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Vacinação salta 110% em janeiro na rede privada; clínicas já registram falta do imunizante da dengue

Farmacêutica anunciou restrição do repasse para o mercado privado para focar no SUS

VacinaçãoVacinação - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Segundo novos dados da Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVA), repassados com exclusividade ao GLOBO, a busca pela vacina contra a dengue Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda, explodiu no Brasil.

Foram 4.923 doses aplicadas na rede privada em janeiro, um salto de 110,3% em relação ao número registrado em dezembro: 2.341. Ao todo, foram 13.290 de aplicações, entre primeiras e segundas doses, desde que o imunizante chegou às clínicas do Brasil, em julho do ano passado.

A ABCVA destaca, no entanto, que unidades já relatam não ter mais a vacina em estoque. “É importante ressaltar que algumas clínicas privadas já relataram a falta do imunizante em algumas regiões devido à alta procura”, afirma a entidade em comunicado.

No grupo Fleury, por exemplo, que engloba marcas como Labs a+, Clínica Felippe Mattoso e LAFE em 12 estados e no Distrito Federal, já não há mais vacinas disponíveis para iniciar o esquema vacinal em algumas unidades, segundo nota enviada ao Globo. O estoque está limitado para garantir a segunda aplicação.

O motivo é a priorização por parte da farmacêutica da campanha que terá início no Sistema Único de Saúde (SUS), já que há um quantitativo limitado de doses que a Takeda consegue produzir. Nesta segunda-feira, o laboratório emitiu um comunicado em que afirma que o fornecimento na rede privada será restringido para apenas para o necessário para que aqueles que receberam a primeira dose completem o esquema vacinal.

A ABCVAC diz que entende a complexidade da situação, mas pede soluções rápidas para garantir o abastecimento adequado. “A ABCVAC compreende e logicamente apoia as ações do Programa Nacional de Imunizações (PNI), mas também ressaltamos o papel fundamental do setor privado complementando o setor público. Expressamos nossa preocupação diante da possível falta da vacina nas clínicas particulares e especialmente em relação às faixas etárias não cobertas pelo setor público” diz Fabiana Funk, presidente do Conselho da ABCVAC.

“Observamos que a vacinação no setor privado desempenha um papel relevante, atendendo a faixa de 4 a 60 anos que, se não considerada, poderá gerar impactos no sistema de saúde como um todo. Por isso, esperamos que em breve sejam encontradas soluções eficazes que atendam à crescente demanda também para o setor privado”, complementa Fabiana.

Além do impacto no setor privado, a Takeda disse que não vai firmar novos contratos separados para estados e municípios, mas que honrará aqueles acordados antes da incorporação da Qdenga no SUS.

Quem poderá se vacinar no SUS?
O Ministério da Saúde anunciou recentemente que 521 cidades receberão unidades da vacina para a campanha de 2024 na rede pública, primeira do mundo com o imunizante, prevista para ter início neste mês. Devido ao quantitativo limitado de doses, foram priorizados jovens de 10 a 14 anos residentes de municípios com mais de 100 mil habitantes e alta transmissão de dengue.

Devido às limitações produtivas da Takeda, o acordo com o Ministério da Saúde contempla a entrega de somente 6,6 milhões de doses para a aplicação na campanha do SUS neste ano, o que alcança 3,3 milhões de brasileiros. Para 2025, estão acordadas mais 9 milhões de unidades, suficiente para proteger outras 4,5 milhões de pessoas.

No entanto, com a alta demanda frente ao avanço da dengue, o laboratório diz que está “buscando todas as soluções possíveis para aumentar o número de doses disponíveis no país” e que está “fortemente comprometida em buscar parcerias com laboratórios públicos nacionais para acelerar a capacidade de produção da vacina” no Brasil.

Segundo o último informe da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 243.720 casos de dengue nas quatro primeiras semanas epidemiológicas de 2024, o que revela uma alta de 273% em relação ao ano passado.

Além disso, a Takeda tem um plano estratégico para que o fornecimento global da Qdenga chegue a 100 milhões de doses por ano até 2030. Para isso, está construindo um novo centro de produção de vacinas em Singen, na Alemanha, que deve ser lançado no ano que vem.

Na rede privada, a dose é encontrada por valores que vão de R$ 350 a R$ 490 a dose, segundo levantamento do GLOBO. Como o esquema envolve duas aplicações, com um intervalo de três meses entre elas, o preço final fica de R$ 700 a R$ 980.

A Qdenga foi aprovada pela Anvisa em março de 2023 para pessoas entre 4 e 60 anos. Nos estudos clínicos, o esquema de duas doses, aplicadas num intervalo de três meses entre elas, demonstrou uma eficácia geral de 80,2% para evitar contaminações, e de 90,4% para prevenir casos graves.

Recentemente, o Instituto Butantan publicou dados da última etapa dos estudos do seu imunizante, aplicado em dose única e que poderá ser produzido no Brasil. A eficácia foi de 79,6% para proteger contra a infecção ao longo de um período de dois anos, semelhante à da Qdenga.

A expectativa do Butantan é submeter o pedido de aprovação para uso à Anvisa neste ano para, se receber o sinal verde, a dose ser disponibilizada a partir de 2025.

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