Abin paralela: membros discutiram tiro na cabeça de Moraes e produziram dossiê contra ministro
Investigação apura espionagem de autoridades por meio do programa israelense FirstMile
As investigações da Polícia Federal que resultaram na operação desta quinta-feira (11) identificaram trocas de mensagens em que os integrantes da ‘ Abin paralela’ da gestão de Jair Bolsonaro sugerem ações violentas contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que incluíam dar um ‘tiro na cabeça’ do magistrado.
Em mensagens trocadas em agosto de 2021, membros da estrutura paralela discutiam sobre um inquérito da PF, que investigava um ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral, quando um dos investigados diz: “Tá ficando foda isso. Esse careca tá merecendo algo a mais”.
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Outro investigado responde: “7.62” (termo que se refere à calibre de munição).
Neste momento, o interlocutor acrescenta: “head shot”, que na tradução para o português significa “tiro na cabeça”.
Ao longo da troca de mensagens, os investigados discutem diversas alternativas para o futuro do ministro, que incluíam, além de medidas violentas, a abertura de um processo de Impeachment.
As quebras de sigilo feitas pela PF nos celulares dos investigados também identificaram que eles atuaram na produção de dossiê contra o ministro do Supremo.
Nesta quinta-feira, a Polícia Federal realiza realizou a 4ª fase da Operação Última Milha, com o objetivo de desarticular organização criminosa voltada ao monitoramento ilegal de autoridades públicas e à produção de notícias falsas, utilizando-se de sistemas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Foram expedidos cinco mandados de prisão preventiva e sete mandados de busca e apreensão pelo Supremo Tribunal Federal, nas cidades de Brasília/DF, Curitiba/PR, Juiz de Fora/MG, Salvador/BA e São Paulo/SP.
Até o momento, quatro pessoas foram presas e uma ainda não foi localizada.
O uso do programa espião FirstMile foi revelado pelo Globo.
Entre os alvos da ação, estão ex-servidores cedidos para Abin e influenciadores digitais que trabalhavam no chamado "gabinete do ódio" do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Quatro prisões já foram efetuadas: Giancarlo Gomes Rodrigues; Matheus Sposito, que foi assessor da Secretaria de Comunicação Social (Secom) na gestão passada; Marcelo de Araújo Bormevet; e Richards Dyer Pozzer.
Nesta fase, as investigações revelaram que membros dos três poderes e jornalistas foram alvos de ações do grupo, incluindo a criação de perfis falsos e a divulgação de informações sabidamente falsas.
A organização criminosa também acessou ilegalmente computadores, aparelhos de telefonia e infraestrutura de telecomunicações para monitorar pessoas e agentes públicos.
"Os investigados podem responder, na medida de suas responsabilidades, pelos crimes de organização criminosa, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, interceptação clandestina de comunicações e invasão de dispositivo informático alheio", informou a PF, em nota.