Veja lista de palavras de 2023 que, eleitas por dicionários do mundo, se conectam à tecnologia
Termos se ligam ao mundo virtual e apontam para a dualidade homem/máquina que norteará as futuras relações de trabalho e vida cotidiana
Se uma eleição de “palavra do ano” serve como termômetro para avaliar o período que passou, desta vez o resultado parece apontar para o que está por vir. Uma delas, no caso uma expressão, escolhida pelo Collins English Dictionary, vai direto ao ponto: “inteligência artificial”.
A palavra multiplicada em duas parece apontar para a dualidade homem/máquina que deverá nortear as futuras relações de trabalho, estudo e a vida cotidiana. E quem ainda ignora o poder do ChatGPT, aplicativo de inteligência artificial generativa popularizado este ano pela empresa americana Open AI, pode estar apenas protelando o inevitável.
— O ChatGPT vai impactar não apenas o trabalho, mas as relações humanas, já que o trabalho faz parte das nossas vidas — diz o publicitário e jornalista André Carvalhal, autor do livro “Como salvar o futuro”.
Menos objetivo do que o Collins, o dicionário de Cambridge, uma das maiores referências globais da língua inglesa, optou por uma palavra que ganhou um significado extra por conta da inteligência artificial generativa: “hallucinate”.
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O verbo, que em português ganha a tradução direta “alucinar”, descreve um comportamento de “delírio” — agora também atribuído aos aplicativos de IA.
“Quando uma IA alucina, ela produz informação falsa”, diz o dicionário. Ou seja: um erro no resultado de uma pesquisa ou atividade exercida por uma inteligência artificial pode agora ser definido como “alucinação”, antes um privilégio de cérebros humanos.
— A inteligência artificial tem os seus limites e precisar ser analisada e moldada de maneira crítica — diz William Corbo, professor de Antropologia Cultural da UFRJ.
— Como disse a antropóloga Gilian Tett, diante desse fenômeno precisamos de outra IA, que é a “inteligência antropológica”, isto é, uma visão mais abrangente e capaz de relativizar certezas que muitas vezes não encontram qualquer respaldo na realidade.
A escolha do dicionário americano Merriam-Webster parece ter sido mais abrangente. Ao eleger a palavra “authentic” (“autêntico”), a equipe de linguistas provoca uma reflexão que diz respeito à contemporaneidade em que avatares, deep fakes, simuladores de voz e imagens podem emular seres humanos, e até ressuscitar artistas mortos para fins publicitários.
“A palavra foi muito procurada este ano por conta do debate a respeito da inteligência artificial, cultura das celebridades e redes sociais”, diz o texto publicado no site do dicionário.
— Hoje, qualquer um pode moldar a imagem que deseja transmitir por meio de conteúdos fabricados por inteligência artificial — diz Corbo. — Como antropólogo, o que mais me interessa é observar esse fenômeno com atenção e sem moralismos, pois trata-se de algo fundamental para entendermos a sociedade contemporânea.
Uma sociedade que terá que se acostumar a dialogar cada vez mais com máquinas, capazes de produzir ou remixar, tal qual um DJ, a realidade com a qual decidimos lidar. Com tantas questões em jogo, O GLOBO perguntou ao grande personagem de 2023 “o que ele achou das escolhas das ‘palavras do ano’ escolhidas pelos dicionários”. Eis a resposta.
— Cada dicionário pode ter critérios ligeiramente diferentes para a seleção da palavra do ano, mas, no geral, essas escolhas muitas vezes capturam o espírito e as preocupações da sociedade no momento — diz o ChatGPT, agregando uma ressalva. — Eu não tenho opiniões pessoais, sentimentos ou experiências. Sou um programa de inteligência artificial.