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Abandono de Salles aumenta "lista de preferências" de Bolsonaro por candidatos "menos bolsonaristas"

Joice Hasselmann, Abraham Weintraub e Janaina Paschoal foram outros aliados de perfil radical trocados por nomes mais moderados

Ricardo SallesRicardo Salles - Foto: Marcos Corrêa/PR

O abandono de Jair Bolsonaro (PL) à pré-candidatura do deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), seu ex-ministro do Meio Ambiente, se soma a uma lista de preterimentos de aliados considerados ideológicos por políticos tradicionais ou mais moderados.

Em 2019, ele rifou o projeto da então deputada federal Joice Hasselmann (PSL), neófita que trabalhava para ser a candidata do bolsonarismo à Prefeitura de São Paulo no ano seguinte. Após o rompimento entre os dois, Bolsonaro apoiou Celso Russomanno (Republicanos), ainda que sem entrar de cabeça em sua campanha. Figura carimbada das disputas pelo governo paulistano, o candidato amargou o quarto lugar daquele pleito.

Naquela eleição, Bolsonaro deixou de abraçar a candidatura do seu vice-líder na Câmara dos Deputados, Luiz Lima (PSL), à Prefeitura do Rio para apoiar o então prefeito, Marcelo Crivella (Republicanos). Os dois acabaram derrotados. Em São Paulo, em 2022, brigou com o ex-ministro da Educação, o ultra-radical Abraham Weintraub (PMB), e apoiou Tarcísio de Freitas (Republicanos), de perfil mais moderado e este sim vitorioso. Também no estado, na disputa pelo Senado, trocou a deputada mais votada da história, a polêmica advogada Janaina Paschoal (PRTB), pelo discreto Marcos Pontes (PL), ex-ministro da Ciência e Tecnologia. Funcionou, e Pontes se elegeu.

Agora, o abandono de Salles segue a mesma toada, já que o apoio se encaminha para acabar com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). A vinda de Bolsonaro para São Paulo duas semanas atrás foi o estopim para que Salles desistisse de concorrer à prefeitura. Além de não avisar o aliado da presença na capital, Bolsonaro cumpriu agendas ao lado de Nunes, e confessou, num jantar com empresários, o "namoro" com o projeto de reeleição do emedebista, que assumiu a gestão municipal após a morte de Bruno Covas, em 2021.

Um encontro em Brasília entre Bolsonaro e o diretor da Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, antecedeu o movimento do ex-presidente. A conversa teve como pauta o cenário eleitoral para 2024. Hidalgo expôs a Bolsonaro a avaliação de que, independentemente de quem seja o apadrinhado, o candidato que recebeu apoio tanto de Lula quanto de Bolsonaro estarão no segundo turno. O diagnóstico coloca Nunes, com um caixa bilionário em mãos e toda uma aliança de partidos construída desde 2020, à frente de Salles, que ainda lutava para ter o apoio unânime de sua sigla, o PL.

"O que a gente fala para o presidente (Bolsonaro) é que a eleição nas principais capitais, a nosso ver, vão continuar polarizadas. Então é óbvio que candidatos apoiados por ele e por Lula estarão no segundo turno. Agora, tudo depende de como o governo Lula vai estar em setembro de 2024. Se a economia estiver bem, o candidato do Lula se favorece" diz Hidalgo.

O ex-titular da pasta de Meio Ambiente vinha sofrendo uma sequência de reveses, que começaram com as investidas do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, contra a sua candidatura, e desembocaram nas duas agendas de Bolsonaro com Nunes duas semanas atrás, o que pegou Salles de surpresa e foi interpretado como um gesto ao seu rival.

O ex-presidente e o prefeito apareceram juntos em uma solenidade na capital paulista, que também teve a presença de Tarcísio, e depois almoçaram com empresários da região, Valdemar e o marqueteiro Duda Lima, braço-direito do presidente do PL que fez a campanha presidencial de Bolsonaro e agora trabalha com Nunes.

