Opinião

Vinícius Jr. não começou a luta. Ele internacionalizou a luta

Reacendeu com força no Brasil o preconceito estrutural e ganhou maior visibilidade com os episódios que envolveram o jogador Vinicius Jr, atualmente no Real Madrid, clube espanhol, e integrante da seleção brasileira.

Ofendido por torcedores do Valência, também clube espanhol, o jogador que foi cognominado de “macaco”, teve a coragem de se dirigir aos ofensores e denunciá-los. Fez mais. Manifestou-se através das redes sociais para proclamar sua indignação dando o seu recado: “O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo e Messi hoje é dos racistas. Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mais que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista”.

Diante do fato, o primeiro - ministro espanhol Pedro Sanchez, solidário ao atleta, disse: Tolerância zero ao racismo. A mesma postura teve o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A grande imprensa espanhola, com manchetes, escreveu: “Não basta não sermos racistas. É preciso ser antirracista”.

Recentemente os torcedores e jogadores Sport Clube do Recife foram vítimas, em Criciúma, estado de Santa Catarina, de procedimentos xenofóbicos, oportunidade em que foi expressa esta frase preconceituosa: “Brasil é Sul”. Segundo notícias, a diretoria do clube pernambucano prometeu providências.

Não é a primeira vez que isso acontece. Em 2022, em postagem nas redes sociais, a diretora de Responsabilidade Social do Clube de Regatas Flamengo, do Rio de Janeiro, Ângela Machado, esposa do presidente do clube Rodolfo Landim, fez comentários depreciativos e pejorativos aos nordestinos depois de constatada a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro para o atual presidente Lula. Na postagem ela compara nordestinos a carrapatos. No excesso ela afirmou: “Ganhamos onde se produz, perdemos onde se passa férias, bora trabalhar porque se o gado morrer o carrapato passa fome”.

O que é irônico é que a Sra. Ângela é natural do estado de Sergipe, que fica no Nordeste.
Como se verifica o Brasil não é infenso a manifestação preconceituosa e intolerante. O racismo, a xenofobia, a misoginia e o sexismo estão expostos e são censurados em várias oportunidades.

No nosso país a xenofobia se manifesta de forma seletiva. Nem todos os povos recebem o tratamento restritivo de forma igualitária. O exemplo clássico é o congraçamento, festivo e anual, dos imigrantes europeus que se realiza em Blumenau, no estado de Santa Catarina. Aí fica evidente o racismo estrutural, pois a mesma aceitação não ocorre com os povos originários do continente africano e do próprio continente sul-americano, como os venezuelanos, por exemplo.

Esses exemplos referenciados são amostras  do universo intolerante à diversidade de gênero, cor, idade e ideologia que se intensificou nos últimos anos quando, no exercício da presidência da República, o candidato derrotado nas últimas eleições passou a proferir frases nada democráticas e tolerantes como: “Fui num quilombo e o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas; O grande erro foi torturar e não matar; Trabalhador tem que escolher entre direitos ou empregos; Não empregaria mulheres com o mesmo salário dos homens; Deveriam ter sido fuzilados trinta mil corruptos, a começar pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso”.

Esse clamor que se acentuou ultimamente já vinha amadurecendo, porém só foi possível o seu dimensionamento pela importância nacional e internacional da vítima: Vinícius Jr.
Exatamente como aconteceu lá atras com Muhammad Ali e Martin Luther King, em outro país. 



*Procurador de Justiça do Ministério Público de Pernambuco. Diretor Consultivo e Fiscal da Associação do Ministério Público de Pernambuco. Ex- repórter do Jornal Correio da Manhã (RJ)


- Os artigos publicados nesta seção não refletem necessariamente a opinião do jornal. Os textos para este espaço devem ser enviados para o e-mail [email protected] e passam por uma curadoria para possível publicação.

Veja também

Maduro diz que González Urrutia lhe pediu 'clemência' para sair da Venezuela
Venezuela

Maduro diz que González Urrutia lhe pediu 'clemência' para sair da Venezuela

'Estamos tentando evitar o fim do mundo': Flávio Dino defende gastos com incêndios
Queimadas

'Estamos tentando evitar o fim do mundo': Flávio Dino defende gastos com incêndios

Newsletter