mundo

Vaticano se justifica após Ucrânia criticar declarações do Papa exaltando herança da "grande Rússia"

Francisco usou o termo ao falar, por videoconferência, com jovens católicos reunidos em São Petersburgo; termo foi criticado por autoridades ucranianas, que o consideram parte da retórica russa

Papa Francisco Papa Francisco  - Foto: Tiziana Fabi/AFP

O Vaticano prestou esclarecimentos, nesta terça-feira (29), após o Papa Francisco exaltar a herança da "grande Rússia" em um discurso a jovens católicos na segunda-feira. O uso do termo causou um mal-estar com a Ucrânia, que acusou o pontífice da Igreja Católica de utilizar um termo que reforça as pretensões imperialistas de Moscou sobre o território de Kiev.

"[Vocês] São filhos da grande Rússia, de grandes santos, de reis, de Pedro, o Grande, de Catarina II, de um povo russo de grande cultura e de grande humanidade" declarou o Papa, em videoconferência com um grupo de jovens reunidos em uma igreja de São Petersburgo, na segunda-feira. "Nunca se esqueçam deste grande legado. Vocês são herdeiros da grande Mãe Rússia, sigam em frente com isso", acrescentou, de acordo com o vídeo publicado online".

A declaração de Francisco gerou incomodo em autoridades ucranianas, que classificaram a linguagem utilizada pelo pontífice como "muito infeliz", por reproduzir o discurso adotado por Moscou no início da invasão — Putin afirmou reiteradamente que o Estado ucraniano foi criado por uma concessão soviética, que classificou como um erro, negando-se a reconhecer a história antiga do país vizinho.

"É com este tipo de propaganda imperialista (...) que o Kremlin justifica o assassinato de milhares de ucranianos e a destruição de centenas de cidades e aldeias ucranianas" disse Oleg Nikolenko, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, na noite de segunda-feira. "É muito lamentável que as ideias russas de grande potência, que são, de fato, a causa da agressividade crônica da Rússia, saiam consciente ou inconscientemente da boca do Papa, cuja missão, na nossa opinião, é justamente abrir os olhos da juventude russa sobre o curso destrutivo da atual liderança russa".

O chefe da Igreja Greco-Católica da Ucrânia denunciou os comentários como um endosso ao “nacionalismo e imperialismo da Rússia que hoje causou a guerra na Ucrânia – uma guerra que traz morte e destruição ao nosso povo todos os dias”.

Após a repercussão, o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, veio a público em defesa do Papa. De acordo com Bruni, os comentários espontâneos de Francisco não tinham como objetivo apoiar a causa russa de nenhuma forma.

"O Papa pretendia encorajar os jovens a preservar e promover tudo o que há de positivo na grande herança cultural e espiritual russa, e certamente não exaltar a lógica imperialista e as personalidades do governo" declarou Bruni.

O papa Francisco faz regularmente apelos à paz na Ucrânia, embora nos primeiros meses após a invasão russa tenha recebido críticas por não ter apontado Moscou como o agressor. No início deste ano, ele nomeou um cardeal de alto escalão para tentar mediar a paz, que desde então visitou Moscou e Kiev.

Veja também

Projeto de inclusão do IFPE conquista 1º lugar estadual do Prêmio IEL de Talentos
Inclusão

Projeto de inclusão do IFPE conquista 1º lugar estadual do Prêmio IEL de Talentos

Israel confirma morte de dois soldados em combates perto da fronteira com o Líbano
ORIENTE MÉDIO

Israel confirma morte de dois soldados em combates perto da fronteira com o Líbano

Newsletter