Petrópolis

Voluntário entrou em choque após ver corpos sendo retirados da lama e precisou ser internado

Mulher e dois filhos estão há duas semanas alojados em uma escola municipal

Bombeiros, moradores e voluntários em busca de vítimas em Petrópolis após temporalBombeiros, moradores e voluntários em busca de vítimas em Petrópolis após temporal - Foto: Carl Souza/AFP

Andrielli dos Santos Oliveira e o marido Leonel Tadeu moravam na Rua Pedras Brancas, no bairro do Mosela, com os dois filhos, Vicente, de 3 anos, e Mel, de 5. Há uma semana, ela se aloja na Escola Municipal Maria Campos, no Centro, depois da Defesa Civil interditar o imóvel, que sofreu graves abalos estruturais após a casa de sua vizinha cair.

Técnico de enfermagem, Leonel está desempregado, o que causa mais desalento na família, que sobrevive de Bolsa Família. Na quarta-feira, um dia após a tragédia, ele foi ao Alto da Serra, como voluntário, para ajudar a retirar os corpos da lama. Mas o impacto psicológico foi tão grande ao lidar com a situação que ele precisou ser internado após entrar em estado de choque. Até hoje, ele segue no hospital tomando ansiolíticos: 

"Meu marido teve um surto e entrou em estado de choque. Ele está internado em um hospital aqui no Centro, tomando remédios controlados. Ele nunca teve nenhum episódio de surto e nunca precisou tomar remédio nenhum. Foi tudo muito impactante e o abalou demais, mas ele está melhorando".

Como moravam em um imóvel alugado, o aluguel social não é uma saída possível para o casal.

"A casa da minha vizinha caiu, matando ela e as duas crianças dela. Logo após as chuvas, começaram a aparecer rachaduras na minha casa. A Defesa Civil interditou e, dois dias depois, foi perda total: ela rachou nas colunas, entrou água, caiu barreira no telhado, estragou os móveis. Se eu tivesse ficado lá, poderia ter sido muito pior, poderia ter caído de uma vez. Mas o abrigo não vai ser para sempre, não sei para onde ir depois. Meus filhos agora estão se distraindo porque tem outras crianças aqui, mas no início foi bem difícil: eles choraram bastante porque queriam voltar para a casinha deles, queriam os brinquedos deles de volta" conta a dona de casa de 26 anos.

Solteiro, Luiz Ricardo Silva da Conceição, de 44 anos, morava sozinho numa casa de sua família há sete anos, no Alto da Serra. Apesar de ainda estar de pé, o imóvel está em risco, segundo a Defesa Civil. Desde o dia 16, ele está no mesmo abrigo de Andrielli.

"Caiu uma barreira ao lado da casa de três andares da minha vizinha, levando metade do imóvel. Se a pedra que ficou presa lá cair, desce o resto da casa dela junto com a minha. No dia da tragédia, eu estava no meu primeiro dia como atendente em um restaurante, emprego temporário de um mês. Agora, sem esse dinheiro, não sei para onde vou quando sair do abrigo. Não tenho nem como ir para casa de parentes, porque estão todas lotadas. Vou pedir o aluguel social", disse.

Jussara Aparecida mora na Chácara Flora há 40 anos. Além de sua casa, ela perdeu seus dois filhos na tragédia: Giulia Luiz Ribeiro, de 18 anos, e o pequeno Anthony Luiz Borges, de 2. Desde as chuvas da noite da terça-feira passada, quando perdeu sua casa, ela está abrigada em uma igreja da região. O corpo de Anthony foi encontrado nesta terça-feira pelos bombeiros.

"A gente não aguenta mais olhar para essa montanha de terra e saber que nossa família estava lá embaixo. Só na segunda-feira que conseguiram resgatar minha filha, mas demorou tanto que precisei fazer o enterro com o caixão fechado. A gente suspeita que há outros corpos por ali que ainda não foram encontrados também", lamentou a moradora, antes de receber a notícia de que o corpo de seu filho menor havia sido encontrado.

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