Aliados de Bolsonaro, sogro vetado e cotados para o STF 'grudados': a posse de Zanin em 9 pontos
Ex-advogado do presidente em processos da Operação Lava-Jato assumiu cadeira na Suprema Corte
Cerca de um mês e meio após ter sua nomeação aprovada no Senado, o advogado Cristiano Zanin tomou posse, nesta quinta-feira (3), como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). A cerimônia que oficializou a chegada do novo integrante da Corte aconteceu na sede do órgão, em Brasília, em uma solenidade curta, de aproximadamente 15 minutos. Apesar de rápido, o evento contou com uma série de momentos simbólicos e marcantes.
Responsável pela indicação de Zanin, que o defendeu em processos da Operação Lava-Jato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o primeiro a cumprimentar o ministro já empossado. Já a presidente do STF, ministra Rosa Weber, quebrou o protocolo da cerimônia, que não inclui discursos, e fez elogios públicos ao novo colega.
Veja, abaixo, nove momentos que marcaram a posse de Zanin no STF.
Sogro vetado
Responsável por apresentar Zanin a Lula, de quem é compadre, o advogado Roberto Teixeira, sogro do novo ministro, não foi convidado para a cerimônia de posse. Os dois dividiram um escritório de advocacia, mas a sociedade foi desfeita em 2022 devido a questões pessoais. A partir de então, Zanin e Teixeira passaram a duelar na Justiça por honorários milionários, o que culminou no rompimento definitivo entre os dois parentes.
Aliados de Bolsonaro
Se o sogro de Zanin não pôde estar presente, alguns aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PT), que tem em Lula seu maior antagonista, não perderam a cerimônia. Ex-assessor especial do governo passado, período em que também ocupou o posto de secretário executivo da Casa Civil, José Vicente Santini esteve no evento. Nomeado pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas — também aliado de primeira hora de Bolsonaro —, Santini está lotado atualmente no escritório de representação da administração paulista em Brasília.
Advogada do ex-presidente em vários processos, Karina Kufa também bateu ponto na cerimônia de posse, o que inclusive rendeu críticas à profissional nas redes sociais. Ela rebateu os ataques: "Sou advogada e sempre mantive boa relação com o Judiciário. Não milito contra o poder em que atuo. Avisei o meu cliente (Bolsonaro) sobre o apoio ao ministro Zanin e a participação na posse. Não me importo com opinião de invejoso".
Doria também marca presença
Responsável por duras críticas a Lula no passado, o ex-governador de São Paulo João Doria — que também acabou rompendo com Bolsonaro — foi outro personagem distante do petismo a marcar presença na cerimônia. Afastado da política desde que deixou o Palácio dos Bandeirantes, no fim do ano passado, Doria optou por se reaproximar do meio nesta quinta-feira em virtude da posse de Zanin.
Os atrasados
Com o plenário já completamente lotado, a execução do hino nacional pela banda dos fuzileiros navais, que marca o início da solenidade, começou com alguns nomes de peso ainda tentando ingressar na Suprema Corte. Àquela altura, seguiam na fila, por exemplo, o líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu, e o ministro da Previdência, Carlos Lupi. Já a presidente do partido de Lula, Gleisi Hoffmann, só entrou quando a cerimônia já havia terminado.
Corregedor festejado
Relator da ação que tornou Bolsonaro inelegível no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, Benedito Gonçalves, foi efusivamente celebrado por petistas, que o cercaram para cumprimentos. Deputados como José Guimarães, lider do governo, Vicente Cândido e Carlos Zarattini felicitaram o ministro e passaram alguns minutos elogiando sua atuação no TSE.
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Preterido comparece
Pouco antes de Lula oficializar sua escolha, dois nomes despontavam como favoritos para a vaga no STF aberta com a aposentadoria de Ricardo Lewandowski: o do próprio Zanin e o do advogado, chancelado pelo ministro que estava de saída, com quem trabalhou. Mesmo preterido pelo presidente, Manoel Carlos de Almeida Neto não deixou de prestigiar a posse do "vencedor" da disputa nesta quinta-feira.
— Tenho a absoluta certeza de que Zanin honrará a toga do ministro Ricardo Lewandowski. É um grande jurista — disse o preferido de Lewandowski ao Globo.
Cotados lado a lado
Com Zanin empossado, os olhos já se voltam para a nova cadeira a ser aberta no STF: a da ministra Rosa Weber, que se aposenta até outubro. Uma cena curiosa marcou a solenidade desta quinta-feira: três dos principais cotados para vaga de Rosa sentaram-se lado a lado. Não se sabe se Flávio Dino (ministro da Justiça), Jorge Messias (advogado-geral da União) e Bruno Dantas (presidente do Tribunal de Contas da União) trataram do tema durante o evento.
— O Supremo Tribunal Federal julga causas difíceis e, portanto, ter um ministro que tem coragem de se posicionar de acordo com a lei, mesmo em instantes de muita contradição, de muita polêmica, é um atributo importante. Acho que o ministro Zanin vai dar uma grande contribuição à história do Supremo — afirmou Dino na saída da cerimônia.
Elogios de Rosa
A cerimônia para 350 convidados foi aberta pela presidente da Corte, ministra Rosa Weber, a quem coube formalizar o ingresso de Zanin. Quebrando o protocolo, a magistrada realizou uma breve fala de boas-vindas.
— Eu, na condição de presidente e em nome todo o colegiado, quero lhe dar as boas-vindas. Estou convicta que vossa excelência enriquecerá esse colegiado — falou a presidente do STF.
Lula contido
O presidente Lula foi o primeiro a cumprimentar Cristiano Zanin após a cerimônia de posse. Os dois deram um abraço carinhoso e conversaram por poucos segundos, posando para fotos em seguida. Na saída, abordado por jornalistas, o presidente foi econômico nas palavras e brincou:
— Hoje é o juiz que fala.