Anistia: após fala de Bolsonaro, parlamentares do PSD afirmam que bancada não é unânime
Ex-presidente disse que Gilberto Kassab "está do nosso lado" ao comentar apoio ao projeto que anistia presos do 8 de janeiro
Parlamentares do PSD reagiram à fala do ex-presidente Jair Bolsonaro que, em manifestação no Rio de Janeiro, neste domingo, afirmou ter o presidente do PSD, Gilberto Kassab, ao seu lado para aprovar o projeto de lei que perdoa presos e condenados pela tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.
Lideranças do Senado e da Câmara lembraram que o partido é muito diverso e que Kassab não tem o perfil de se posicionar em assuntos polêmicos, em respeito aos membros de vão da direita à centro-esquerda.
"Há poucos dias, tinha um velho problema e resolvi, com o (Gilberto) Kassab em São Paulo. Ele está ao nosso lado com a sua bancada para aprovar a anistia em Brasília", afirmou Bolsonaro.
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Em fevereiro, Bolsonaro e Kassab estiveram juntos em São Paulo, no Palácio dos Bandeirantes, onde o líder do PSD atua como secretário de governo de Tarcísio de Freitas. Deputados e senadores do PSD disseram ao GLOBO que o presidente da legenda não comentou o teor do encontro e também não pediu apoio a nenhum projeto.
"Todos vimos que o presidente Kassab conversou com Bolsonaro sobre Anistia. Contudo, ele é mais arguto que todos nós juntos, e sabe que a bancada tem opiniões dividas sobre o tema. Uma coisa é colocar o líder da bancada para apoiar o tema a ser pautado para deliberação, outra é conseguir o máximo votos a favor. Unanimidade é bem difícil", disse o deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ), que participa ativamente de conversas com o líder, Antonio Brito (PSD-BA).
O parlamentares ressalta, porém, que existe um incômodo do partido por mais espaços no governo Lula, o que tende a afastar a legenda do Planalto e pode aproximá-la da oposição. A reportagem procurou Brito, líder da bancada na Câmara, mas não teve retorno.
"A proposta (da anistia) pode ter apoio de alguns deputados e não da bancada toda", afirmou o deputado Luiz Fernando (PSD-MG).
No Senado, a rejeição é maior. Os principais representantes do partido na Casa, o líder Omar Aziz (AM), e o ex-líder, Otto Alencar (AM), são declaradamente contra perdoar atuais ou futuros condenados pelos atos do 8 de janeiro.
Eles ainda reforçam a necessidade das investigações atingirem mais financiadores ou organizadores da tentativa de golpe, como a Polícia Federal e a Procuradoria Geral da República (PGR) já fizeram com o ex-presidente Bolsonaro e integrantes da cúpula das Forças Armadas.
"Todo mundo sabe que houve tentativa de golpe. Está preso quem estava lá na manifestação, mas teve empresário que financiou e está solto. O Kassab nunca me falou isso. O que se questiona é a questão da dosimetria da pena, colocar conforme o ato, analisar caso a caso. Mas não tem nada andando sobre isso. E essa não é a pauta da brasileiro, é para meia dúzia de pessoas que estão com medo se serem presas", afirmou o líder do PSD no Senado, Omar Aziz.
Os parlamentares, porém, admitem que circula nos corredores do Congresso a possibilidade de alterar as penas para parte dos condenados, como aqueles que estava presentes, mas não incitaram a depredação dos prédios dos Três Poderes. Existe uma avaliação de parte de deputados e senadores, inclusive de centro-esquerda, de que as penas aplicadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para esses casos foi muito alta.
"Eu sou pessoalmente contra a anistia e acredito que a maioria do Senado também é. O que se fala no Senado é que as pessoas que foram induzidas a fazer depredação do patrimônio, tiveram a pena muito alta. O que se fala é que terão alguns casos em que a dosimetria da pena poderia ser questionada. Mas anistia para quem conspirou, para quem financiou, isso ai não conta com meu apoio", disse Otto Alencar.