'Viramos uma ameaça', diz Greta Thunberg em encontro virtual com jovens brasileiros
O encontro serviu para lançamento da campanha SOS Amazônia
A ativista climática Greta Thunberg, 17, reuniu-se pela primeira vez nesta sexta-feira (5) com os jovens brasileiros que organizam no país o movimento Fridays for Future, iniciado por ela na Suécia e hoje presente em mais de 150 países.
O encontro serviu para lançamento da campanha SOS Amazônia, que por meio do site www.sosamazonia.fund, busca arrecadar R$ 1 milhão em doações para as comunidades da região Norte, que enfrentam dificuldades econômicas, sanitárias e logísticas durante a pandemia do coronavírus.
"Sabemos que não podemos enfrentar a crise climática sem antes enfrentar a crise do coronavírus", diz o manifesto da campanha.
Questionada pela reportagem sobre as críticas recebidas de grupos conservadores e até líderes como Donald Trump, nos Estados Unidos, e o presidente Bolsonaro, no Brasil, Greta avaliou que as reações indicam um sinal positivo.
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"Nós deveríamos entender como uma prova de que nós estamos fazendo alguma coisa. Eles sentem que devem nos silenciar porque nós nos tornamos barulhentos demais em relação ao que eles podem lidar, nós viramos uma ameaça", disse Greta.
Greta evitou nomear os líderes ao direcionar suas críticas e reforçou que governos no mundo todo estão falhando ao lidar com as crises do coronavírus e das mudanças climáticas.
Os jovens brasileiros, no entanto, não pouparam críticas ao governo federal, apontando omissões no combate ao coronavírus e também ao desmatamento na Amazônia.
"Se o ministro do Meio Ambiente não é capaz de proteger o meio ambiente, precisa sair", disse o ativista Iann Coêlho, 18. No ano passado, durante reunião na Câmara dos Deputados, Iann entregou ao ministro Ricardo Salles uma premiação irônica, o troféu 'Exterminador do Futuro'.
Segundo o movimento, os recursos da campanha SOS Amazônia irão para o território de Santa Isabel, no alto do rio Negro, para as terras Caititu, Tapaua e Deni, na região do rio Purus, atendendo os povos de Paumari, Apurinã, Deni, Jamamdi e Jarauwara, e também para 1.489 famílias em Manaus e no entorno urbano.
"Os recursos vão apoiar a compra de alimento, material de higiene e também para garantir acesso a técnicos de saúde", explicou a ativista indígena Samela Sateré Mawé, que vive em uma comunidade indígena urbana em Manaus.
"Nós não temos como vender nossos artesanatos, então esses alimentos vão nos ajudar, porque não estamos recebendo de nenhuma forma. É diferente de viver em aldeia. Aqui na cidade nós temos que comprar tudo que precisamos para viver", diz.
O valor arrecadado será gerido por um comitê formado pelos jovens do Fridays for Future junto à Fundação Amazônia Sustentável.
A campanha é internacional e conta com apoio de jovens europeus, como a também sueca Isabelle Axelsson, 19.
Ela cobra do governo de seu país e de outras nações desenvolvidas que assumam suas responsabilidades pelas emissões de gases-estufa históricas, "antes de exigirem que os outros façam o mesmo".
A posição é semelhante à cobrança feita por diplomatas brasileiros e de outros países em desenvolvimento em negociações climáticas.
"As pessoas esperam que nós possamos lhes dar esperança, mas é difícil para os jovens ter esperança hoje. É muito individual, mas eu não tenho muita, porque não vejo ação dos políticos", disse Isabelle.
"Esperança não deveria ser a chave para a ação. Precisamos salvar vidas. Se não agirmos, vamos viver um pesadelo, como parte de nós já está vivendo", disse o brasileiro Abel Rodrigues, 20.
Para a porto-alegrense Amália Garcez, 17, "nossa perspectiva [para o futuro] é levar [a questão climática] para todos os aspectos da nossa vida e seguir lutando nossa vida toda".