Pedido de investigação

Abin paralela: grupo pede à Justiça de Israel investigação sobre uso de programa espião no Brasil

Advogado que atua na área de direitos humanos defende que a empresa israelense Cognyte seja investigada

Agência Brasileira de Inteligência (Abin)Agência Brasileira de Inteligência (Abin) - Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil

Um grupo formado por ativistas, médicos e escritores liderados pelo advogado Eitay Mack, que atua na área de direitos humanos, enviou à Procuradoria-Geral de Israel um pedido de abertura de investigação criminal contra a empresa israelense Cognyte, desenvolvedora do programa espião FirstMile.

A ferramenta foi usada de forma indevida na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para monitorar a localização de alvos pré-determinados.

O pedido foi revelado pelo portal ICL Notícias e confirmado pelo Globo. O documento, dirigido à procuradora-geral Gali Baharav-Miara, foi assinado por Mack representando outras 32 pessoas. Nele, o advogado ressalta que o software foi usado no Brasil entre 2019 e 2021 em monitoramentos sem autorização judicial.

O caso foi revelado pelo Globo em março do ano passado. Após reportagem, a Polícia Federal (PF) abriu um inquérito e identificou que o sistema espião foi utilizado para espionar políticos, jornalistas, advogados e adversários de Bolsonaro.

A investigação da PF aponta que houve mais de 60 mil acessos ao programa espião entre 2019 e 2021 — em 21,3 mil casos, foram geradas informações de geolocalização. Eitay Mack explicou no documento que o monitoramento era realizado para prejudicar adversários políticos e que as informações sobre esses alvos foram armazenadas em Israel. Este é o segundo pedido de investigação feito por Mack envolvendo a empresa Cognyte. O primeiro foi em janeiro do ano passado, para apurar a atuação da empresa em Mianmar.

"Uma investigação criminal precisa ser aberta não apenas contra a Cognyte, seus proprietários e funcionários, mas também contra os funcionários israelenses no Ministério das Relações Exteriores e Ministério da Defesa que presumivelmente aprovaram as licenças de exportação dos equipamentos de defesa da Cognyte para o Brasil, ou alternativamente, presumivelmente abusaram do seu poder e decidiram fechar os olhos e não fazer cumprir a lei sobre esta empresa", pontuou Mack.

Ao Globo, o advogado afirmou que “o Brasil não é o único país do mundo onde um sistema de vigilância israelense tem sido usado para prejudicar a democracia”.

– A empresa Cognyte não operava no Brasil por conta própria, mas com licença do governo de Netanyahu (Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel]. Como cidadãos israelenses, queremos acabar com a exportação de armas e sistemas de vigilância para ditaduras e democracias em colapso, como o Brasil durante o regime de Bolsonaro, e também fazer justiça para as vítimas no Brasil da FirstMile. Trata-se de empresas e funcionários israelitas, suspeitos de cometerem crimes conforme a lei penal israelense, pelo que também deve ser aberta uma investigação independente e separada em Israel, relativamente a este grave caso.

Operações
Nos últimos dias, a PF deflagrou duas operações que atingiram o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-chefe da Abin, e o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A investigação indica que Ramagem integrava uma organização criminosa que atuava “com intuito de monitorar ilegalmente” autoridades. Já no caso do vereador, a polícia diz que ele fazia parte do núcleo político da organização. Ambos negam as acusações.

Veja também

Como Israel construiu uma empresa de fachada para colocar explosivos nos pagers do Hezbollah
ORIENTE MÉDIO

Como Israel construiu uma empresa de fachada para colocar explosivos nos pagers do Hezbollah

PF vai identificar quem está usando o X de forma irregular após decisão que suspende plataforma
BRASIL

PF vai identificar quem está usando o X de forma irregular após decisão que suspende plataforma

Newsletter