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Vacina inédita para chikungunya será produzida no Butantan e deve ser submetida à Anvisa

Imunizante recebeu o aval da agência americana nesta semana, a primeira aprovação para uma dose contra a doença no mundo

O mosquito Aedes aegypti, transmissor dos vírus de dengue, chikungunya e zika O mosquito Aedes aegypti, transmissor dos vírus de dengue, chikungunya e zika  - Foto: Agência O Globo

A vacina inédita para a chikungunya aprovada nos Estados Unidos, nessa quinta-feira (9), poderá ser produzida no Instituto Butantan, em São Paulo. A instituição e o laboratório responsável pelo imunizante, a franco-austríaca Valneva, têm um acordo de transferência de tecnologia desde 2020.

A parceria prevê a condução de ensaios clínicos pelo Butantan, além de pagamentos de royalties sobre as vendas e por marcos do desenvolvimento do produto. Em troca, o instituto brasileiro poderá desenvolver, fabricar e comercializar o imunizante, chamado de IXCHIQ.

No momento, por exemplo, o Butantan está realizando um teste clínico de fase 3 da vacina com adolescentes, cujos resultados podem ampliar o grupo etário elegível. Nos EUA, o aval da Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora americana, foi para adultos acima de 18 anos.

Os testes envolvem 750 adolescentes de 12 a 17 anos que residem em áreas endêmicas nas cidades de São Paulo (SP), São José do Rio Preto (SP), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG), Laranjeiras (SE), Recife (PE), Manaus (AM), Campo Grande (MS) e Boa Vista (RR).

Em nota, o instituto paulista diz que a previsão é submeter o pedido de aprovação da dose à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no primeiro semestre do próximo ano. Para o Butantan, a autorização nos EUA “demonstra o potencial do imunizante e fortalece a possibilidade de sua futura liberação no Brasil”.

Para dar o sinal verde, o FDA analisou dois ensaios clínicos feitos na América do Norte, com cerca de 4,5 mil participantes, em que foi avaliada a dose única do imunizante. Em um deles, publicado na revista científica The Lancet, 98,9% dos voluntários desenvolveram anticorpos contra a doença nos primeiros 28 dias após a imunização.

A longo prazo, no acompanhamento de seis meses, o percentual caiu levemente, para 96,3%, mas permaneceu elevado. Os efeitos colaterais mais comumente relatados pelos vacinados foram dor de cabeça, fadiga, dores musculares, dores nas articulações, febre, náusea e sensibilidade no local da injeção.

“A infecção pelo vírus chikungunya pode levar a doenças graves e problemas de saúde prolongados, especialmente para adultos mais velhos e indivíduos com condições médicas subjacentes. A aprovação de hoje atende a uma necessidade médica não atendida e é um avanço importante na prevenção de uma doença potencialmente debilitante com opções de tratamento limitadas”, diz Peter Marks, diretor do Centro de Avaliação e Pesquisa Biológica da FDA, em nota.

Em entrevista ao Globo em maio, o diretor do Butantan, infectologista Esper Kallás, já havia mencionado a alta expectativa em relação ao imunizante. No ano passado, o instituto inaugurou fábrica, inicialmente para ser utilizada para produção da CoronaVac, vacina contra a Covid-19.

Porém, com a queda na demanda, ele esclareceu que as discussões são para que o uso do novo estabelecimento seja direcionado para novas vacinas em desenvolvimento pela instituição, ou em parceria com ela, como a para chikungunya e para dengue.

Em nota, ele comemorou a aprovação pela autoridade sanitária americana: “É uma ótima notícia para todos. Estamos cada vez mais próximos de oferecer uma vacina contra chikungunya para a população. O Butantan tem muito orgulho de participar ativamente deste processo de desenvolvimento”.

A chikungunya é uma arbovirose transmitida pelos mosquitos Aegypti e Aedes albopictus, que também disseminam o patógeno causador da zika e da dengue. A doença pode ser assintomática ou se manifestar por meio de dores intensas nas articulações de pés e mãos, além de dor de cabeça, dor muscular e manchas vermelhas na pele.

Segundo o Butantan, o principal impacto da chikungunya são as sequelas pós-infecção, com as dores articulares podendo se estabelecer de forma crônica. “Muitos desses casos ocorrem em pessoas jovens, que não conseguem mais nem trabalhar. Então essa arbovirose acaba tendo consequências não só na saúde, mas na economia”, diz a diretora médica do Butantan, Fernanda Boulos.

Hoje, a principal forma de prevenção é pelo controle dos mosquitos que transmitem a doença. Medidas eficazes que podem ser tomadas pela população envolvem esvaziar e limpar frequentemente recipientes com água parada, como vasos de plantas, baldes, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem uso e sem manutenção, e descartar adequadamente o lixo.

Além disso, novas iniciativas têm crescido no Brasil, como o método Wolbachia, por meio de uma parceria do World Mosquito Program (WMP) com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A estratégia envolve a liberação de mosquitos que carregam uma bactéria chamada Wolbachia, que não causa danos aos artrópodes ou à população, mas impede os vírus das doenças de serem carregados e transmitidos.

Segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde sobre arboviroses, divulgado no final de outubro, o Brasil registrou 143.739 casos prováveis de chikungunya até agora em 2023, número 41% que o observado no mesmo período de 2021. Em relação às mortes, foram 82 confirmações, 6,8% a menos do que o do ano passado.

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