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Sem reconhecer derrota

A três dias da posse, bolsonaristas seguem financiando atos com vaquinhas, rifas e prêmios

PF deflagra operação para apurar a organização de atos violentos nas últimas semanas em Brasília

Atos antidemocráticosAtos antidemocráticos - Foto: Reprodução/CNN

Apesar das ações da Justiça para desmantelar e prender organizadores de atos golpistas em frente aos quartéis, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro seguem arrecadando fundos para os "dias finais" dos acampamentos em Brasília, a três dias da posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

A Polícia Federal deflagrou na manhã desta quinta-feira uma operação para apurar a organização de atos violentos nas últimas semanas em Brasília. São cumpridos 32 mandados de prisão e de buscas no Distrito Federal e outros sete estados.

A investigação teve início a partir dos atos violentos do dia 12 de dezembro, quando bolsonaristas tentaram invadir a sede da PF na capital federal e promoveram atos de depredação e vandalismo, incendiando veículos e promovendo o caos na cidade.

Mas até esta manhã, bolsonaristas mantinham vaquinhas virtuais, compartilhamento de chaves Pix para arrecadar dinheiro e até sorteios de R$ 10 mil em prêmios para ajudar a atrair doadores.

Mesmo tendo seu financiamento coletivo derrubado após arrecadar ao menos R$ 67 mil para bancar o ato em Brasília, o publicitário Rafael Moreno Souza Santos segue na empreitada de incentivar tumulto na posse de Lula.

Em sua "rifa solidária para a cozinha do QG patriota de Brasília", ele diz que vai premiar com uma transferência direta R$ 5 mil na conta do maior doador para o acampamento, e que sorteará outros cinco prêmios de R$ 1 mil para os demais vencedores.

Na quarta-feira, ele divulgou uma caravana de bolsonaristas para Brasília organizada por um apoiador do presidente Jair Bolsonaro chamado Leandro Lourenço. O ônibus planeja sair de São Paulo na sexta-feira, véspera da posse, passando por Jundiaí, Campinas, Sumaré e Americana, e retornar só no dia 2. O trajeto e datas devem coincidir com inúmeras excursões de petistas que vão à capital federal para a festa da posse de Lula, o que pode provocar confusões.

Procurado pelo Globo, Moreno disse ser contra "qualquer tipo de ato vandalista ou confusões", mas que não se responsabiliza por qualquer ato que venha a desestabilizar a ordem. Afirmou que está ajudando a alimentar os manifestantes em Brasília e a mandar caravanas para a cidade por meio das doações.

— O dinheiro está sendo utilizado exclusivamente pra alimentar os manifestantes acampados em Brasília e ajudar em algumas caravanas pra lá. Já mandei recurso para outros acampamentos também — declarou, ao ser questionado sobre as premiações que ele prometeu aos maiores doadores e a prestação de contas do dinheiro.

Também procurado, Lourenço não respondeu às mensagens.

Notas fiscais divulgadas por Santos como forma de prestação de contas indicam que ele já contribuiu para o acampamento com a compra de freezer, fogão industrial, cobertores e mantimentos como salsicha, molho de tomate, água e refrigerante.

Também apontam que ele repassou R$ 3.750 ao militante Srêwē da Mata de Brito para custear despesas com alimentação e transporte de indígenas da aldeia xerente (TO) até a capital Palmas no fim de novembro.

Os beneficiados participaram de uma "reunião preparatória a ser realizada nos dias 17 e 18 de novembro, em ambiente virtual", com organizadores do ato golpista em Brasília.

O engajamento de Moreno na realização dos atos golpistas elevou sua popularidade entre bolsonaristas. Neste mês ele bateu a marca de 700 mil seguidores no Instagram.

Em grupos bolsonaristas de Telegram, caravanas para o acampamento em Brasília são organizadas e divulgadas como "a última chance" de virar o jogo a favor de Bolsonaro.

"Atenção, patriotas, foco na missão. Caravanas para Brasília QG - Réveillon pelo Brasil é no quartel. Divulguem ao MÁXIMO, precisamos lotar o QG", diz uma das mensagens, com links para a compra de passagens em ônibus saindo de estados como Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Santa Catarina e São Paulo".

Mensagens de apoio à iniciativa de viajar a Brasília na virada do ano são compartilhadas também em grupos armamentistas do Telegram.

Um grupo de WhatsApp foi criado na quarta-feira para organizar todas as caravanas interessadas em disputar a capital federal com petistas. Intitulado "Reveillon em Brasília", o grupo tinha 195 membros até o início desta quinta-feira.

O chamado ao tumulto é endossado por figuras públicas com grande repercussão. O bolsonarista Guilherme Fiuza, seguido por 1,9 milhão de pessoas no Twitter, tem incentivado o golpismo:

"Brasileiros que não aceitam a tramoia eleitoral estão indo às ruas nos últimos dias do ano, inclusive em caravanas p/ Brasília. São democratas, são muitos e sabem o q fazem. A minoria cínica finge q esses brasileiros não existem ou q são terroristas. A maioria sabe que é maioria", escreveu na rede social.

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