No almoço, Bolsonaro ouviu apelos para apoiar o prefeito. Seus aliados, em especial o ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, argumentam que as pesquisas eleitorais mostram que um candidato de centro-direita como Nunes seria mais competitivo do que Salles, descrito como de extrema-direita. Em São Paulo, lembram eles, há um forte voto da centro-esquerda. Não à toa, Bolsonaro e Tarcísio perderam para Lula e Fernando Haddad.

Bolsonaro respondeu que ainda tem tempo até 2024. Mas brincou que ainda tinha “muita tubaína” para tomar com Nunes até que o “namoro” virasse “casamento”. Embora nunca tenha declarado apoio público a Nunes, o ex-presidente já afirmou que é "simpático" ao prefeito e o vê como uma opção.

Fiel escudeiro de Bolsonaro e cotado até como um possível vice de Ricardo Nunes, como mostrou a colunista do Globo Bela Megale, Wajngarten tem defendido que Bolsonaro seja mais pragmático nas eleições municipais do ano que vem. A avaliação do ex-secretário é que uma derrota expressiva em 2024 atrapalharia os planos de Bolsonaro para 2026. Esse mesmo temor fez o ex-presidente vetar a candidatura de Flávio Bolsonaro à prefeitura do Rio.

A costura com o emedebista, na visão de aliados de Salles, ainda tem a digital de Tarcísio, que vinha demonstrando alguma resistência em endossar desde já a candidatura do ex-colega de Esplanada. Como mostrou O Globo, o governador rejeitava a ideia de apoiar Salles. Os dois herdaram uma relação conturbada do governo federal. Além de criticar a postura polêmica do ex-ministro do Meio Ambiente, Tarcísio teria atuado para que o ex-ministro fosse destituído de dois conselhos de administração para os quais foi indicado pela Infraero, vinculada ao então ministério da Infraestrutura.

Além da antipatia pelo ex-colega de governo, Tarcísio avaliava que um eventual palanque para Salles em 2024 comprometeria o seu tom moderado à frente do Executivo paulista.

Aliados de Eduardo Bolsonaro dizem que dirigentes de partidos do centro se irritaram com Salles por seu discurso durante um evento de direita organizado pelo deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP) no começo do ano, em que o ex-ministro associou o Centrão a um "câncer". O vídeo da declaração rodou grupos de WhatsApp de políticos de partidos como o Progressistas.

Apesar da aproximação de Bolsonaro com Nunes, o entorno do ex-presidente tem se incomodado com o fato de o prefeito "esconder" Bolsonaro das redes sociais, assim como fez na campanha eleitoral. Os diversos almoços e encontros entre os dois são geralmente omitidos das publicações de Instagram, por exemplo. Existe uma pressão para que Nunes passe a "bolsonarizar" desde já sua comunicação se quiser o apoio oficial do ex-presidente em sua campanha.

"Queimou largada"
Mesmo aliados de Salles avaliam que ele queimou a largada ao antecipar sua candidatura. Em vez de se reunir com vereadores do PL e caciques de São Paulo para construir apoio na base, o ex-ministro investiu no aval de Bolsonaro e conseguiu agregar poucos parlamentares de fora do núcleo bolsonarista.

Auxiliares de Bolsonaro lembram que o ex-presidente nunca afirmou que Salles era seu candidato. Apenas respondeu, em uma entrevista no dia 30 de março, assim que voltou de seu autoexílio dos Estados Unidos, que Salles era mais experiente que seu filho, Eduardo Bolsonaro, para disputar o posto. Pessoas próximas ao ex-presidente dizem que a fala foi, na verdade, para rifar Eduardo da eleição municipal, assim como fez com Flávio, no Rio.

Por outro lado, Bolsonaro alimentava, nos bastidores, a possibilidade de estar ao lado do ex-ministro. Numa das vezes em que esteve na casa de Salles, disse para ele ir "tocando" o projeto.

Nada garantido
O entorno de Bolsonaro afirma que não há um apoio garantido a Nunes no ano que vem, embora exista, sim, uma aproximação entre os dois. A avaliação é que preciso aguardar o desenrolar do ano para saber como o prefeito aparecerá nas pesquisas eleitorais.

Uma ala do PL defende, ainda, que Nunes se filie ao partido. Ele, porém, resiste à ideia. Argumenta que o MDB foi seu único partido e não teria motivos para deixá-lo.

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