política

Aliados de Ciro Gomes se aproximam do PSDB em meio a embate com Lula e divisão no PDT

Pedetista alimentou fim de aliança com petistas no Ceará, na contramão do irmão, o senador Cid Gomes. Relação com tucano Tasso Jereissati estreita diálogo

Ciro Gomes, candidato do PDT à Presidência da RepúblicaCiro Gomes, candidato do PDT à Presidência da República - Foto: Reprodução/Twitter

Sem abrir portas para uma reaproximação com o presidente Lula (PT), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), derrotado na eleição presidencial de 2022, vê aliados pedetistas se aproximarem do PSDB, de olho na construção de uma alternativa ao PT e ao bolsonarismo. No Ceará, uma divisão no PDT coloca, de um lado, a ala do partido mais próxima a Ciro, que defende o rompimento total com o PT; de outro lado, o senador Cid Gomes (PDT-CE), seu irmão, é favorável ao restabelecimento da relação de seu grupo político com o governador petista Elmano de Freitas, correligionário de Lula.

Em processo de reformulação nacional sob a batuta do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), os tucanos miram as eleições municipais de 2024 como um teste para uma nova plataforma política de “terceira via”. No Ceará, o partido vislumbra a chance de integrar uma gestão que sirva como vitrine nacional. O ex-senador Tasso Jereissati, atual presidente estadual do PSDB cearense, prepara uma passagem de bastão para o vice-prefeito de Fortaleza, Élcio Batista, recém-filiado à sigla.

Batista é próximo de Ciro e aliado do atual prefeito Sarto Nogueira (PDT), um dos integrantes da ala minoritária do PDT que convergiu com a postura de enfrentamento ao PT.

Cid, que declarou apoio a Ciro à Presidência mesmo discordando da condução política do irmão, agora pilota o diálogo do PDT com o PT a nível estadual, tese que conta com apoio da maioria dos deputados e prefeitos pedetistas. O senador avalia que Ciro, atualmente passando uma temporada nos Estados Unidos, deve seguir no PDT por ter liberdade de posicionamento no partido, além de maior “afinidade programática” do que em relação a siglas de “terceira via”, como o PSDB. Ele reconhece, porém, que a aproximação com governos petistas sofre resistência dos aliados mais próximos do irmão.

O PT pretende lançar candidato à prefeitura de Fortaleza em 2024 para concorrer contra Sarto, que segue alinhado ao ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT), derrotado ao governo do Ceará no ano passado com apoio de Ciro.

"Ciro tomou uma decisão, que a meu juízo não voltará atrás, de desvincular seu nome do PT e de Lula. Por ter uma relação forte com Tasso, isso pode dar margem para que pessoas ligadas a ele façam esse movimento (migração para o PSDB), mas acredito que sem incluir o próprio Ciro e se limitando ao Ceará" declarou o senador.

A relação entre Ciro e Tasso remonta ao início da trajetória política do ex-ministro, eleito governador do Ceará em 1990 pelo PSDB – partido que deixou após romper com o então presidente Fernando Henrique Cardoso, quando este se lançou candidato à reeleição. Tasso apoiou no ano passado o nome bancado por Ciro, Roberto Cláudio, cuja candidatura ao governo ensejou o rompimento de uma aliança local de duas décadas entre PT e PDT. Neste mês, o ex-senador tucano criticou a gestão do petista Elmano de Freitas, acusando-o de “cooptar” a oposição através da distribuição de cargos, “como Lula também está querendo fazer”.

Um dos que ganharam espaço no novo governo foi o ex-deputado Tin Gomes (PDT), primo de Ciro e de Cid, nomeado como presidente do Ceasa no Ceará. A nomeação teve a chancela do ex-governador e atual ministro da Educação, Camilo Santana (PT), com quem Ciro rompeu no ano passado. O PDT também emplacou dois de seus deputados em secretarias estaduais.

No PSDB, a aproximação com o espólio de aliados de Ciro no Ceará alimenta um reposicionamento do partido como braço de oposição a Lula, enquanto busca demarcar distância para o bolsonarismo. O governador gaúcho Eduardo Leite, que assumiu a presidência da sigla interinamente em fevereiro – e deve ser formalizado no comando tucano na convenção nacional, em novembro –, vem articulando mudanças em diretórios regionais, com foco em trazer sangue novo para a linha de frente do partido.

O próprio Leite é encarado internamente como nome a ser preparado pelo partido para concorrer à Presidência em 2026.

"O PSDB quer apresentar uma agenda desvinculada do extremo bolsonarista e da forma como o PT está conduzindo o governo, ambos sem gerar consensos - afirmou o vice-prefeito de Fortaleza, Élcio Batista, que se reuniu com Ciro antes de sua viagem aos EUA em dezembro." Ciro tem uma trajetória de muitas entregas e tentou evitar que a gente caísse nessa polarização. Mas ainda não sabemos qual será seu novo contexto (político).

No caso do PDT, embora o partido faça parte do primeiro escalão do governo Lula, lideranças não descartam uma candidatura própria na próxima eleição nacional.

Presidente licenciado do PDT, o ministro Carlos Lupi (Previdência) já teve atritos com lideranças petistas no início do governo por contestar a existência de um déficit na Previdência e por articular uma redução da taxa de juros no consignado do INSS. Já o senador Cid Gomes, embora trabalhe pela aproximação com o PT no Ceará, tem apresentado divergências com o governo federal e criticado a articulação do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), no Congresso.

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