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Venezuela

Venezuela: manifestantes marcham até embaixada do Brasil para pedir que Lula interceda por presos

Familiares e organizações de direitos humanos pretendem entregar ainda uma carta endereçada ao presidente, que comanda esforços de mediação entre governo e oposição

Um apoiador da oposição venezuelana segura uma placa com os dizeres 'Pela liberdade da Venezuela' enquanto se reúnem em frente ao Parlamento Espanhol Um apoiador da oposição venezuelana segura uma placa com os dizeres 'Pela liberdade da Venezuela' enquanto se reúnem em frente ao Parlamento Espanhol  - Foto: Pierre-Philippe Marcou/AFP

Poucos dias após a Venezuela ser sacudida com a partida do ex-candidato Edmundo González e a revogação da custódia da Embaixada argentina em Caracas pelo Brasil, a Plataforma Unitária Democrática (PUD), principal coalizão opositora da Venezuela, convocou os venezuelanos para marchar nesta quarta-feira até a Embaixada do Brasil em Caracas e à "cada sede diplomática do governo brasileiro no mundo" para pedir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que "interceda" pelas pessoas que foram detidas em meio ao aumento da repressão do governo do ditador Nicolás Maduro após as eleições presidenciais em 28 de julho.

O Escritório de Direitos Humanos da ONU estimou em meados de agosto que mais de 2,4 mil venezuelanos foram detidos após a votação.

A ONG Foro Penal, por sua vez, afirmou que até esta quarta-feira há 1.808 presos políticos na Venezuela, com 1.673 tendo sido detidos após o dia 29 de julho, informou o vice-presidente da organização, Gonzalo Himiob.

Desse total, 60 são adolescentes, com idades entre 14 e 17 anos. E, até o momento, 150 pessoas foram condenadas.

 

Os manifestantes começaram a se reunir a partir das 10h (horário local), levando cartazes e faixas estampadas com os rostos dos detidos. Familiares dos presos e organizações de direitos humanos se reuniram na Praça Bolívar, no município venezuelano de Chacao, antes de começarem a marcha até a Embaixada brasileira.

Ali, esperam conseguir entregar uma carta endereçada ao presidente Lula com as exigências feitas na manifestação, segundo informou um dos organizadores ao site venezuelano independente Efecto Cocuyo.

— Essa manifestação é para pedir a mediação do presidente Lula da Silva, porque na Venezuela a dissidência continua sendo criminalizada, há 2.500 famílias ameaçadas e os presos políticos são torturados — afirmou Adreína Baduel ao site, acrescentando: — [Estamos protestando para] lembrar ao mundo que na Venezuela continuamos a ser vítimas de violações dos direitos humanos.

Sol Ocariz, irmã de Edward Ocariz, militante do partido Primeiro Justiça (PJ), contou que "nunca" teve permissão para ver o irmão, ficando restrita a levar para ele apenas "roupas e remédios". Ela relatou ao site que Edward foi levado de sua casa, em Caracas, após os protestos contrários à reeleição de Maduro. O irmão foi mantido na Zona 7 da Polícia Nacional Bolivariana (PNB) na cidade de Boleíta, no estado de Miranda, mas foi transferido para a prisão de Tocuyito, no estado de Carabobo.

No início de agosto, Maduro disse preparar Tocuyito e Tocorón, ambas prisões de segurança máxima no país, para receber os manifestantes.

— Eles deveriam interceder porque todas essas pessoas são inocentes, aqui não temos assassinos, estupradores ou ladrões — disse Sol Ocariz, prosseguindo: — Aqui temos presos políticos por causa de um esforço, por causa de um interesse, e não sei qual deles, de minimizar a expressão e os direitos que a Constituição nos dá de ter livre pensamento e livre arbítrio.

A coalizão também convocou seus apoiadores em países como Argentina, Peru, Equador, El Salvador, Panamá, Estados Unidos, França, Holanda e Reino Unido, através de uma publicação no X. A ONG Foro Penal afirmou que, até esta quarta-feira, há 1.808 presos políticos na Venezuela, com 1.673 tendo sido detidos após o dia 29 de julho, dia seguinte às eleições presidenciais no país, informou o vice-presidente da organização, Gonzalo Himiob.

