Vila Sul, comunidade com as próprias mãos
Sem ajuda do poder público, 250 famílias erguem suas casas em terreno doado pela União
Duzentas e cinquenta famílias ocupam, hoje, o terreno de 17 mil metros quadrados da comunidade Vila Sul, no bairro de Afogados, no Recife. Fica atrás da Estação Afogados do metrô, à beira do mangue, e ficou três anos em negociação até ser doada pela União. O processo ainda está correndo e o local segue em obras lentas, com cada família erguendo sua casa com recursos próprios. Recursos escassos, visto que a maioria está desempregada.
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Mesmo assim, diz o representante do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) no local, Carlos André da Costa, foi a melhor decisão. “Até chegaram a negociar, especulou-se construir, aqui, 64 apartamentos, mas não seguiu. Se fosse esperar, levaria 10, 15 anos. Melhor, porque os habitacionais por aí são de péssima qualidade. Não têm reboco, entregam só na casca. E o que foi pago pelo dinheiro público é muito mais do que entregam. Não tem qualquer fiscalização”, diz.
A família de Poliana e Giovani Silva está nessa condição de construir a casa com pouco dinheiro e com as próprias mãos. Ambos estão desempregados e a casa que constroem vai subindo aos poucos com a ajuda da mãe dele, que é diarista. “Ela compra tijolo, areia, pouco a pouco, e a gente vai subindo a casa. Estamos correndo agora porque chove e molha tudo, acaba com tudo”, diz Poliana, grávida de três meses e mãe de duas outras crianças, de 4 e 5 anos. Ao longo da rua, três monte de cimento fresco indicam mais obras, mais gente subindo suas casas.
Todo mundo ali veio da “linha” do terreno da União que fica na Avenida Sul, ao lado direito da via seguindo para o Bairro do Recife. “A gente herdou até o nome lá da linha”, explica André, desfazendo a confusão homônima. “A Prefeitura é omissa. A gente tentou várias vezes negociar com eles, mas quem nos recebia nunca era o prefeito nem o secretário. Se não pulássemos para Brasília, esse povo estaria todo na rua hoje”.
André conta que a área hoje ocupada pela Vila Sul estava subutilizada há 40. “O problema todinho foi a gente achar esse terreno, tudo é especulação imobiliária. Tem muita área no Recife que pertence à União. Mas quando são áreas que interessam ao mercado imobiliário, não se divulga”, comenta. Vez ou outra, chega a Polícia Militar chega à comunidade, ou o Ibama, por causa da proximidade com mangue. “Só não chega um agente de saúde, um assistente social. Aqui não temos assistência nenhuma da prefeitura. A gente marca reunião e eles desmarcam, parece que querem vencer pelo cansaço”. Não adianta só queimar pneu e gritar que não vamos a lugar algum. Tem que ter um bom advogado, conhecer um pouco de leis, para fazer a coisa andar.

