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Coronavírus

Apagão de vacinas gera 1º choque entre gestão Doria e prefeitura de SP sob comando de Nunes

Integrantes da gestão municipal se queixam nos bastidores de medidas anunciadas com muito marketing pelo governador e cuja fatura cai no colo do município

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em entrevista coletivaO prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em entrevista coletiva - Foto: Divulgação/Governo de São Paulo

O apagão de vacinas contra Covid-19 em postos de saúde da cidade de São Paulo, nesta terça-feira (22), gerou o primeiro choque entre o governo João Doria (PSDB) e a prefeitura paulistana já sob administração de Ricardo Nunes (MDB).

O dia foi marcado por queixas entre ambas as partes depois que a prefeitura foi obrigada a paralisar a campanha de vacinação devido à falta de imunizantes –a previsão é que seja retomada nesta quarta (23).

A prefeitura afirma ter cobrado do estado o envio das doses, e o estado, por sua vez, pediu agilidade do Ministério da Saúde para mandar os imunizantes.

Quando a gestão da prefeitura estava sob o comando de Bruno Covas (PSDB), morto em maio em decorrência de um câncer, outras tensões já haviam surgido entre as esferas estadual e municipal na condução dos esforços contra a Covid-19.

A crise desta terça emula as anteriores, com integrantes da gestão municipal se queixando nos bastidores de medidas anunciadas com muito marketing pelo governador e cuja fatura cai no colo do município.

Entre membros da gestão Nunes, a avaliação é que a meta de Doria de vacinar com a primeira dose todos os adultos até setembro não é realista, uma vez que são esperados atrasos por parte do governo federal. A pressão fica sobre a rede municipal, que atua na ponta.

Para evitar tumultos, a gestão municipal criou um escalonamento entre as faixas etárias, o qual não estava previsto no planejamento estadual.

No caso do apagão de vacinas na capital, em entrevista à TV Globo na manhã desta terça (22) o secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, disse que só foi informado às 18h de segunda (21) sobre a falta de doses.

Ricardo Nunes, tido como alguém com perfil conciliador, dessa vez rebateu. Durante a inauguração de leitos do hospital São Luiz Gonzaga, no Jaçanã (zona norte da capital), ele disse que a prefeitura já havia avisado o governo estadual que
precisaria de mais doses para poder dar sequência à vacinação contra a Covid-19 desde sábado.

"Com certeza foi um mal-entendido. O secretário Jean se expressou mal", disse Nunes. O prefeito ainda afirmou que utilizou 16 mil doses que seriam reservados para a segunda aplicação da vacina. "Desde sábado [19] eu já havia falado com a doutora Regiane [de Paula, coordenadora estadual de vacinação] por diversas vezes sobre essa situação", afirmou Nunes.

O governo estadual agiu para apagar o fogo gerado pela afirmação do secretário e anunciou o envio de 181 mil doses à capital.

À tarde, o secretário-executivo de Estado da Saúde, Eduardo Ribeiro, gravou vídeo em que cita as doses e cobra agilidade do governo federal.

"O diálogo entre o estado e o município de São Paulo é contínuo. Qualquer dificuldade apresentada pelo município é prontamente atendida pelo estado. É importante para a continuidade dos trabalhos que o ministério agilize na distribuição das doses", disse, citando as primeiras doses da vacina da Janssen que foram recebidas nesta terça (22).

Foram várias as discordâncias na gestão da pandemia no estado e na capital paulista. Antes de passar a cobrar um comprovante de endereço dos que pretendiam se vacinar contra a Covid-19, a cidade de São Paulo já reclamava que pessoas de outros municípios estavam tomando a vacina na capital, sem envio de doses correspondentes para esse público.
Doria respondeu na ocasião que o estado não tem fronteiras.

Em março, Doria e Covas se desentenderam sobre a decisão da Prefeitura de São Paulo de antecipar feriados na tentativa de aumentar o isolamento social. Covas decidiu adiantar cinco feriados municipais para tentar conter o avanço da doença.
Doria, no entanto, afirmou que faltou bom senso à prefeitura.

Antes disso, no ano passado, a gestão Covas divergiu do governo ao defender medidas mais duras no início da pandemia e apresentou um calendário diferente de reabertura de escolas.

Em outra ocasião, quando São Paulo apresentava melhora, houve novamente um choque com a possibilidade de a cidade ter de sofrer restrições similares a municípios em pior situação.

Além disso, o secretário de Transportes Metropolitanos de Doria, Alexandre Baldy acusou a prefeitura de não avisar o governo sobre um megarrodízio para tentar aumentar o isolamento social na cidade em maio –posteriormente, a ideia do rodízio foi abortada.

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