Vacina: saiba o que cada dose protege
Graças a vacinação massiva da população diversas doenças comuns no Brasil e no mundo deixaram de ser um problema de saúde pública. Poliomielite, rubéola e varíola são apenas alguns exemplos de enfermidades que as novas gerações só escutam falar em histórias. Se você tem menos de 30 anos certamente nunca viu alguém com os sintomas desses males. Apesar de parecerem distantes, eles ameaçam voltar a assombrar os brasileiros, que por não terem mais contato com doenças eliminadas no país acabam negligenciando a imunização.
No Brasil, o Calendário Nacional de Vacinação contempla não só as crianças, mas também adolescentes, adultos, idosos, gestantes e povos indígenas. De acordo com o site do Ministério da Saúde, ao todo, são disponibilizadas 19 vacinas para mais de 20 doenças, cuja proteção inicia ainda nos recém-nascidos, podendo se estender por toda a vida. Os imunizantes são fornecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e estão disponíveis, em sua maioria, de forma rotineira nos postos de saúde.
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A cirurgiã-dentista Juliana Peixoto, 31 anos, e o jornalista Carlos Eduardo Mélo, 35, fazem questão de manter sempre atualizadas a caderneta de vacinas dos filhos Murilo, quatro meses, e Vinicius, 3 anos. "Sempre que tem campanhas, como a da gripe e do sarampo, participamos. Me sinto segura, pois as vacinas passam por todo um protocolo científico. Nunca duvidei da qualidade e eficácia que elas têm", afirma a mãe dos meninos.
Carlos Eduardo conta que na infância os pais sempre o levavam para vacinar. "Lembro que eles marcavam com meus tios e tias para levar meus primos juntos", comenta. Para o jornalista, a atitude dos pais influencia até hoje na confiança e relação que ele tem com os imunizantes. "Além disso, eu quase me formei em biologia e sempre levei esse lado da saúde a sério", afirma, acrescentando que nem mesmo a quarentena durante a pandemia impediu de vacinar os filhos.
De acordo com o pesquisador do departamento de Virologia e Terapia Experimental da Fiocruz Pernambuco, Rafael Dhália, vacinas são substâncias que são inoculadas em nosso organismo, geralmente por injeção ou via oral, com a capacidade de induzir nosso sistema imunológico a produzir uma resposta específica contra determinado micro-organismo patogênico. "Elas induzem uma resposta primária que é capaz de formar células de memória. Assim, ao entrar em contato com o micro-organismo contra o qual foi vacinado o organismo rapidamente impede a infecção".
Logo ao nascer, os meninos e meninas devem tomar a vacina BCG, que protege contra formas graves da tuberculose, e o imunizante contra a hepatite B. Aos 2, 3, 4, 5 e 6 meses de vida, as crianças também precisam ser levadas aos postos de saúde para serem protegidas contra poliomielite, rotavírus, meningite, pneumonia, tétano, coqueluche. Entre os 12 meses e os 4 anos são feitos alguns reforços vacinais, além da vacina tríplice viral (sarampo, rubéola, caxumba) aos 12 meses, com reforço aos 15 meses, e contra a hepatite A, aos 15 meses.
Entre os 9 e 14 anos, para as garotas, e entre os 11 e 14 anos, para os garotos, é feita a vacinação contra o HPV (vírus do papiloma humano), que previne contra cânceres de colo do útero e pênis. A imunização é feita em duas doses, com um intervalo de seis meses entre elas. Também entre os 11 e 12 anos, para ambos os sexos, deve ser feito uma dose da vacina meningocócica ACWY (conjugada).
Dos 10 aos 19 ainda pode ser feito o esquema contra a hepatite B, em 3 doses (a segunda é feita um mês após a primeira; a terceira deve ser aplicada seis meses após a primeira), caso não tenha sido feito na infância. Já a dT (difteria e tétano) são em três doses para não vacinados, além de um reforço a cada dez anos Adultos e idosos também precisam se proteger (veja o infográfico).
Alguns argumentos dos grupos antivacinas é que elas podem causar efeitos colaterais. No entanto, o chefe do Serviço de Infectologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE), Paulo Sergio Ramos de Araújo, explica que todos os imunizantes podem produzir eventos adversos, que via de regra são leves e não trazem qualquer tipo de dano a saúde a longo prazo. "Eventos adversos graves são raros e muitas vezes numa proporção maior que um caso para cada um milhão de vacinados", afirma.
