Volta ao futebol exige esforço complexo
Estudado por clubes, retorno às competições, mesmo que gradual e com protocolos, colocaria profissionais em risco
Nesta semana, dirigentes de clubes das Séries A e B iniciaram a discussão sobre uma volta gradual do futebol no Brasil. A iniciativa ainda é embrionária, mas há consenso de que, sem datas, não há receita, e o esporte não está preparado para sobreviver a uma paralisação mais longa. A vontade, porém, esbarra na questão sanitária envolvendo o combate ao novo coronavírus. Uma das possibilidades citadas é retomar os estaduais no final de maio ou começo de junho, conforme projeta o presidente da Federação Pernambucana de Futebol (FPF), Evandro Carvalho. Os jogos, inicialmente, seriam realizados de portões fechados, estabelecendo protocolos rígidos de segurança, com testes para a Covid-19 nos atletas, comissão técnica e demais profissionais que estivessem trabalhando no evento, com participação de no máximo 30 pessoas, além dos 22 jogadores no campo. Mas é possível adotar essa medida?
"Acredito que seria inviável ter tantos testes apenas para os jogadores e comissão técnica a cada rodada. Sem falar que também seria preciso um especialista para fazer uma contraprova. Muitos poderiam não testar positivo na hora, mas apresentar dias depois sintomas da doença. Os casos devem aumentar nas próximas duas, três semanas, estabilizar e depois cair. Ainda assim, não é possível prever a curva do coronavírus. Acho que tudo vai depender do cenário de isolamento nos próximos dias", afirmou o médico infectologista Raphael dos Anjos. "Mesmo que sejam partidas sem público, o risco permanece porque o futebol é um esporte de muito contato. Tem aglomeração no vestiário, a disputa dos atletas e mão no rosto. Por mais que haja transmissão pelo ar, o toque ainda é o maior foco na infecção", completou.
Em nota, o Governo de Pernambuco indicou que "está estudando a possibilidade da flexibilização de um conjunto de medidas restritivas adotadas no enfrentamento à disseminação do novo coronavírus. No entanto, ainda não há uma definição sobre quais setores da economia e como (adoção de normas sanitárias) será realizada a retomada das atividades. É importante ressaltar que qualquer provável diminuição no isolamento social precisará seguir orientações da Organização Mundial da Saúde."
A ideia é iniciar contatos com representantes da comunidade médica para estudar uma forma segura de antecipar a volta das atividades. Isso passa por pelo menos um ou dois meses de jogos com portões fechados. Além, claro, de conseguir o aval do Ministério da Saúde. Após acordo com a Federação Nacional dos Atletas Profissionais, os clubes deram férias aos jogadores até o dia 21 abril, podendo ampliar o período até o final do mês. O pontapé inicial não será, entretanto, dado sem o "ok" das autoridades federais e estaduais.
Em termos de calendário, a prioridade é terminar os campeonatos estaduais - a CBF já garantiu às federações que eles serão priorizados quando houver o retorno às atividades. Ainda não há um plano definido para o Campeonato Brasileiro. Isso dependerá da realização ou não da Libertadores e da Sul Americana por parte da Conmebol e do número de datas que restarem disponíveis.
"Existe uma convergência com relação ao retorno dos campeonatos. Sabemos que, quanto mais tempo demorar a voltar, mais difícil será para finalizar tudo. Mas nós só vamos recomeçar quando as autoridades de saúde decidirem que é possível fazer isso", afirmou o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, um dos participantes na reunião sobre o regresso das competições.
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