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Racismo

'Zara, zerou': gerente vira réu por racismo após impedir entrada de delegada negra em loja no CE

Gerente responderá por, em setembro deste ano, ter agido de forma discriminatória contra a delegada Ana Paula Barroso, de 39 anos

Zara do Iguatemi FortalezaZara do Iguatemi Fortaleza - Foto: Reprodução Facebook

A Justiça aceitou a denúncia feita pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) e tornou réu por racismo o português Bruno Filipe Simões Antônio, de 32 anos, gerente da loja de roupas Zara de um shopping em Fortaleza. Ele responderá por, em setembro deste ano, ter agido de forma discriminatória contra a delegada Ana Paula Barroso, de 39 anos — uma mulher negra —, impedindo-a de entrar no estabelecimento, diferente do que foi feito com outros clientes brancos sob as mesmas condições, conforme mostraram imagens de câmeras de segurança obtidas pela Polícia Civil no curso do inquérito.

A denúncia foi recebida na última terça-feira (14) pela juíza Marileda Frota Angelim Timbo, da 14ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Ceará, que deu um prazo de dez dias para que o gerente se manifeste por escrito através do advogado que irá representá-lo no processo. "(...) provada a materialidade e determinada a autoria, a peça vestibular acusatória preenche as condições que autorizam a admissão da pretensão punitiva, iniciando o processo, com a possibilidade de ampla defesa aos acusados", escreveu a magistrada em ofício.

"A justiça está sendo feita", celebrou Ana Paula em contato com O GLOBO, ao ser questionada sobre o avanço no processo.

A denúncia de racismo por parte do gerente se tornou ainda mais acentuada quando, durante depoimentos colhidos pela Polícia Civil com funcionários e ex-funcionários da Zara, descobriu-se que havia um código, disfarçado de "Zara, zerou", que tocava toda vez que algum cliente considerado suspeito — por ser negro ou aparentemente mais humilde — entrasse na loja, uma forma de alertar vendedores e seguranças.

Em sua defesa, Bruno afirmou à polícia que impedira Ana Paula de entrar porque ela estava com a máscara abaixada, consumindo um sorvete — o que, nesse caso, é permitido pelo shopping. Seu argumento foi desconsiderado pelos investigadores quando imagens das câmeras de segurança da loja, obtidas através de ordem judicial, mostraram que, naquele mesmo dia, ele havia admitido clientes brancos sem máscara e até parado para conversar durante um tempo com uma mulher sem o item.

"Eu ainda estou com dificuldade de sair para um shopping, por exemplo. Isso tudo é desgastante, mas vai além da mulher Ana Paula. Eu fui só um instrumento desse processo, uma referência. Há muitas Anas Paulas que sofreram, estão sofrendo ou vão sofrer episódios como o que eu sofri. Infelizmente, muita gente, sem empatia, minimiza a nossa dor. Racismo é crime", disse Ana Paula, em entrevista exclusiva ao GLOBO em outubro.

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