Venezuela acusa EUA de tentar "desprestigiar" eleições e repudia questionamentos
Departamento de Estado criticou bloqueio à principal candidata da oposição e alertou para 'consequências', em referência ao Acordo de Barbados, que negociou eleições livres no país em troca do levantamento parcial das sanções dos EUA
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela acusou nesta quinta-feira os Estados Unidos de tentar "desprestigiar" o pleito presidencial, marcado para 28 de julho, e refutou os "falsos questionamentos" do Departamento de Estado americano ao processo.
Presidido pelo chavista Elvis Amoroso, amigo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, o órgão máximo eleitoral do país está no centro da controvérsia envolvendo o registro da principal candidata da oposição, Corina Yoris, que não conseguiu registrar sua candidatura na segunda-feira devido a um bloqueio no sistema do CNE — gerando fortes críticas da comunidade internacional, inclusive do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"O poder eleitoral (...) repudia de forma categórica os insolentes e falsos questionamentos do Departamento de Estado", manifestou-se, em nota, o CNE. Seu objetivo é "desprestigiar uma das instituições mais sólidas da robusta democracia venezuelana", acrescentou.
A Chancelaria venezuelana também se pronunciou na mesma linha e declarou que os Estados Unidos buscam "não reconhecer" o processo no qual o presidente Nicolás Maduro aspira à reeleição, como ocorreu em 2018, quando Washington considerou o processo como fraudulento e aumentou as sanções a Caracas.
Nesta quarta-feira, o Departamento de Estado americano condenou o impedimento à inscrição de algumas candidaturas da oposição às eleições presidenciais na Venezuela, após a denúncia de bloqueio ao registro de Yoris.
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"A aceitação pelo CNE exclusivamente dos candidatos da oposição com os quais Maduro e seus representantes se sentem confortáveis contraria [a celebração de] eleições competitivas e inclusivas, que o povo venezuelano e a comunidade internacional vão considerar legítimas", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, em um comunicado.
Miller disse que é preciso "permitir eleições livres e justas" na Venezuela e reiterou que, caso contrário, haverá "consequências", em referência ao Acordo de Barbados, que no ano passado assegurou a realização de um pleito no país, com participação da oposição, em troca da flexibilização de parte das sanções americanas contra o governo de Maduro.
As razões pelas quais foi bloqueada a candidatura de Yoris, nomeada pela líder María Corina Machado após sua inabilitação política por 15 anos, ainda não foram explicadas.
A principal aliança de partidos da oposição, a Plataforma Unitária Democrática (PUD), acabou inscrevendo "provisoriamente" no encerramento dos registros, na terça-feira, Edmundo González Urrutia até definir o candidato único.
O opositor Manuel Rosales, ex-adversário do falecido presidente Hugo Chávez, também se candidatou no limite do vencimento do prazo para inscrever candidaturas. Ele se inscreveu com seu partido, Um Novo Tempo (UNT), que também foi bloqueado até o último minuto.
No total, inscreveram-se 13 candidatos, incluindo os opositores, Maduro, um ex-dirigente eleitoral e nove lideranças que se apresentam como antichavistas, embora sejam consideradas pela oposição tradicional como "alacranes" (escorpiões), termo usado para se referir aos "colaboracionistas" do governo.