CLERO

Vaticano defende dignidade humana em documento que aborda questões como aborto e sexualidade

Igreja recorda que as pessoas LGBTQIAP+ devem ser respeitadas e denuncia que "em alguns lugares, muitas são presas, torturadas e até privadas do bem da vida apenas por sua orientação sexual

Papa Francisco na Basílica de São Pedro, no VaticanoPapa Francisco na Basílica de São Pedro, no Vaticano - Foto: Filippo Monteforte /AFP

O Vaticano publicou, nesta segunda-feira (8), um novo texto dedicado ao respeito pela "dignidade humana", no qual denuncia o aborto e a teoria de gênero e defende os direitos dos migrantes e das pessoas LGBTQIAP+.

O documento, denominado "Dignitas infinita" ("Uma dignidade infinita"), tem quase 20 páginas e foi aprovado pelo papa Francisco. Pode ser lido como uma forma de apaziguar as divisões dentro da Igreja, quatro meses após o escândalo em torno da instauração de bênçãos para casais homoafetivos, especialmente entre os mais conservadores.

O documento aborda os temas-chave do pontificado de Jorge Bergoglio, como a guerra, os direitos dos migrantes, a pobreza, a ecologia e a justiça social, além de outras questões bioéticas ou relacionadas à violência na Internet.

O texto, resultado de cinco anos de trabalho, foi publicado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, o poderoso órgão da Santa Sé encarregado do dogma que lista casos de "violações concretas e graves" da dignidade.

Segundo a publicação, a gestação por barriga de aluguel entra "em total contradição com a dignidade fundamental de cada ser humano" e "a aceitação do aborto na mentalidade, nos costumes e na própria lei" reflete "uma crise de moralidade muito perigosa".

Pela primeira vez de forma tão específica, o Vaticano denuncia veementemente a "teoria de gênero", que Francisco chama de "colonização ideológica muito perigosa".

"Qualquer intervenção de mudança de sexo corre o risco, de forma geral, de ameaçar a dignidade única que uma pessoa recebe no momento da concepção", afirma o documento.

Ao mesmo tempo, a Igreja recorda que as pessoas LGBTQIAP+ devem ser respeitadas e denuncia que "em alguns lugares, muitas são presas, torturadas e até privadas do bem da vida apenas por sua orientação sexual".

Uma parte também é dedicada à violência de gênero, afirmando que "nunca será suficientemente condenada".

"Pouco se fala sobre esta violação dos direitos humanos (…) e é doloroso que alguns católicos defendam estas leis injustas", lamentou em coletiva de imprensa o prefeito do Dicastério, o cardeal argentino Victor Manuel Fernández, próximo do papa e signatário do texto.

Questionado sobre a doutrina da Igreja, que considera sempre os atos homossexuais como "intrinsecamente desordenados", considerou que "poderiam encontrar outras palavras mais adequadas", ao mesmo tempo que se considerou a favor da descriminalização da homossexualidade.

Desde a sua eleição em 2013, o papa Francisco tem insistido na importância de uma Igreja aberta a todos, incluindo os fiéis LGBTQIAP+, mas seus esforços encontraram forte resistência.

Perante a imprensa, o monsenhor Fernández respondeu aos crescentes ataques que o acusam de trair a doutrina católica.

Veja também

Maduro diz que González Urrutia lhe pediu 'clemência' para sair da Venezuela
Venezuela

Maduro diz que González Urrutia lhe pediu 'clemência' para sair da Venezuela

'Estamos tentando evitar o fim do mundo': Flávio Dino defende gastos com incêndios
Queimadas

'Estamos tentando evitar o fim do mundo': Flávio Dino defende gastos com incêndios

Newsletter