'A gente vai sair junto', diz Bolsonaro ao lado de Guedes
Após uma semana tumultuada na área econômica em razão do drible no teto dos gastos, que resultou em uma debandada na equipe do ministro Paulo Guedes (Economia), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou, neste domingo (24), que não vai interferir em preços e que vai buscar dar segurança para o mercado.
O chefe do Executivo ainda buscou novamente afastar rumores de uma saída de Guedes do governo, dizendo que ambos vão "sair junto".
A fala aconteceu ao lado do ministro, convidado a acompanhar o presidente em um evento nos arredores de Brasília. Ao final, os dois concederam entrevista a jornalistas para tratar das questões econômicas.
Leia também
• Centrão alivia pressão sobre Guedes após drible ao teto de gastos
• Meirelles diz que gestão de Guedes não está funcionando
• Ao lado de Guedes, Bolsonaro fala em confiança e diz que não fará 'aventura' com Auxílio Brasil
O presidente aproveitou para elogiar o trabalho de Guedes, depois das turbulências da última semana. Ele disse que o ministro fez um trabalho excepcional em 2019 e "ainda melhor" em 2020. Quando Guedes foi questionado se permaneceria no governo, Bolsonaro se antecipou e respondeu: "A gente vai sair junto, lá na frente. Pode ter certeza disso", disse Bolsonaro.
Guedes, por sua vez, afirmou que a aprovação das reformas econômicas que estão em tramitação no Congresso compensaria o drible ao teto dos gastos, cobrando celeridade na tramitação. Ele aproveitou cobrar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), pelo avanço dessas reformas.
Guedes afirmou que Pacheco, cotado como candidato à presidência em 2022, precisa ajudar o governo se quiser se "viabilizar como uma alternativa séria".
"O presidente do Senado se lança agora à presidência da República. Se ele não avançar com as reformas, como é que vai defender a própria candidatura dele? Ele precisa avançar com as reformas, precisa nos ajudar a fazer as reformas. Ele não pode fazer militância também, e eu tenho certeza que ele não vai fazer", afirmou.
"Então se ele quiser se viabilizar politicamente como uma alternativa séria, ele precisa ajudar o nosso governo a avançar com as reformas", completou.
O ministro afirmou ainda que as reformas vão compensar o furo no teto dos gastos -segundo ele, apenas a administrativa resultaria em uma economia no futuro de R$ 300 bilhões.
Nesta semana, Guedes abriu mão de regras fiscais ao chancelar o drible ao teto de gastos para bancar o novo Bolsa Família, o Auxílio Brasil, novo programa social de Bolsonaro. A manobra afundou ainda mais as perspectivas da reforma do IR (Imposto de Renda), causou contrariedade no mercado e viu mais uma debandada na equipe.
Apesar de ter cedido à pressão do presidente, Guedes voltou a dizer neste domingo que defende o teto dos gastos, mas que Bolsonaro precisou tomar uma importante decisão política e evitar o sofrimento dos mais pobres.
"Vou continuar a defender o teto, as privatizações. Agora, o presidente precisa tomar as decisões políticas muito difíceis. Se ele respeita o teto, ele deixa 17 milhões de famílias passando fome", afirmou.
Ao mesmo tempo em que criticou Pacheco, o ministro elogiou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por ter avançado com as propostas que envolvem alteração no imposto de renda e também a PEC dos precatórios -aprovada em comissão da Casa.
Guedes também criticou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao afirmar que os governos petistas "quebraram o Brasil". Ele repetiu que Bolsonaro é um presidente popular, mas "não é populista".
"O presidente sempre apoiou as reformas. É um político popular, mas está deixando a economia ser reformista. Ele não é populista. Tem muito populista aí, inclusive candidato à Presidência, falando em R$ 600, R$ 700, R$ 800", afirmou, em referência a Lula, que defendeu esse valor de auxílio.
"Eles quebraram o Brasil e não taxaram os super-ricos. Quebraram o Brasil e não fizeram nada sobre essa roubalheira", completou.
Guedes também criticou economistas que criticaram o furo no teto dos gastos. Ele disse que o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega deixou o país com inflação de 5.000%, que o também ex-ministro da pasta Henrique Meirelles será candidato nas próximas eleições e que Affonso Celso Pastore foi presidente do Banco Central na ditadura, durante o governo de João Batista Figueiredo.
Bolsonaro, por sua vez, falou sobre o preço dos combustíveis, dizendo que ele não pode ser alterado por uma canetada. O presidente afirmou que isso já foi feito no passado e "não deu certo".
"Alguns querem que a gente interfira no preço. A gente não vai interferir no preço de nada. Isso já foi feito no passado e não deu certo", afirmou.
O mandatário ainda lembrou que os preços dos combustíveis serão novamente reajustados e que por isso vai implementar um auxílio aos caminhoneiros, embora reconheça que o valor é "pouco".
"Prevendo isso [aumento dos preços], se antevendo a isso, nós discutimos bastante um auxílio ao caminhoneiro. Sabemos que é pouco, R$ 400 por mês, é pouco, mas estamos fazendo isso no limite da responsabilidade fiscal", afirmou.
Bolsonaro também disse que está discutindo com o ministro da Economia uma solução para a Petrobras. Ele afirmou que a legislação atual mantém a estatal independente, e reconheceu que o processo de privatização é difícil. "Privatizar não é colocar na prateleira", afirmou.
Guedes também defendeu soluções para a Petrobras. O ministro afirmou que "a própria Petrobras é um veneno que pode virar vacina".