Gestão tripartite
A superintendente de Imunizações e Doenças Imunopreveníveis da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), Ana Catarina de Melo, explica que o Programa Nacional de Imunização do Brasil (PNI) tem uma gestão tripartite na qual o Ministério da Saúde é responsável pela aquisição dos imunobiológicos, o Estado pelos insumos, como seringas, e o município tem o papel de vacinar. O Estado também coordena as campanhas e presta assessoria, treinamento e orientação aos municípios.
Para Ana Catarina o grande desafio é fazer a população compreender a importância da vacinação e que ela deve ser vista como uma ação de rotina. "É preciso deixar o cartão de vacinas atualizado para evitar a reintrodução de vírus. A população não deve esperar uma grande campanha ou mobilização, pois muitas vezes elas ocorrem porque a gente não consegue manter a cobertura vacinal adequada", comenta.
A superintendente de Imunizações e Doenças Imunopreveníveis da SES-PE alerta ainda que a carteira de vacinação é um documento e devemos preservá-la da mesma forma que o RG e a CNH, por exemplo. No entanto, quem perdeu ou não tem uma não deve usar isto como desculpa para não buscar imunização. Nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) já é possível puxar em um sistema o histórico de alguns pacientes e atualizar a caderneta sem precisar vacinar novamente. Se isto não for possível é feito um novo cartão e ofertadas as vacinas novamente", diz.
Há alguns anos o PNI brasileiro é referência mundial. "Hoje o melhor programa público de vacinação é o nosso. Temos um escopo de oferta de vacinação que muitos países não têm de forma gratuita, mas precisamos no sentido de identificar outras alternativas de realizar a imunização. "Geralmente, as pessoas trabalham e estudam no mesmo horário que os postos estão abertos. Por isto, vacinação de adolescente e adulto dá certo quando vamos até onde eles estão, nas escolas, universidades ou locais de trabalho", afirma Ana Catarina.
Para a superintendente a sociedade deve compreender que não é só função do poder público a melhoria das coberturas vacinais. "É um conjunto de fatores. O serviço tem que funcionar adequadamente, mas a população precisa ter sua responsabilidade de procurar o atendimento. A partir do momento que mantemos altas coberturas vacinais garantimos a não circulação dos vírus e uma população mais saudável", ressalta.
Fake news
Uma pesquisa recentemente divulgada pelo PoderData aponta que em cerca de quatro meses caiu de 85% para 63% o percentual da população que “com certeza” tomaria uma vacina contra a Covid-19. O levantamento foi feito com 2,5 mil pessoas em 488 cidades, entre os dias 6 e 8 de julho e 26 e 28 de outubro deste ano. Para o pesquisador do departamento de Virologia e Terapia Experimental da Fiocruz Pernambuco, Rafael Dhália, o resultado pode ser um reflexo do poder das fake news.
"Com certeza essas informações desencontradas que são repassadas nas redes sociais aumentaram e muito as desconfianças e incertezas com relação a vacinação de Covid-19. Temos que tomar cuidado com isso porque em uma pandemia ninguém está seguro. É importante a gente checar a veracidade dos fatos antes de compartilhar", comenta. Para evitar cair em armadilhas é possível recorrer ao Canal Saúde sem Fake News do Ministério da Saúde. É só mandar uma mensagem pelo WhatsApp para o número 61 99289.4640.
Para o chefe do ServiÇo de Infectologia do HC-UFPE, Paulo Sergio Ramos de Araújo, a disseminação de dados falsos é extremamente preocupante. "Alguns especialistas em vacinas reportam que existem mais fake news sobre o tema vacinas, repercutindo de forma negativa, do que informações positivas. De forma que precisamos promover uma agenda positiva que possa conscientizar a opinião pública sobre a relevância do tema", argumenta.
Primeira vacina
A vacina antivariólica é a primeira que se tem registro no mundo. Ela foi descoberta na Inglaterra, no século 18, a partir da observação do médico inglês Edward Jenner, que desenvolveu a vacina a partir de outra doença, a cowpox (tipo de varíola que acometia as vacas). Ele percebeu que as pessoas que ordenhavam as vacas adquiriam imunidade à varíola humana. Assim, a palavra vacina, que em latim significa “de vaca”, passou a designar todo o inóculo que tem capacidade de produzir anticorpos.
"Vacinas são fundamentais para o controle das doenças transmissíveis. Várias doenças foram sendo controladas após sua descoberta. A obrigatoriedade pode ser uma questão política, mas também sanitária. Se você não vacina a população toda, uma pessoa doente pode provocar uma epidemia. A vacina não é uma questão individual, é coletiva. Quem se nega a se imunizar está negando seu papel social de se defender e defender o outro", fala a pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, Tânia Maria Fernandes.