Logo Folha de Pernambuco

ONU

Violência "indiscriminada" no Haiti corrói alicerces do Estado, alerta ONU

Guterres apresentou uma foto terrível das consequências da espiral de violência perante o Conselho de Segurança

Em 2023, foram denunciadas 4.789 vítimas, o que equivale a uma proporção de 40,9 homicídios por 100.000 habitantesEm 2023, foram denunciadas 4.789 vítimas, o que equivale a uma proporção de 40,9 homicídios por 100.000 habitantes - Foto: Richard Pierrin/AFP

Leia também

• ONU: homicídios no Haiti aumentaram 119,4% em 2023, com quase 5.000 vítimas

• Conflito no Sudão: entre 10 mil e 15 mil pessoas morreram apenas em Darfur, segundo a ONU

• ONU pede explicações à Rússia por transferência de crianças ucranianas

A violência "indiscriminada" das gangues no Haiti deixou quase 5.000 vítimas em 2023, mais que o dobro do ano anterior, segundo um relatório da ONU divulgado nesta terça-feira (23), que pede à comunidade internacional para "redobrar os esforços" para que o país caribenho seja um local "seguro e estável".

No relatório trimestral dirigido ao Conselho de Segurança, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou sobre a violência "indiscriminada" das quadrilhas de criminosos, que travam uma luta feroz pelo controle do território e obrigaram "centenas de milhares de pessoas" a deixar suas casas.

Consequentemente, Guterres "exorta com urgência a comunidade internacional para que aumente seu apoio às respostas humanitárias e de desenvolvimento no Haiti".

"É vital redobrar os esforços para que o Haiti seja um local seguro e estável, tenha bases sólidas para o desenvolvimento sustentável e seja um país onde se protejam os direitos humanos de todas as pessoas", acrescentou o secretário-geral.

Guterres apresentou uma foto terrível das consequências da espiral de violência perante o Conselho de Segurança, que aprovou em outubro passado uma resolução para o envio de uma força policial de apoio independente, liderada pelo Quênia, que ainda não se constituiu.

"As quadrilhas continuam cometendo homicídios, sequestros e atos de violência sexual com total impunidade, sobretudo contra mulheres e meninas, entre outros abusos", disse Guterres, que se mostrou alarmado com a "rápida extensão da violência das quadrilhas para áreas rurais antes consideradas seguras".

Isso repercute no aumento da pobreza.

O Banco Mundial, destacou o informe, estima que em 2023 é provável que a pobreza alcance entre 34% e 63% das famílias e que 40% da população - mais de 4,35 milhões de haitianos - sofram de insegurança alimentar aguda, o que afeta particularmente as crianças e que se deve não apenas ao déficit de produção local, mas à disfunção da cadeia de abastecimento do mercado, uma "consequência direta da insegurança".

O informe também constata que mais de 40% das famílias viram cair o envio de remessas do exterior.

Além disso, destaca a dificuldade da população em acessar serviços básicos, como justiça, segurança, moradia e latrinas comunitárias, e aponta que a insegurança dificulta especialmente o acesso das meninas e mulheres a áreas de lazer.

"Minando os pilares do Estado"
"A proporção desta crise multidimensional está minando os pilares das instituições do Estado e a estrutura social", adverte o informe.

Em 2023, foram denunciadas 4.789 vítimas, o que equivale a uma proporção de 40,9 homicídios por 100.000 habitantes, frente aos 2.183 registrados em 2022 (18,1 homicídios por 100.000 habitantes), destaca o informe, ressaltando um aumento do número de sequestros para 2.490, 83% a mais que em 2022.

Somente entre 1º de outubro e 31 de dezembro, as autoridades registraram 1.432 homicídios, frente às 673 vítimas reportadas no mesmo período do ano anterior, enquanto o número de vítimas de sequestro passou de 391 para 698.

Entre membros de gangues, 1.682 perderam a vida no ano passado frente aos mais de 2.700 civis mortos e 1.328 feridos.

Na polícia, alvo frequente das gangues, os efetivos diminuem em um "ritmo alarmante", o que é um "indicador sombrio dos problemas de segurança que afetam o país", segundo Guterres.

Em 2023, deixaram o serviço 1.636 agentes, 48 perderam a vida e 75 foram feridos. Até 31 de dezembro, a polícia contava com 13.196 efetivos.

Até 4 de janeiro, estavam reclusas nos presídios haitianos 11.778 pessoas em instalações projetadas para 3.900 detentos.

A violência se espalha
Na região metropolitana de Porto Príncipe, a influência das quadrilhas cresceu a "um ritmo alarmante" em áreas antes menos afetadas, como Carrefour-Feuilles, Solino, Bon-Repos, Mariani e Léogâne.

Em Mariani (departamento do oeste), na principal rodovia do sul do país, as quadrilhas tomaram o controle do principal aquífero de Porto Príncipe, que abastece com água mais de 1,5 milhão de pessoas e cobram tarifas ilegais dos veículos privados e comerciais que entram e saem da capital.

Em 23 de novembro, a autoridade de energia elétrica do Haiti foi forçada a transferir o pessoal de sua sede, situada perto do aeroporto internacional, para outras instalações.

Os empresários, os funcionários públicos e as pessoas que viajam diariamente no transporte público são as que correm o maior risco de serem sequestradas por grupos criminosos, assegura o informe.

Veja também

Chefe da Otan tem reunião com Donald Trump nos EUA
EUA

Chefe da Otan tem reunião com Donald Trump nos EUA

Homem de 25 anos acorda momentos antes de ser cremado na Índi

Homem de 25 anos acorda momentos antes de ser cremado na Índi

Newsletter