Anderson Torres: "Bolsonaro entrou num processo introspectivo, acho até depressivo"
Ex-ministro prestou depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral no processo que pode tornar o ex-presidente inelegível até 2030
O ex-ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro, Anderson Torres, afirmou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que após divulgado o resultado das eleições de 2022, o ex-presidente entrou em "um processo depressivo". Em depoimento obtido pelo Globo, Torres contou ainda que após anunciada a vitória de Lula, o ex-chefe do Executivo passou por um período "bastante isolado".
— Após a eleição de 2022, o presidente Bolsonaro entrou num processo introspectivo, acho até depressivo. Me desculpe falar dessa forma. Ele desenvolveu uma doença, erisipela, abriu uma ferida grande na perna dele. É até ruim falar das intimidades do presidente. Ele ficou bastante isolado fazendo esse tratamento — afirmou Torres, ao ser questionado se manteve contato com o então presidente e se chegou a falar com ele sobre o resultado do pleito.
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As declarações foram dadas em caráter sigiloso no âmbito da ação que investiga os ataques às urnas eletrônicas feitos por Bolsonaro em reunião com embaixadores em julho de 2022. O julgamento do processo será retomado nesta quinta-feira e, caso condenado, Bolsonaro pode ficar inelegível até 2030. Até o momento, apenas o relator da ação apresentou seu voto defendendo que o ex-chefe do Executivo perca seus direitos políticos.
Torres ainda afirmou ter ido poucas vezes no Palácio da Alvorada, após o segundo turno das eeiçoes, e que as visitas foram estritamente de caráter pessoal, garantindo ainda não ter comentado com Bolsonaro sobre a minuta golpista que tinha levado para sua casa. O documento foi encontrado pela PF durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão no começo deste ano.
— Eu acho que após a eleição, o presidente passou por um período de enfermidade e por um período de depressão. Eu acho que ele ficou chateado com o resultado da eleição, mas jamais tocou nesse tipo de assunto — falou novamente Torres.
Esta não foi a primeira vez que Torres contou de sua preocupação com o estado psicológico de Bolsonaro após a derrota nas urnas. Em depoimento à Polícia Federal em maio, no inquérito que investiga a atuação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no dia do segundo turno da eleição presidencial do ano passado, afirmou pela primeira vez que o presidente havia desenvolvido uma erisipela. Segundo Torres, o ex-presidente “pouco recebia seus assessores e ministros, passando a ficar recluso em sua residência”. Questionado se Bolsonaro deixou claro o inconformismo com a derrota nas urnas, o ex-ministro respondeu que “na verdade ele ficou decepcionado com a derrota e não inconformado”.
No depoimento ao TSE, o ex-ministro falou ainda que apesar de ter participado de uma live em que o então presidente Jair Bolsonaro fez acusações sobre fraudes nas eleições, nunca teve acesso a qualquer informação da Polícia Federal sobre a manipulação de resultados eleitorais. Torres disse que apenas leu, nos minutos finais da transmissão, um relatório produzido pela Polícia Federal. De acordo com o ex-ministro, o documento apenas sugeria a possibilidade de melhorias no sistema eleitoral brasileiro.