ott, professor associado da Escola de Medicina de Harvard e diretor clínico do Centro de Melanoma e Oncologia Médica da Dana-Farber.

"Estes resultados apoiam a viabilidade da criação de uma vacina neoantigênica personalizada altamente imunogênica num tumor com menor carga de mutação e são encorajadores, embora sejam necessários estudos em maior escala para compreender completamente a eficácia clínica desta abordagem."

Um estudo multicêntrico internacional randomizado em andamento usando uma vacina contra o câncer personalizada direcionada a neoantígenos semelhante será administrada em combinação com imunoterapia pembrolizumabe.

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