Alvo de Bolsonaro, Dilma diz a Lula que defenderá seu governo
Com alta rejeição e atrás de Lula nas pesquisas, Bolsonaro tem usado os anos Dilma, que tiveram indicadores econômicos ruins, para retratar os governos do PT
A ex-presidente Dilma Rousseff virou pivô da pré-campanha à Presidência da República. Enquanto o presidente Jair Bolsonaro usa a gestão da petista com o intuito de desgastar o ex-presidente Lula, seu principal adversário nas eleições de outubro, a tentativa do PT de esconder a ex-titular do Palácio do Planalto virou uma saia justa no partido.
Ontem, Bolsonaro afirmou que um terceiro mandato de Lula significaria a volta da ex-presidente ao governo. Sem lugar no comando da campanha de Lula, Dilma, por sua vez, já avisou ao ex-presidente que vai defender a própria gestão publicamente sempre que julgar necessário, como informou a colunista Malu Gaspar.
Com alta rejeição e atrás de Lula nas pesquisas, Bolsonaro tem usado os anos Dilma, que tiveram indicadores econômicos ruins, para retratar os governos do PT como um todo. Ontem Bolsonaro voltou a bater em figuras petistas com desgaste público, estratégia antecipada pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, em entrevista ao Globo na semana passada.
"Alguém acha que, se o cara (Lula) voltar, José Dirceu não vai para a Casa Civil? Dilma para o Ministério da Defesa? É Defesa, né, já que ela é mandona. E é uma arma poderosa, vamos dizer assim", disse o presidente, em evento da Petrobras em Itaboraí, na região metropolitana do Rio.
A presença de Dilma tem gerado saia justa no PT. Uma ala do partido considera que exibi-la na campanha pode prejudicar a candidatura de Lula. Na semana passada o ex-presidente afirmou, em entrevista à rádio CBN Vale do Paraíba, que ela não teria papel em um eventual novo governo e que se cercará de quadros novos. Na ocasião, Lula elogiou sua sucessora do ponto de vista técnico, mas criticou sua conhecida falta de jogo de cintura na política.
Em encontro no último dia 13 com Lula, foi claro e direto o recado de Dilma, segundo a colunista Malu Gaspar: ainda que o partido possa querer escondê-la na campanha, a ex-presidente vai defender o próprio governo publicamente sempre que julgar necessário.
Na conversa, que durou mais de quatro horas e foi testemunhada pela presidente do PT, deputada Gleisi Hoffman (PR), e pelo ex-ministro Aloizio Mercadante, Dilma afirmou que não pensa em se candidatar a nada em 2022. Em 2018 ela terminou em quarto lugar na disputa pelo Senado em Minas Gerais.
A interlocutores, Dilma costuma repetir que sabe não fazer parte da estratégia de campanha e nem dos planos de Lula para um eventual governo, mas que não pretende se esconder.
Ela não foi convidada, por exemplo, para o encontro, ao qual compareceram alguns defensores do seu impeachment, e que serviu para sacramentar a aliança como ex-tucano Geraldo Alckmin, cotado para vice de Lula. Dilma tem restrições a essa aliança, mas sabe que ela é um desejo do ex-presidente.
Já o ex-ministro José Dirceu afirmou à colunista Bela Megale, do Globo, que não ocupará qualquer cargo caso Lula seja eleito. O ex-ministro tem afirmado que fará 76 anos e que sua prioridade é buscar reverter as condenações que pesam contra ele, e seguir com sua “luta política”.
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"Lula nunca indicou ou permitiu discussão antes de vencer as eleições. Segundo, não tenho a intenção e não vou ocupar cargos caso ele seja eleito", disse Dirceu.
Ele afirmou ainda que, devido à sua situação na Justiça, não pode ocupar cargos públicos, mesmo que estes não sejam eletivos. O ex-ministro tem viajado o Brasil e feito articulações em busca de apoio para a campanha de Lula à Presidência. Essas ações ocorrem de maneira independente da campanha do petista. No ano passado, Lula e Dirceu chegaram a ter reuniões semanais por vídeo com outros petistas sobre o cenário eleitoral, entre outros temas. Neste ano, essas agendas não foram retomadas.
Ontem Dilma participou, por videoconferência, de seminário promovido pelo PT. Assim como Lula, ela ressaltou a importância de o partido focar na eleição de deputados e senadores para que haja sustentação a um possível governo do PT.
No encontro, do qual também participou de forma virtual, Lula criticou a relação do governo Bolsonaro com o Congresso e a elaboração do chamado orçamento secreto. Em discurso, o petista disse que Bolsonaro era “subserviente” aos interesses dos parlamentares.