Logo Folha de Pernambuco

Vacinação infantil

Vacinação infantil: medo de efeitos colaterais está entre os motivos para hesitação dos pais

Pesquisa revela que a cobertura vacinal até os 24 meses, para crianças nascidas entre 2017 e 2018, ficou em cerca de 60% no país, muito abaixo da meta do Ministério da Saúde

Vacinação infantilVacinação infantil - Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Dados do Inquérito de Hesitação Vacinal no Brasil, apresentados nesta quinta-feira (15), durante live realizada pelo Educa VE, fruto de uma parceria entre a BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Ministério da Saúde e Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems), apontam que os principais motivos para os pais decidirem não vacinar seus filhos foram a pandemia, com 24,5% das respostas, seguido do medo de reações adversas (24,4%) e da não recomendação da imunização por um médico ou profissional de saúde (9,2%).

O Inquérito de Cobertura Vacinal e Hesitação Vacinal no Brasil é um projeto do Ministério da Saúde para avaliar como está a vacinação infantil no Brasil. A última edição do estudo, cujos resultados preliminares foram apresentados nesta quinta, foi realizado entre 2020 e 2021. Pela primeira vez, a pesquisa não apenas analisou a proporção de crianças que efetivamente completaram o esquema de vacinação recomendado pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) até completarem 24 meses, como buscou entender os fatores que influenciam a hesitação vacinal. Foram incluídas crianças nascidas em 2017 e 2018, residentes em áreas urbanas das capitais brasileiras e do Distrito Federal.

Entre mais de 31 mil entrevistas realizadas, a maioria dos pais ou responsáveis acredita que a vacinação infantil é importante e confia nos imunizantes distribuídos pelo PNI. No entanto, 3% dos entrevistados disseram que não levaram os filhos para receber uma ou mais vacinas.

Embora o índice seja baixo, a epidemiologista Carla Domingues, ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), lembra que o número já é suficiente para impactar negativamente as metas de imunização do Ministério da Saúde, que ficam em torno de 90 a 95%.

Há ainda pais que disseram que levaram seus filhos ao posto, mas enfrentaram dificuldade no processo. As principais adversidades relatadas foram: o fato de o posto de saúde ficar longe da residência ou do local de trabalho, seguido por falta de tempo, horário inadequado de funcionamento do posto e até falta de meio de transporte para chegar ao local.

Houve ainda casos de pais que levaram a criança ao posto de vacinação e mesmo assim, ela não foi vacina. O principal motivo foi a falta de vacina, apontado por 44,1% dos pais; em seguida, apareceram o fato de a sala de vacina estar fechada (10,8%) e contra-indicação da vacinação pelo profissional de saúde (7,9%).

— Essa pesquisa mostra que o modelo de vacinação que funcionou muito bem na década de 1980, não funciona mais e isso provavelmente não está acontecendo só na vacinação. Precisamos repensar esse modelo para elevar a taxa de cobertura vacinal— diz Domingues.

A necessidade de campanhas de comunicação para levar informação qualificada aos pais sobre a segurança e eficácia das vacinação, melhorias na questão operacional das unidades de saúde e na educação dos profissionais sobre a importância da vacinação foram citados como os principais pontos a serem trabalhados para aumentar a adesão à vacinação infantil.

O Inquérito de Cobertura Vacinal mostrou que apenas 60% dessas crianças completaram o esquema de vacinação recomendado pelo Ministério da Saúde até os dois anos de idade. Nesse período da vida, as crianças devem receber de 22 a 23 doses de diferentes vacinas. A diferença no número depende da região de residência da família. Em alguns locais, a vacinação contra febre amarela é obrigatória, enquanto em outros, não.

Diversos estudos publicados nos últimos anos apontam para sucessivas quedas nas coberturas vacinais no Brasil, mas, segundo Domingues, esse trabalho é o que traz o dado mais próximo da realidade já que os pesquisadores de fato vão até a casa das crianças e coletam informações das cadernetas de vacinação.

— Em comparação com 2005, quando foi feito o último Inquérito de Cobertura Vacinal, há diminuição da cobertura vacinal. Em nenhuma vacina, atingimos a meta estabelecida pelo PNI — alerta a epidemiologista.

A maior cobertura vacinal foi identificada entre famílias com renda familiar entre R$ 3.001 e R$ 8.000 e 13 a 15 anos de escolaridade. Já a menor está entre aquelas que recebem até R$ 1.000 mensais e têm até oito anos de estudo.

A pesquisa revelou que 16% dos brasileiros consideram desnecessário aplicar nos filhos vacinas contra doenças queque já estão controladas no país. O problema é que o principal risco da queda da cobertura vacinal é justamente o retorno de doenças que eram consideradas eliminadas ou controladas no país, como a poliomielite. Basta lembrar do sarampo. O Brasil recebeu o certificado de eliminação da doença em 2016, mas três anos depois, o reconhecimento foi revogado porque o vírus voltou a circular no país, causando surto em diversos estados, devido à baixa cobertura vacinal.

A cobertura para a terceira dose da vacina de pólio, por exemplo, ficou em 88%. Já a taxa da segunda dose da tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, ficou em apenas 82%. Essa vacina, em conjunto com o primeiro reforço da vacina meningocócica C, foi a que teve menor cobertura no período avaliado. Já as de maior adesão foram a primeira dose da vacina pentavalente, que protege contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e contra a bactéria haemophilus influenza tipo; da pólio, pneumocócica e meningocócica C.

O estudo revela que a adesão à vacinação infantil vai caindo ao longo do tempo. As coberturas são maiores para vacinas aplicadas no nascimento e diminuem a medida que a criança vai crescendo.

De acordo com os pesquisadores envolvidos no estudo, esses dados são importantes para subsidiar a definição de estratégias e corrigir essa queda da cobertura vacinal.

Veja também

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos
Ucrânia

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível
Gaza

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível

Newsletter