Desse total, 60 são adolescentes, com idades entre 14 e 17 anos. Até o momento, 150 pessoas foram condenadas.

O Brasil mantém canais de diálogos com Maduro desde a posse de Lula e, junto com a Colômbia, tem tentado construir um canal de diálogo entre a oposição e o governo, o que parece cada vez mais distante no cenário atual. Lula afirma que não reconhece a vitória de Maduro ou da oposição e pressiona pela publicação das atas eleitorais detalhadas por urna de votação o que, até o momento, o governo chavista não fez. Ao contrário: o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Maduro vencedor sem publicar os comprovantes.

Brasília também assumiu há pouco mais de um mês a custódia da Embaixada da Argentina em Caracas, onde estão abrigados seis colaboradores da líder da oposição, María Corina. A estrutura foi cercada por homens encapuzados na sexta-feira e, no dia seguinte, a autorização de custódia do Brasil foi revogada "de maneira imediata", mesmo dia em que González deixou o país. O cerco foi suspenso no domingo.

María Corina e González são responsabilizados pelo procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, por instigar os protestos contrários à reeleição de Maduro, que sacudiram o país nas horas e dias seguintes ao anúncio do resultado, resultando, além dos detidos, em 27 mortes, 192 feridos.

Furacão político
A manifestação ocorre dias após González desembarcar na Espanha, onde receberá asilo político.

O ex-diplomata é acusado pelo Ministério Público por cinco crimes — usurpação de funções, falsificação de documentos públicos, instigação à desobediência às leis, conspiração, "sabotagem de danos aos sistemas" (sic) e associação —, além de ser alvo de um mandado de prisão após ignorar três intimações para depor.

A intimação tem como o site organizado pela oposição para publicar as atas a que alegam terem tido acesso e que comprovam, argumentam, sua vitória nas urnas.

"Hoje, 7 de setembro, o cidadão oposicionista Edmundo González Urrutia, refugiado voluntário na Embaixada do Reino da Espanha em Caracas há vários dias, deixou o país e solicitou asilo político a esse governo", afirmou a vice-presidente da Venezuela Delcy Rodríguez através das redes sociais na madrugada de domingo. A vice acrescentou que, após contatos entre os dois governos, "a Venezuela concedeu os salvo-condutos necessários para o bem da tranquilidade e da paz política do país".

A Chancelaria espanhola, por sua parte, nega qualquer negociação, argumentando que partiu de González o pedido para asilo.

O ex-candidato deixou a Venezuela com sua esposa, Mercedes, informou o Ministério das Relações Exteriores da Espanha.

Seu asilo não abrangeu sua filha mais velha, Mariana, seu genro, Rafael, e seus dois netos. A mais nova, Carolina, mora na Espanha.

González estava na clandestinidade há mais de um mês, abrigado na Embaixada da Holanda em Caracas, segundo o ministro das Relações Exteriores holandês, Caspar Veldkamp. Partiu do opositor o pedido de alojamento, informou o ministro.

No sábado, quando teria tomado a decisão de deixar a Venezuela, González estava hospedado na residência do embaixador espanhol em Caracas. No mesmo dia, Maduro revogou a autorização de custódia do Brasil sobre a Embaixada argentina, alegando "planejamento de atividades terroristas e tentativas de assassinato contra o presidente" no local, o que deixou claro para González e os diplomatas espanhóis que não havia mais lugar seguro no país.

De acordo com González, sua partida "foi cercada de episódios de pressões, coações e ameaças de não permitirem minha partida."

Seu advogado, José Vicente Haro, afirmou que seu cliente está realizando os procedimentos necessários para regularizar sua estadia na Espanha como exilado político e que, até que tenha o estatuto oficial de asilado e os documentos que lhe devolvam seus direitos civis e políticos, não poderá dar declarações à imprensa.

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