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Venezuela

Venezuela investiga site que arrecada de fundos para derrubar Maduro

Com ex-integrante da Marinha americana e fundador de empresa paramilitar como garoto-propaganda, plataforma diz ter coletado US$ 1 milhão para financiar queda do regime chavista

O presidente da Venezuela, Nicolás MaduroO presidente da Venezuela, Nicolás Maduro - Foto: Federico Parra/AFP

Uma contagem regressiva que deu início a uma campanha de arrecadação de fundos prometendo “a queda” do governo do presidente Nicolás Maduro na Venezuela. O apelo de um antigo membro de uma unidade de elite da Marinha americana para “votar com dólares”. Notícias falsas e a reação do chavista pedindo para seus apoiadores “polirem suas armas”. Parece um filme, mas é real.

Acompanhado por uma campanha agressiva nas mídias sociais, o 'Ya Casi Venezuela' é um site que surgiu repentinamente na Internet em meio a alegações de fraude na reeleição de Maduro em 28 de julho. Nesta terça-feira, o Ministério Público da Venezuela anunciou ter aberto uma investigação criminal para analisá-lo.

A contagem regressiva contava os dias, as horas, os minutos e os segundos até 16 de setembro, uma data que era vendida como o marco de “um movimento” que “cumpriria a vontade do povo venezuelano”.

Quando a contagem regressiva chegou a zero, após especulações de todos os tipos, foi lançada uma "vaquinha" com o rosto de um controverso garoto-propaganda: Erik Prince.

Ele é um ex-SEAL, unidade de elite da Marinha dos EUA, que fundou a empresa paramilitar privada Blackwater, rebatizada de Academia depois de ter sido envolvida na morte de 17 civis em Bagdá em 2007 por seus mercenários e ter sido absorvida pela atual Constellis, numa fusão com a empresa rival.

Prince, em um vídeo, disse que nas primeiras 72 horas de arrecadação de fundos, a marca de US$ 1 milhão foi ultrapassada, tendo US$ 10 milhões como meta:

"Venezuela, vocês votaram pela liberdade em 28 de julho. Agora é hora de votar com dólares."


Nenhum líder da oposição se manifestou no site, nem mesmo a líder María Corina Machado e o ex-candidato à Presidência, Edmundo González, asilado na Espanha desde o início do mês. A AFP tentou contato com os líderes políticos, mas até agora não obteve resposta.

O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, disse nesta terça-feira que os envolvidos no site “estão cometendo crimes” e que “qualquer pessoa que tenha feito uma doação, seja de US$ 1 ou US$ 20, é cúmplice”.

'Temos que polir nossos rifles'

"Diante dos relógios de contagem regressiva, temos que polir nossos rifles e nós os polimos ", disse Maduro em um evento público.

Na última sexta-feira, 'Ya Casi Venezuela' esteve entre os pontos da conversa entre Maduro e o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que expressou “preocupação” com as violações de direitos humanos registradas na Venezuela nos protestos pós-eleitorais, que deixaram 27 mortos — dois deles militares — e mais de 2 mil detidos.

De acordo com uma nota oficial, o presidente alertou sobre “agressões externas”, como a “contratação de mercenários para invadir o país”.

Nos dias anteriores, quatro americanos — um deles militar da ativa —, dois espanhóis e um tcheco foram presos, enquanto as autoridades denunciam um plano para assassinar Maduro e outras autoridades de alto escalão.

A “Ya Casi Venezuela”, cuja responsabilidade não foi assumida por nenhuma organização, não forneceu informações sobre as iniciativas que pretende financiar. A AFP solicitou uma entrevista com um porta-voz por meio do portal, sem sucesso.

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Maduro advertiu Guterres sobre as “ameaças” nas redes sociais, onde “até promovem a coleta de fundos para realizar ataques contra a institucionalidade”.

"Esse senhor Erik Prince, ameaçando (...). Nós não estamos desarmados ", reagiu o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino. — Eles vão receber uma resposta enérgica, na linha de frente, das Forças Armadas.

O chavismo frequentemente denuncia conspirações.

"Eles gostariam de copiar a Operação Gideon ", disse o promotor Saab, referindo-se a um plano de invasão da Venezuela que, em 2020, terminou com oito mercenários mortos, segundo as autoridades, e levou à prisão de dois americanos, condenados a 20 anos de prisão e libertados em dezembro passado em uma troca de prisioneiros.


Negócios
Na conta “Ya Casi Venezuela” no X, alguns estavam esperançosos, outros céticos. “Estou dentro: sem risco, sem ganho”, escreveu um usuário. “O que está faltando [para agir]?”, questionou outro.

O ministro do Interior, Diosdado Cabello, chamou a arrecadação de fundos de “fraude”.

"[Prince] viu um potencial meio criminoso para arrecadar dinheiro de forma rápida e ágil ", disse Cabello. — Foi aí que nasceu a ideia de colocar como fachada a 'liberdade', entre aspas, da Venezuela. O negócio não é a Venezuela, mas arrecadar dinheiro para roubar.

Um vídeo em que o cantor de reggaeton porto-riquenho Don Omar anunciava uma doação de um milhão de dólares se tornou viral nas mídias sociais. A equipe de verificação da AFP determinou que não era atual, mas de 2019, quando a oposição organizou uma coleta de ajuda humanitária do exterior que foi bloqueada nas fronteiras pelos militares em meio a violentos tumultos.

Cabello pediu aos EUA uma “investigação aberta e séria” sobre o site.

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