Antes de anunciar saída do PT, Requião fez críticas a governo Lula
Em vídeo, ex-governador do Paraná citou retorno de pedágio, privatizações de companhias paranaenses e apoio a rival nas eleições de Curitiba como motivos de insatisfação
Recém desfiliado do PT, o ex-senador e ex-governador do Paraná Roberto Requião criticou decisões do governo Lula e listou motivos que lhe fizeram pedir a saída do partido. Em um vídeo publicado nas suas redes sociais dois antes do anúncio oficial de desfiliação, Requião citou o retorno dos pedágios no Paraná, o apoio do governo federal a privatizações de companhias paranaenses, a aliança com o governador Ratinho Jr (PSD), e a possibilidade do PT apoiar a candidatura de Luciano Ducci (PSB) na disputa pela prefeitura de Curitiba.
Em um vídeo com pouco mais de 10 minutos, Requião se disse desiludido com o atual governo. Ele, que trocou o PMDB pelo PT há dois anos para concorrer ao governo do estado em 2022, explicou que entrou no partido para "derrubar o liberalismo econômico" e por acreditar que Lula faria "transformações no Brasil".
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Requião lembrou a frente ampla formada para disputar as eleições contra Bolsonaro. Mas, na sua opinião, os rumos da atual gestão federal indicam uma "regressão", em desacordo com promessas de campanha. Para Requião, a perspectiva de "apoiar Lula contra o neoliberalismo está desaparecendo".
— Surgiu a tal frente da esperança que, para mim, traz mais desesperança a cada dia. Está difícil entender o que está acontecendo — afirmou Requião que, por outro lado, disse não se arrepender do apoio em 2022 e elogiou medidas como a elucidação do caso Marielle e a atual política externa. — Mas foi uma fase, temos que evoluir. Continuar a crítica pesada e repensar nossa participação na política. Quero um governo que transforme o Brasil em favor da população. A tal frente da esperança não nos sinaliza hoje com nada disso. Estamos vendo a regressão.
Possibilidade de se lançar à prefeitura
O estopim da insatisfação de Requião foi o movimento do PT de aproximação a Luciano Ducci (PSB) na disputa pela prefeitura de Curitiba neste ano. Como mostrou O Globo nesta semana, a situação vem causando um racha no estado e o impasse foi levado à Executiva Nacional. Caciques do partido se dividiram entre a possibilidade de candidatura própria — postura defendida principalmente pelo deputado Zeca Dirceu, que se lançou pré candidato — e a possibilidade de apoiar Ducci, o que gerou críticas de Requião, que o chamou de representante da "direita".
Ducci já governou Curitiba entre 2010 e 2012. Ele era vice do então prefeito Beto Richa, rival político de Requião. Na época, Richa deixou o cargo para concorrer ao governo do Paraná.
— Aqui no Paraná o partido quer lançar o cabra da direita para governo do estado, para fazer troca de apoio em outros estados. Perderam respeito pela nossa cidade — afirmou Requião, que criticou a decisão de "anular" a definição através do diretório estadual para levar o caso à Executiva Nacional.— Eles (Executiva Nacional) podem resolver o problema da fisiologia partidária, da negociata partidária. Mas ela está destruindo o partido aqui no Paraná. Acaba não tendo mais o sentido que imaginávamos quando entramos nele (PT do Paraná).
Ainda não está confirmado o caminho que Requião irá trilhar em relação às eleições municipais agora fora do PT. Mas fontes ouvidas pelo Globo apontam que uma das hipóteses é ele mesmo se lançar como candidato a prefeito. Outro objetivo dele seria a vaga do Senado no caso de eleições suplementares se houver a cassação de Sergio Moro (União Brasil).
No início do mês, Requião chegou a defender a candidatura de Gleisi Hoffman à prefeitura. Nesse caso, ele se colocou à disposição a uma candidatura a vereador, como forma de apoiar a chapa. Mas Gleisi nunca considerou publicamente essa alternativa e vem defendendo, na verdade, a aliança do PT com Luciano Ducci e assim garantir apoio do PSB à sua candidatura ao senado.
Outras hipóteses levantadas nos bastidores são Requião apoiar, para prefeito, o seu filho, Requião Jr, hoje deputado estadual pelo PT, ou Goura, pré-candidato do PDT e que ficou em segundo lugar nas últimas eleições. Interlocutores dizem, porém, que Requião Jr resiste a se lançar candidato pelo PT, diante de pesquisas que apontaram alta rejeição ao partido nas eleições municipais.
Indiretas a Lula e críticas às privatizações das companhias paranaenses
No seu vídeo, antes de explicitar os motivos para sua saída, Requião colocou "uma ideia", como definiu, na introdução dos seus argumentos. Sem citar o PT, ele explicou sobre o Mandato Imperativo, conceito criado na Revolução Francesa e adotado pelo movimento sindical italiano no século 20. Segundo o conceito, representantes eleitos devem cumprir com compromissos assumidos durante campanhas eleitorais. Caso não cumprisse, o sindicato poderia destituir a pessoa eleita e indicar outro representante.
— Porque ele representava o sindicato e não a si mesmo. No Brasil poderíamos fazer através de partidos — disse Requião, que em seguida elaborou uma hipótese, de novo sem citar especificamente Lula ou o PT. — Se um sujeito se elege por um partido socialista, e depois, no poder, apoia a venda de estatais, ele tem que ser removido. O próprio partido removeria. É uma ideia que coloco aqui para vocês.
Em seguida, o ex-governador listou objetivamente medidas do governo federal que o deixaram insatisfeitos. A situação mais criticada foi o retorno da cobrança dos pedágios nas vias concedidas do estado. A cobrança se iniciou durante a gestão do governo Bolsonaro, mas estava suspensa com o fim dos contratos. Mas recentemente a Agência Nacional de Transportes Terrestre (ANTT) autorizou a retomada das taxas, que agora estão mais caras, a um custo entre R$7,60 e R$22,60.
Segundo Requião, Lula rompeu com compromisso assumido durante a campanha eleitoral, de que não admitiria a cobrança a preços "criminosos'' e se aliou ao governador Ratinho Jr (PSD).
— O pedágio do Paraná é um escândalo. Na campanha Lula disse que jamais admitiria isso. Mas fizeram a patifaria em nome de um pragmatismo político, para talvez conseguir apoio de picaretas no Congresso Nacional. A meu ver é uma falha com compromisso assumido com a população. Então deixo aqui clara a minha insatisfação — afirmou Requião, que também criticou apoios do PT à venda da Copel Companhia Paranaense de Energia (Copel) no ano passado, e aos projetos de privatização da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) e do Porto do Paranaguá.