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A um ano das eleições municipais, pré-candidatos a prefeituras já acenam a grupos religiosos

Para especialistas, o movimento é uma forma de atrair o segmento cristão antes do período eleitoral

Prefeito de Salvador, Bruno Reis, no Festival de Cultura EvangélicaPrefeito de Salvador, Bruno Reis, no Festival de Cultura Evangélica - Foto: Valter Pontes / Secom

A um ano das eleições municipais, pré-candidatos de ao menos 15 capitais batem ponto em eventos e templos religiosos na tentativa de se aproximarem dos fiéis. Para especialistas ouvidos pelo Globo, o movimento é uma forma de atrair o segmento cristão antes do período eleitoral, criando fidelidade.

Na maior cidade do país, São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que disputará a reeleição, e seu principal opositor, Guilherme Boulos (PSOL), têm se encontrado com lideranças religiosas. O emedebista participa constantemente de reuniões com pastores de grandes agremiações, como a Assembleia de Deus.

Com mais resistência no setor por ser de esquerda, Boulos esteve com líderes de igrejas da Zona Sul paulistana, região em que concentra a maior parte de seu eleitorado. Além dos dois pré-candidatos, a deputada Tabata Amaral (PSB) tem se aproximado do segmento com a ajuda do vice-presidente e principal entusiasta de sua campanha, Geraldo Alckmin, que ainda é um trunfo do governo Lula para estreitar laços com os religiosos.

— Já marcamos conversas com oito lideranças evangélicas importantes de São Paulo — disse Tabata.

Discurso na marcha
Candidato à reeleição, o prefeito de João Pessoa (PB), Cícero Lucena (PP), aproveitou a Marcha para Jesus na capital para discursar aos eleitores, assim como fizeram seus adversários.

— Entrego a chave, simbolizando a chave da cidade de João Pessoa, nas mãos do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo — declarou.

Na sequência, seus opositores também mandaram seus recados. O deputado federal Ruy Carneiro (PSDB) e o ex-prefeito Luciano Cartaxo (PT), que já estão em pré-campanha, publicaram fotos abraçados com fiéis na principal avenida da cidade.

Carneiro afirmou que acompanha as atividades religiosas por serem vinculadas a instituições sociais que fazem trabalho voluntário no estado:

— Os cristãos com certeza representam parte do meu eleitorado e procuro ouvir todas as vozes da sociedade.

Em Salvador, o prefeito Bruno Reis (União) não ficou sozinho no discurso na Marcha para Jesus. Pastor Sargento Isidório (Avante), pré-candidato que pode representar a base do governador Jerônimo Rodrigues (PT) no ano que vem, também marcou presença e fez discurso de tom religioso.

Esse cenário se repete em outras capitais, como Curitiba, em que o casal Fernanda e Deltan Dallagnol participa de agendas com pastores da Igreja Batista. Filiados ao Novo, eles não decidiram quem será candidato em 2024. Há incerteza sobre a inelegibilidade do ex-deputado, cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral, com base na Ficha Limpa. A decisão não menciona o prazo de oito anos longe das urnas; por isso, especialistas divergem sobre o veredito.

Por integrarem segmentos naturalmente organizados, fiéis católicos e evangélicos são públicos mais fáceis de se alcançar de uma só vez. A avaliação é de Vinicius do Valle, doutor em Ciência Política pela USP e pesquisador do Observatório Evangélico.

— O setor é relevante em números e está constantemente mobilizado. O religioso vai à igreja toda semana, o mesmo não ocorre com um sindicalista ou fã dos militares. Os políticos querem sair na frente, já querem disputar o apoio das denominações — diz Valle.

O segmento cresceu em termos populacionais e, logo, eleitoralmente. O ex-presidente Jair Bolsonaro foi uma das lideranças a receber adesão desse grupo religioso em pleitos passados. Na véspera da disputa de 2022, 63% dos evangélicos indicavam a intenção de votar nele, segundo o Datafolha. O cenário preocupou articuladores de Lula que, apesar de ter vencido as eleições, saiu em desvantagem entre o grupo que tende a aumentar nos próximos anos. Nesse contexto, nomes da esquerda tentam vencer essa resistência para 2024.

É o caso do prefeito de Recife, João Campos (PSB), que tem se dedicado a melhorar sua relação com os cristãos. Em março, tornou a Marcha Para Jesus patrimônio cultural imaterial da capital pernambucana. Cinco meses depois, em agosto, esteve na posse do arcebispo Dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa.

— O líder religioso da Igreja Católica sempre tem um peso muito grande na Região Metropolitana — disse à época.

Se, por um lado, políticos se empenham na busca por votos, por outro recuam na apresentação de proposições dedicadas ao segmento. É o que se vê no Congresso: na Câmara, desde janeiro, foram 15 proposições legislativas que citam o termo “evangélicos”. Em 2022, o total foi de 25, e em 2021, 28. Entre os projetos, está o reconhecimento da arte evangélica como manifestação cultural, e outro pede o aumento da pena para o crime de desrespeito a crenças e símbolos religiosos.

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