Rússia

Votação dos russos no Rio de Janeiro foi marcada por protesto solitário e concentração de eleitores

Muitos dos que foram à representação diplomática confirmaram que escolha do horário estava relacionada ao chamado feito por Navalny e seguido ao redor do mundo

Membros de uma comissão eleitoral local contam os votos durante as eleições presidenciais da RússiaMembros de uma comissão eleitoral local contam os votos durante as eleições presidenciais da Rússia - Foto: Anna Yurieva/AFP

Em um domingo marcado pela forte participação dos russos na eleição presidencial que deve dar a Vladimir Putin mais um mandato, o Consulado-Geral da Rússia no Rio de Janeiro viu um grande movimento perto do meio-dia, horário sugerido pelo ativista Alexei Navalny, morto no mês passado, para que seus apoiadores fossem às urnas demonstrar o descontentamento com o atual presidente. Segundo dados preliminares, ele foi reeleito com mais de 87% dos votos.

Famílias, casais idosos, turistas — a Rússia permite o voto em trânsito — e jovens formaram uma fila de cerca de 20 pessoas por volta do meio-dia, e alguns deles, ouvidos pelo GLOBO, confirmaram que a escolha do horário não foi por acaso.

— Senti que era importante aparecer, eu vim pensando em também ver as pessoas que compartilham dessas ideias — afirmou Kristina, que vive em Niterói, e veio acompanhada pela esposa.

Ela contou ter escrito um texto crítico ao presidente Putin e enviado à sua família na Rússia, mas como não teve resposta resolveu publicá-lo no Instagram.

— Minha família é apolítica. Eles dizem “o que vai mudar se eu votar, tudo já está decidido” — lamenta Kristina.

Gala, que vive em Portugal mas estava no Rio no dia da votação, afirma que tudo não passa de um processo “fake”, onde as cartas já estão marcadas.

— Mesmo assim, acho importante votar, é importante para mostrar que nem todos os russos apoiam Putin — explicou.

Além dos eleitores, duas patrulhas da Polícia Militar estavam na frente do consulado, em uma pacata rua do Leblon. Questionado sobre a preocupação com a segurança, o cônsul-geral, Andrei Petrov, disse ao GLOBO que não havia feito nenhum pedido especial, apenas a praxe em eleições de outros países no Brasil.

A votação aconteceu em uma das salas do consulado, à qual o Globo teve acesso. Na porta, um detector de metais reforçava a ideia de que segurança era uma questão. Desde a abertura das urnas, na sexta-feira, foram registrados diversos incidentes em seções eleitorais dentro da Rússia, como o uso de líquidos verdes despejados sobre as cédulas e até um coquetel molotov, lançado contra um posto de votação em São Petersburgo. Neste domingo, uma mulher perdeu parte do braço em Perm, na região dos Montes Urais, ao detonar uma bombinha em uma seção eleitoral.

No caso do Rio de Janeiro, a preocupação com protestos não se concretizou. Em março de 2022, integrantes do Partido da Causa Operária (PCO) e do Movimento Brasil Livre (MBL), trocaram socos e golpes com mastros de bandeiras no consulado, durante atos contra e a favor da invasão russa da Ucrânia.

Neste domingo, apenas um ato abertamente de protesto foi visto pela reportagem. Denis, um pintor que vive no Rio de Janeiro há nove anos, montou uma tela diante do Consulado e escreveu a frase “ei, Putin, vai tomar no c” — temendo uma represália da polícia, que o acompanhava de perto, ele não completou a palavra referente a um conhecido palavrão.

— Isso [a eleição] é fake, ele foi eleito cinco vezes, é preciso uma mudança — disse Denis, que usava uma camisa em defesa da libertação dos presos políticos — Putin é um corrupto, um assassino, um presidente falso.

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