Vortioxetina: antidepressivo prova ser promissor no tratamento contra tumores cerebrais
Remédio, que já foi comprovado em culturas de células e camundongos, agora será analisado em humanos
Medicamentos que são eficazes contra tumores cerebrais são difíceis de encontrar, pois muitos medicamentos contra câncer frequentemente não conseguem atravessar a barreira hematoencefálica, que regula o transporte de substâncias entre o sangue e o sistema nervoso central, para chegar ao cérebro.
Neuro-oncologistas ao redor do mundo tentam há tempos encontrar medicamentos melhores que possam chegar ao cérebro e eliminar o tumor.
Pesquisadores da ETH Zurich descobriram agora uma substância presente em antidepressivos que podem combater tumores cerebrais.
Leia também
• O fim do "Zé Gotinha": Pernambuco inicia transição para novo esquema vacinal contra poliomielite
• AVC: Estudo revela que casos aumentaram 70% em 31 anos; veja as causas principais
• Mulheres já infectadas podem se beneficiar da vacina contra HPV
Incluindo o Glioblastoma é um tumor cerebral particularmente agressivo que atualmente é incurável. Atualmente, os médicos podem estender a expectativa de vida dos pacientes com este tipo de tumor por meio de operações, radioterapia e quimioterapia, porém, geralmente os pacientes morrem dentro de 12 meses após o diagnóstico.
O antidepressivo que está sendo analisado atualmente pelos pesquisadores e que pode combater eficazmente os glioblastomas é o vortioxetina.
Os cientistas descobriram que este medicamento, já aprovado por agências como a FDA nos EUA e pela Anvisa no Brasil, é capaz de cruzar a barreira hematoencefálica.
Sobre o estudo
Para desvendar isso, Sohyon Lee, autor principal do estudo, usou farmacoscopia, uma plataforma de triagem especial que os pesquisadores desenvolveram na ETH Zurich nos últimos anos que é capaz de testar simultaneamente centenas de substâncias ativas em células vivas de tecido cancerígeno humano.
O estudo, publicado no periódico Nature Medicine, focou principalmente em substâncias neuroativas que cruzam a barreira hematoencefálica, como antidepressivos, medicamentos para Parkinson e antipsicóticos.
No total, a equipe de pesquisa testou até 130 agentes diferentes em tecido tumoral de 40 pacientes.
Como resultado, os cientistas viram que a maioria dos antidepressivos foram eficazes contra as células tumorais.
Esses medicamentos funcionaram particularmente bem quando rapidamente desencadearam uma cascata de sinalização, que é importante para células progenitoras neuronais (células primitivas que possuem a capacidade de auto-renovação) e que suprime a divisão celular. A vortioxetina provou ser o antidepressivo mais eficaz.
Testado em camundongos
Na última etapa, os pesquisadores testaram o medicamento em camundongos com glioblastoma que se mostrou eficaz. Especialmente em combinação com o tratamento padrão atual (quimioterapia, radioterapia e cirurgias).
A equipe de pesquisadores agora está preparando dois ensaios clínicos a serem realizados com humanos. Em um deles, pacientes com glioblastoma serão tratados com vortioxetina, além do tratamento padrão; no outro, eles receberão uma seleção personalizada de medicamentos, que os pesquisadores determinarão para cada indivíduo usando a plataforma de farmacoscopia.
"A vantagem da vortioxetina é que ela é segura e muito econômica. Como o medicamento já foi aprovado, ele não precisa passar por um procedimento de aprovação complexo e pode em breve complementar a terapia padrão para esse tumor cerebral mortal ", diz Michael Weller, professor do Hospital Universitário de Zurique, diretor do Departamento de Neurologia e coautor do estudo.
Os médicos alertam, entretanto, as pessoas que tentarem obter o medicamento sem supervisão médica confirmando que os resultados da pesquisa, apesar de serem promissores, são iniciantes e recentes.
Ainda não se sabe o real funcionamento do medicamento contra o câncer, nem a dose necessária. “A automedicação seria um risco incalculável”, explica.
Até o momento o medicamento só foi comprovado em culturas de células e camundongos, no entanto, os médicos e pesquisadores estão esperançosos com os avanços e futuros resultados.