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Eleições 2022

Apesar dos esforços, desinformação segue a todo vapor na campanha eleitoral no Brasil

O ex-presidente Lula e Bolsonaro são os principais alvos da maioria dos conteúdos falsos

Fake news. A luta contra a desinformação avançou lado a lado com o aperfeiçoamento da mesmaFake news. A luta contra a desinformação avançou lado a lado com o aperfeiçoamento da mesma - Foto: Pixabay

A um mês das eleições, as autoridades lutam para conter a desinformação que inunda as redes sociais, mas, embora estejam mais bem preparadas do que em 2018, os conteúdos e novas plataformas se tornaram mais difíceis de controlar.

O ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder na última pesquisa divulgada em 18 de agosto pelo Instituto Datafolha, com 47% das intenções de voto, e o presidente Jair Bolsonaro (PL), com 32%, são alvos da maioria dos conteúdos falsos à medida que se aproxima o primeiro turno.

A desinformação correu solta na campanha de 2018, especialmente pelo WhatsApp, e especialistas coincidem em que teve impacto nos resultados eleitorais, que deram a vitória a Bolsonaro.

Desde então, instituições, sociedade civil e empresas de tecnologia avançam no combate às informações falsas, manipuladas ou fora de contexto. 

Justiça quer ser 'implacável'

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, afirmou no primeiro dia de campanha que a Justiça seria "firme e implacável" contra "a divulgação de notícias falsas ou fraudulentas". 

Neste contexto, a instância já ordenou a remoção de conteúdos, incluindo publicações do próprio Bolsonaro, como um vídeo no qual criticou, sem apresentar provas, a confiabilidade do voto eletrônico vigente, durante uma reunião em julho com embaixadores em Brasília.

O TSE criou também um grupo de combate à desinformação, integrado pelas principais instituições brasileiras, gigantes da tecnologia como Facebook, Instagram e WhatsApp, Google, TikTok, Telegram e YouTube, assim como universidades e meios de comunicação.

A iniciativa resultou em diversos compromissos, como a decisão do WhatsApp de adiar, até depois das eleições, a implementação da ferramenta "Comunidades", que permitirá aglutinar vários grupos em um mesmo espaço, e a seus administradores enviar mensagens a todos eles.

A plataforma Telegram, por sua vez, foi forçada a designar um representante legal no Brasil, sob ameaça de ser bloqueada em todo o país por não colaborar com as autoridades.

"Sem as plataformas fica muito difícil para o Tribunal [TSE] ser eficaz, porque leva muito tempo fazer qualquer ação punitiva a partir da detecção [da desinformação], e mesmo que venha depois, o estrago já está feito, porque a informação já circulou", explica o sociólogo Marco Aurélio Ruediger, diretor da Escola de Comunicação da Fundação Getúlio Vargas.

Lula 'bêbado'

Mas a luta contra a desinformação avançou lado a lado com o aperfeiçoamento da mesma.

Em plataformas como TikTok e Telegram, "a desinformação tem corrido solta" porque estas favorecem, respectivamente, a "edição simples de vídeos curtos" e a criação de canais onde proliferam "discursos de ódio", que não são adequadamente coibidos, afirma Ana Regina Rego, coordenadora da Rede Nacional de Combate à Desinformação.

Segundo um levantamento do jornal O Globo, vídeos com informações falsas sobre Lula e Bolsonaro foram visualizados milhões de vezes no TikTok. 

Três vídeos que mostram Lula bebendo um líquido transparente, assegurando falsamente que seria cachaça, alcançaram 6,6 milhões de visualizações; e cinco vídeos que visam a desacreditar a facada que Bolsonaro sofreu durante a campanha de 2018 foram vistos 3,3 milhões de vezes. 

Outros conteúdos com ampla difusão, verificados pelo serviço de checagem da AFP, incluem afirmações falsas de que, se for eleito, Lula mandaria fechar as igrejas, ou comparações enganosas dos preços da gasolina durante os governos de Lula (2003-2010) e o atual.

O TikTok assegurou à AFP que remove os vídeos que violam as Diretrizes da Comunidade e que está empenhado em remover conteúdos que possam levar algum tipo de risco ao processo eleitoral, além de evitar dar destaque na aba sugestões a informação "potencialmente enganosa que não possa ser verificada".

Riscos

Os conteúdos que "combinam fatos com mentiras, com fraudes, descontextualizações, com uma estética sensacionalista, têm uma potência 70% maior para viralizar do que uma informação", afirma Rego.

Daí o risco de que uma informação falsa ganhe uma dimensão desproporcional, como aconteceu nos Estados Unidos, quando os seguidores de Donald Trump invadiram o Capitólio em janeiro de 2021, convencidos de que houve fraude nas eleições que o ex-presidente perdeu para o democrata Joe Biden.

Também no Brasil, uma das maiores preocupações é que Bolsonaro e seus seguidores rejeitem uma eventual derrota, devido aos questionamentos constantes que o presidente faz sobre o voto eletrônico.

"A sociedade está mais atenta, menos ingênua à desinformação e ao que recebe. Mas por outro lado, temo o incentivo à violência e à não aceitação do resultado final de uma eleição. Isso é o mais perigoso. A gente pode ter uma situação semelhante à que teve nos EUA", afirma Ruediger.

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