Diplomacia

Venezuela e Guiana apoiam diálogo e Maduro quer Brasil à frente de grupo para resolver disputa

Comissão de ministros de Relações Exteriores teve reunião por cerca de sete horas no Itamaraty

No Itamaraty, Venezuela e Guiana discutem crise por disputa de território rico em petróleoNo Itamaraty, Venezuela e Guiana discutem crise por disputa de território rico em petróleo - Foto: Sergio Lima/AFP

Após encontro mediado pelo Brasil, os ministros de Relações Exteriores de Venezuela e da Guiana reafirmaram nesta quinta-feira a necessidade de apoiar a diplomacia e o diálogo para tratar da disputa territorial de Essequibo, região rica em petróleo. Depois de quase sete horas de discussão, os dois países reforçaram a declaração de Argyle, assinada em dezembro do ano passado em São Vicente e Granadinas, na qual as duas nações se comprometem a não usar a força.

Já a Venezuela deu o recado de que deseja que a comissão de chanceleres, reunida no Itamaraty e sob a liderança do Brasil, possa ser uma espécie de árbitro para resolver, no futuro, questões relacionadas à fronteira e à soberania do território. Há mais de um século a região pertence à Guiana.

— (Na reunião) repetimos a mensagem do presidente Nicolás Maduro de que essa comissão, no futuro, possa ser transformada em uma instância em que possa ser resolvida qualquer diferença entre Venezuela e Guiana e buscar uma solução mutuamente satisfatória — disse o chanceler da Venezuela, Yván Gil Pinto.

A comissão de ministros das Relações Exteriores, que inclui o brasileiro Mauro Vieira e enviados do secretário-geral das Nações Unidas, bem como da Comunidade do Caribe (Caricom), foi idealizada em dezembro.

Para tratar da questão territorial, a Guiana, por sua vez, continua a defender as leis internacionais e compromissos assinados entre os dois países. No Acordo de Genebra, assinado em 1966, ambas as partes se comprometeram a rediscutir as fronteiras. Se não houvesse consenso, o secretário-geral da UNO indicaria a instância que faria a mediação.

Como não houve avanço, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) foi indicada, mas não é reconhecida pela Venezuela. É lá que a Guiana pretende, desde o início da crise, defender os seus limites territoriais.

— A Guina acredita nas leis internacionais. Acreditamos em resolver todos os problemas de forma pacífica. Estamos confiantes de que, na próxima reunião, vamos avançar na discussão e diálogo, com o compromisso de paz em todo o continente — disse Hugh Todd, chanceler da Guiana.

Já o ministro Mauro Vieira afirmou que as delegações da Venezuela e da Guiana expressaram os compromissos de diálogo. Como informou O Globo, o objetivo da reunião, para o Palácio do Planalto, era continuar a baixar a "temperatura" da crise.

— As delegações comprometeram-se, reconhecidas as diferenças de lado a lado, a continuar dialogando com base nos parâmetros estabelecidos pela declaração de Argyle. Nossa região tem a vontade política e todos os instrumentos necessários para avançar em seus projetos de desenvolvimento social justo, em um ambiente pacífico — disse Vireira.

O conflito na região do Essequibo não foi o único tema abordado. Os representantes de Guiana e Venezuela também falaram sobre possibilidade de cooperação na área ambiental e de desenvolvimento social e econômico da América do Sul.

Em fala dirigida à imprensa, o chanceler da Venezuela disse que a reunião foi "franca" e transparente, ocasião em que ambos os lados falaram sobre suas posições. Segundo ele, um "triunfo diplomático".

— Quando o mundo enfrenta múltiplas crises, como bem disse o ministro Mauro Vieira, que não são resolvidas pela via diplomática, na América Latina podemos trabalhar com as divergências que surgem na disputa entre Venezuela e Guiana — disse o venezuelano, que acrescentou: —Vamos continuar dialogando pela via diplomática e afirmar que nenhuma das partes recorrerá a ameaças ou invocação da força.

No mesmo sentido, o representante da Guiana reforçou o compromisso com a paz

— Sem paz não há prosperidade. Nós estamos comprometidos com o processo de diálogo e as leis internacionais. Trabalhamos para ter um continente integrado. Esse foi um bom começo porque fomos capazes de dialogar e trocar ideias. Vamos continuar trabalhando para avançar (no entendimento) — disse o chanceler.

A comissão conjunta deve realizar uma próxima reunião, ainda sem data, também no Brasil.

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