VENEZUELA

Venezuela sofre apagão, governo denuncia "sabotagem"

A interrupção ocorreu às 04h40 horário local (03h40 no horário de Brasília). Muitas ruas de Caracas estavam desertas no início da manhã

Apagões têm sido frequentes na Venezuela há uma décadaApagões têm sido frequentes na Venezuela há uma década - Foto: Federico Parra/AFP

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Um apagão registrado na madrugada desta sexta-feira (30) deixou a Venezuela na escuridão, incluindo a capital, Caracas, informou o governo do presidente Nicolás Maduro, que atribuiu esta falha à sabotagem do sistema pela oposição em meio às suas denúncias de fraude eleitoral.

O apagão foi registrado às 04h40 locais (03h40 no horário de Brasília) e afetou de forma "total ou parcial" os 24 estados do país, onde as falhas são frequentes.

"O fascismo desesperado ataca o povo, mas juntos vamos superar esta nova investida", escreveu Maduro em seu canal no Telegram, qualificando a falha de um "ataque criminoso".

Os apagões têm sido frequentes na Venezuela há uma década, sobretudo no interior.

O governo sempre os atribui a conspirações orquestradas pelos Estados Unidos e pela oposição para derrubá-lo. Mas líderes e especialistas da oposição responsabilizam o governo pela falta de investimento, incompetência e corrupção.

"Todos os serviços estão sendo verificados, estão sendo revisados", disse o ministro do Interior, Diosdado Cabello, ao canal estatal VTV. "A rede já começou a ser energizada e alguns setores de Caracas começam a receber energia elétrica".

"É um processo que ocorre pouco a pouco, mas é um processo feito em segurança para que não se caia em erros", ressaltou.

O serviço ficou intermitente em alguns setores do país no começo da tarde, com informes de restabelecimentos seguidos de quedas.

"Acordamos com o apagão", contou à AFP Carlos Peña, de 39 anos, dono de uma pequena loja de frangos no centro de Caracas, com tudo escuro e seu refrigerador sem funcionar.

"Moramos perto, por isso viemos... Ver se conseguimos vender tudo para não perder".

"Tranquilidade"
A queda de energia ocorre um mês após as eleições nas quais Maduro foi proclamado reeleito para um terceiro mandato presidencial consecutivo de seis anos, até 2031.

A oposição, liderada por María Corina Machado, assegura que Edmundo González Urrutia venceu as eleições e que tem as provas para demonstrá-lo.

A denúncia de fraude é vista pelo chavismo como parte de um complô contra Maduro.

Durante a campanha, de fato, foram denunciados supostos planos para afetar o vulnerável sistema elétrico do país.

"Não conseguiram atingir seus objetivos como eles (oposição) esperavam", continuou o ministro Cabello, "que o país estivesse incendiado um mês após as eleições, ao contrário, o país está em completa calma, aqui tudo está funcionando".

O ministro da Defesa, Vladimir Padrino, garantiu que "tudo está sob controle". "Em nenhuma parte do território nacional se apresentou alguma situação que valha a pena mencionar", indicou. "A Força Armada Nacional Bolivariana vai atuar junto com todos os órgãos de segurança cidadã (...) para atender a qualquer situação".

O metrô foi interrompido em Caracas e o trânsito estava reduzido, embora houvesse movimentação de pessoas, algumas paradas em frente a prédios de escritórios.

"Estamos mentalmente acostumados a essas coisas", afirmou Leticia Quiroga, funcionária pública de 30 anos. "Estamos esperando que nos deem instruções para saber o que fazer".

Opositor volta a ser intimado
A reeleição de Maduro não foi reconhecida por Estados Unidos, União Europeia e vários países da América Latina.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tenta fazer a mediação entre o governo e a oposição para desbloquear a grave crise política, insistiu, nesta sexta-feira, em pedir a publicação da apuração detalhada dos votos.

"A oposição fala que ganhou, ele (Maduro) fala que ganhou, mas você não tem prova. Nós estamos exigindo a prova", disse Lula em entrevista à rádio MaisPB.

O opositor Edmundo González, de 75 anos, foi novamente intimado a comparecer nesta sexta-feira ao Ministério Público, que abriu uma investigação criminal contra ele.

Trata-se da terceira intimação, depois de ter ignorado as outras duas.

O não cumprimento desta medida acarretaria a emissão de um mandado de prisão.

Não está claro como fica o procedimento em meio ao apagão nacional, mas a emissora estatal VTV reportou o desacato sem fazer referência a um eventual pedido de prisão.

A oposição publicou em um site cópias de mais de 80% das atas de votação que a mostram vencedora, que é o foco da intimação: "Usurpação de funções" e "falsificação de documento público" do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que não publicou os detalhes do escrutínio mesa a mesa, conforme exigido por lei.

Esses crimes teoricamente acarretam pena máxima de 30 anos de prisão.

Juristas classificaram o procedimento como irregular e a coligação Plataforma Unitária Democrática (PUD) denunciou uma "perseguição política".

Maduro pediu prisão para González e Machado.

Ele também os responsabiliza pelos atos de violência nos protestos pós-eleitorais, que deixaram 27 mortos - incluindo dois militares -, quase 200 feridos e mais de 2.400 detidos, uma centena deles menores.

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