Venezuela rompe relações com Paraguai por apoio a González, adversário de Maduro nas eleições
Anúncio ocorreu após uma conversa entre o ditador venezuelano e o presidente paraguaio, Santiago Peña
O governo da Venezuela rompeu relações com o Paraguai nesta segunda-feira após o apoio de Assunção ao opositor Edmundo González Urrutia, adversário do presidente Nicolás Maduro nas eleições de 28 de julho, que reivindica o reconhecimento da sua vitória no pleito, considerado fraudulento por grande parte da comunidade internacional. O anúncio acontece a quatro dias da posse do ditador venezuelano, no poder desde 2013, para o seu terceiro mandato de seis anos consecutivo.
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"A Venezuela decidiu, em pleno exercício de sua soberania, romper relações diplomáticas com a República do Paraguai e proceder com a retirada imediata de seu pessoal diplomático credenciado no país", indicou a Chancelaria em um comunicado, reagindo a uma conversa por telefone na qual o presidente paraguaio, Santiago Peña, expressou apoio a González.
O governo venezuelano “rejeita categoricamente as declarações do presidente do Paraguai, Santiago Peña, que, ignorando o direito internacional e o princípio da não intervenção, recai em uma prática fracassada que lembra as fantasias políticas do extinto Grupo de Lima com sua ridícula aventura chamada Guaidó”, acrescentou o comunicado, lembrando o grupo formado em 2017 por chanceleres de 12 países latino-americanos com objetivo de discutir a crise na Venezuela.
Esta não é a primeira vez que Caracas rompe relações com um país por apoiar um opositor do regime. Em 2019, a Venezuela cortou laços diplomáticos com os Estados Unidos após o endosso ao então presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente interino, liderando um governo que, na época, foi apoiado por mais de 50 nações — incluindo o Brasil, na época governado pelo então presidente Jair Bolsonaro.
No ano passado, após o questionamento internacional quanto à proclamação da vitória de Maduro no pleito sem apresentação das atas que comprovariam o resultado das urnas, o regime venezuelano rompeu relações com Argentina, Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai. Na ocasião, a Embaixada da Argentina em Caracas abrigava sete opositores políticos alvos de mandados de prisão e, com o fim das relações, o prédio da missão ficou sob custódia do Brasil.
A quatro dias da posse de Maduro e com González no exílio em Madri desde 8 de setembro, aumenta a expectativa sobre o que será do futuro da Venezuela a partir de agora. A oposição, liderada por María Corina Machado, tem defendido uma ação mais decisiva da comunidade internacional, alegando que o regime está mais enfraquecido. Ela, que escolheu González como seu substituto na disputa após ser impedida de concorrer pela Justiça chavista, tem instado os países a reconhecerem seu aliado como presidente legítimo.
Nesta segunda-feira, o ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, alertou que González será preso se voltar ao país. A declaração de Cabello foi feita no mesmo dia em que a Força Armada venezuelana condenou o apelo do ex-diplomata para que ele seja reconhecido como chefe de Estado no país — e no mesmo dia em que o opositor se reúne com o presidente americano, Joe Biden, nos Estados Unidos.
Em julho do ano passado, a reeleição do herdeiro político de Hugo Chávez provocou protestos que deixaram 28 mortos, 200 feridos e mais de 2.400 presos, inclusive adolescentes, acusados de terrorismo e encarcerados em prisões de segurança máxima. Até o momento, cerca de 1.500 foram libertados.