Planalto

Após ceder ao MST, governo resiste à pressão por trocas em indicações de Lira e Alcolumbre no Incra

Com escolhidos pelo PT em 22 das 29 superintendências regionais, Planalto pesa efeito de eventual mudança em Alagoas e Amapá

Das 29 superintendências do Incra, 22 já tiveram novos indicados pelo governo Lula neste ano.Das 29 superintendências do Incra, 22 já tiveram novos indicados pelo governo Lula neste ano. - Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Após emplacar nomes ligados ao PT na maioria das superintendências regionais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o governo Lula evita substituir indicações do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do senador Davi Alcolumbre (União-AP) em seus estados. A situação vem gerando pressões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que conseguiu nomear apoiadores em estados como Bahia, Ceará, Goiás e Rio Grande do Norte, e que ocupou na semana passada a sede do Incra em Alagoas para exigir a saída de um primo de Lira. Também há insatisfação com a manutenção, no Amapá, de um aliado da família Alcolumbre nomeado ainda na gestão Michel Temer.

Das 29 superintendências do Incra, 22 já tiveram novos indicados pelo governo Lula neste ano. Todos os nomes receberam o aval de lideranças estaduais do PT. Em estados como Minas Gerais, Amazonas e Tocantins, superintendentes indicados no governo Bolsonaro estão com a substituição encaminhada, mas houve entraves por conta de divergências entre petistas que desejam chancelar a nomeação.

Em Alagoas, o atual superintendente, César Lira, está no cargo desde março de 2017. Apadrinhado pelo deputado federal Marx Beltrão (PP-AL), o primo de Lira tornou-se um nome de difícil substituição devido a seu parentesco com o presidente da Câmara, que também mantém apadrinhados e familiares em cargos federais na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs).

Reservadamente, aliados de Lula na bancada federal de Alagoas não descartam uma substituição de César Lira, mas reconhecem que a movimentação é delicada. Sem ter garantido ainda uma base parlamentar sólida, o Planalto tem buscado cultivar boa relação com o presidente da Câmara, o que inclui não ter exonerado, por ora, nenhum nome ligado a Lira.

Outro parlamentar com influência no Congresso, bem como na montagem do governo Lula, Alcolumbre também manteve indicações em estatais como a Codevasf. O atual superintendente do Incra no Amapá, Fábio Muniz, assumiu o posto em dezembro de 2016, e mantém desde então relação próxima com Alcolumbre. Muniz também é próximo Josiel Alcolumbre, irmão do senador e candidato à prefeitura de Macapá em 2020. Em janeiro, pouco após assumir a presidência do Sebrae no Amapá, Josiel divulgou um encontro com Muniz, no qual ressaltou o “diálogo muito produtivo” com o superintendente do Incra.

Disputas entre petistas

Enquanto busca atender Lira e Alcolumbre em seus estados, o governo avançou em indicações em quase todas as 29 superintendências do Incra — o número supera o total de estados porque a área do Pará se divide em três superintendências. Dedicado à reforma agrária, tema caro para a base petista, o Incra foi transferido no governo Lula para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, comandado por Paulo Teixeira (PT) — que indicou uma aliada, a advogada Sabrina Diniz, para a superintendência de São Paulo, seu reduto eleitoral.

Em Minas, onde o atual superintendente, Batmaisterson Schmidt, é aliado do deputado Zé Silva (Solidariedade-MG), o nome mais cotado para assumir o posto é o de Neila Batista, que tem o apoio do MST e atuou no Ministério do Desenvolvimento Social no primeiro governo Lula. Neila foi indicada pelo deputado federal Rogério Correia (PT-MG).

— Estamos aguardando a definição de outros cargos no estado, que precisam também atender a bancada (do PT), para que possamos fazer uma nomeação conjunta — explicou Correia.

A escolha para o Incra também é pleiteada por outro deputado petista, Padre João, por conta de um acordo na bancada do PT de que cada parlamentar poderia emplacar uma escolha “preferencial” antes da abertura de novas indicações. Correia indicou o superintendente do Ministério do Trabalho em Minas, Carlos Calazans, empossado nesta semana. João deseja chancelar um nome para o Incra por conta de um possível veto de sua indicação para o Ceasa, cujo atual presidente em Minas, Luciano Oliveira, é apadrinhado pela bancada do PP e também se aproximou do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG).

— Não dá para manter uma pessoa indicada por alguém que é de oposição. Alegam ser uma indicação da base para buscar uma maneira oportunista de apadrinhamento — criticou o petista.

No Amazonas, o PT planeja indicar o novo superintendente após a exoneração de João Batista Jornada, nome ligado ao senador Eduardo Braga (MDB-AM). Apesar de Braga ter feito campanha para Lula, pesou contra seu apadrinhado o fato de ter criticado, à frente do Incra, o processo de titulação de um território quilombola em Itacoatiara (AM), uma das bases eleitorais do senador. No Tocantins, uma queda de braço entre diferentes alas do PT terminou com o aval do partido a uma indicação do presidente estadual da sigla, Zé Roberto.

Também houve concorrência entre petistas no Ceará, onde a nomeação de Francisco Erivandro Santos como superintendente regional do Incra foi anunciada em março pela deputada federal Luizianne Lins (PT), mas oficializada apenas na última sexta. Ligado ao MST, que se movimentou pela nomeação junto à deputada, Erivandro também se articulou junto ao deputado cearense José Guimarães, líder do PT na Câmara e integrante de uma ala distinta à de Luizianne.

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Alvo de críticas, inclusive no próprio governo, por uma campanha que inclui invasões de propriedades rurais, o MST também participou da indicação de Carlos Alemão para a superintendência do Incra na Bahia. A nomeação, oficializada na sexta, ocorreu cerca de um mês após o MST ter ocupado áreas da Suzano Celulose no estado. Alemão é ligado ao deputado federal Valmir Assunção (PT-BA), que integra o movimento.

Em estados como o Rio e o Paraná, as superintendências do Incra foram assumidas nesta semana por Maria Lúcia Pontes e Nilton Guedes, respectivamente, nomes que já haviam ocupado o posto nas gestões anteriores de Lula e Dilma Rousseff.

Os superintendentes indicados pelo MST no Incra:

Bahia

Carlos Alemão, nomeado superintendente na última sexta-feira, é ligado ao deputado Valmir Assunção (PT-BA), integrante do MST.

Rio Grande do Norte

Nomeado na semana passada, o novo superintendente potiguar do Incra, Lucenilson Oliveira, foi diretor do MST no estado.

Ceará

Advogado, Francisco Erivandro Santos é também militante dos sem terra no estado.

Goiás

O superintendente Elias D’Angelo Borges foi indicado à superintendência por entidades como a Pastoral da Terra e o MST.

Rio Grande do Sul

Indicado pelo deputado petista Dionilson Marcon, que é ligado ao MST, Nelson Grasselli assumiu o cargo com a chancela dos sem terra, que chegaram a ocupar a superintendência gaúcha.

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