Análise: pane nas prévias não foi só do aplicativo, foi do próprio PSDB
O partido, que chegou duas vezes à presidência da República, terminou o domingo incapaz de organizar suas próprias prévias
Em meio ao vexame com o aplicativo de votação das prévias tucanas, não há dúvidas de quem foi o maior perdedor: o próprio PSDB. A sigla, que quer protagonizar a construção da terceira via, para além da polarização entre Bolsonaro e Lula, fragilizou mais sua imagem.
O partido, que chegou duas vezes à presidência da República, terminou o domingo incapaz de organizar suas próprias prévias. Nos últimos anos, contrariou suas bandeiras históricas e a orientação de seu presidente, se alinhando repetidamente ao bolsonarismo e ao Centrão.
E, enquanto o PSDB se esfacela e seus candidatos patinam nas pesquisas, o ex-juiz Sergio Moro é quem ganha pontos, ampliando espaço na centro-direita para sua eventual candidatura.
Depois de tanta confusão ontem e de tucanos da velha guarda ficarem ruborizados com o que viam, fazer previsões sobre como terminarão estas prévias tucanas requer uma bola de cristal. Certo é que se ampliou ainda mais o fosso entre as candidaturas dos governadores João Doria e Eduardo Leite, cujos grupos se digladiam nos bastidores e se distanciam cada vez mais de qualquer perspectiva futura de unidade partidária.
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Após um ensaio de reconciliação semana passada e um encontro regado a chimarrão em Porto Alegre, desde sábado o tom das acusações entre os dois lados escalou a ponto de complicar ainda mais um difícil esforço para transparecer harmonia.
Durante a votação no evento presencial em Brasília, uma aliada de Leite acusou o paulista de compra de votos. Já a equipe de Doria sustenta que dirigentes da comissão das prévias direcionaram o processo para favorecer Leite, a mando do deputado mineiro Aécio Neves, desafeto do paulista. Não está descartada, aliás, a possibilidade de judicialização do processo.
Difícil imaginar que Doria ou Leite possam se engajar na campanha daquele que for o escolhido do partido. Tucanos experientes avaliam que a equipe do vencedor teria que incorporar parte da do rival para se virar a página. Em que pese o tamanho da máquina do governo de São Paulo e o peso no colégio eleitoral, pois Doria já larga de um patamar de 35% de presumíveis votos, o entorno do gaúcho reclama nos bastidores que o governador paulista jogou sujo para vencer a qualquer custo. E Leite, em caso de derrota, já avalia estudar no exterior.
Leite poderia ser um trunfo para Doria, que precisa ganhar capilaridade no eleitorado jovem e LGBT. Há quem aposte que ele poderia até contribuir para reduzir a rejeição do paulista, o que nem a vitoriosa política de vacinação contra a Covid-19 foi capaz, como frisam dirigentes de outros partidos de centro, observadores atentos da implosão tucana.
O paulista ainda teria que fazer algum tipo de concessão a Aécio Neves, já que é praticamente impossível chegar ao Planalto sem vencer em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país. Por outro lado, o gaúcho precisaria do apoio de São Paulo na tentativa de se fazer mais conhecido nacionalmente e deixar de ser uma liderança vista como apenas regional, amplificada por sua plataforma anti-Doria.
Entre uma pane e outra, o grande perdedor de domingo foi o PSDB.