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POLÍTICA

Após debandada e derrotas, Novo flexibiliza regras para sobreviver e tenta manter Zema

Partido passa a usar rendimento do fundo partidário e busca estratégias para não desaparecer em 2024

Governador de Minas Gerais, Romeu Zema Governador de Minas Gerais, Romeu Zema  - Foto: Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil

Em crise após colapso da bancada federal e queda de receita com filiados, o Novo vem se submetendo a uma reavaliação de princípios para tentar sobreviver nos próximos anos. Além de revisar “cláusulas pétreas” de sua fundação, o partido tem se movido para assegurar presença nos debates das eleições municipais do ano que vem e vê o risco de perder sua maior joia, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, caso a legenda não tenha desempenho razoável em 2024.

A ideia é ampliar a capilaridade da sigla. Partidários temem que, sem estrutura em 2026, Zema migre para outro partido com mais tempo de propaganda na TV e no rádio, mais palanques e alianças a fim de disputar a Presidência da República. Perder o governador, julgam filiados, seria uma pá de cal na busca da legenda por sobrevivência.

Na semana passada, entretanto, esse projeto nacional do partido sofreu um baque após Zema ser alvo de polêmica por comparar os estados do Nordeste com “vaquinhas que produzem pouco”, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. As declarações tiveram forte reação de governadores da região e nas redes sociais. Mas o presidente da sigla, Eduardo Ribeiro, contemporiza e interpreta a repercussão como estratégia para arranhar a imagem de seu principal quadro

"Esse movimento virulento por parte do governo, do PT e da esquerda para cima do governador é claramente uma tentativa de destruir reputação e mostra que o PT não mudou nada, que quando vê um adversário político forte vai fazer de tudo para desmoralizá-lo", diz Ribeiro. "Em nenhum momento o Zema diz que o consórcio que ele defendia era contrário ao Nordeste".

O Novo viveu um “boom” na onda do bolsonarismo em 2018, quando elegeu oito deputados federais, mas, desde então, convive com uma crise que vem definhando a sigla. Em 2022, a bancada no Congresso encolheu para três — subiu para quatro este ano com a filiação do senador Eduardo Girão (CE). Em 2020, em pleno governo Bolsonaro, a sigla fez apenas um prefeito, em Joinville (SC), e trouxe três nos anos seguintes, das 5.568 prefeituras do país.

Depois do baque, a gestão de Ribeiro resolveu flexibilizar regras internas e quebrar antigos paradigmas em busca de uma expansão na próxima disputa eleitoral. Entre as mudanças estão a possibilidade de filiar integrantes de outras legendas, lançar candidatos em cidades pequenas e usar os rendimentos financeiros do fundo partidário, dando fim a uma bandeira histórica.

Para muitos, João Amoêdo, principal fundador e primeiro presidente do Novo, é emblema da crise de identidade vivida pelo partido. Em 2022, ele teve sua filiação suspensa ao manifestar voto em Lula, mesmo a legenda tendo liberado seus filiados a votarem de acordo com a “consciência” e “princípios partidários”. Dias depois, Ribeiro afirmou em entrevista que a autonomia dada aos membros não incluía o voto no PT.

Após se afastar da direção, em 2020, Amoêdo passou a criticar o alinhamento de filiados ao governo Bolsonaro, e hoje avalia que a sigla tornou-se “linha auxiliar” do bolsonarismo. Ele cita o caso da votação da reforma tributária na Câmara — pauta que sempre teve apoio do Novo, mas recebeu voto contrário da maior parte da bancada apesar do “apoio institucional” da sigla ao projeto — como exemplo da “falta de rumo”.

— O Novo começou a traçar uma rota de ser igual aos partidos tradicionais. Lançar candidaturas em todo lugar, usar dinheiro público, trazer gente sem identidade com o partido. Dizem: “Se não fizer assim, não sobrevive”. Mas se for só para sobreviver sendo mais um entre 30 partidos, do que adianta? — diz Amoêdo.

Participação em debate
Com a resistência para filiar quadros de outros partidos quebrada, o Novo agora estuda a vinda de 50 políticos nos próximos meses. Além de Girão, já migraram para a legenda nomes como os prefeitos Gleidson Azevedo (Divinópolis) e Eduardo Falcão (Patos de Minas).

Nesse sentido, a filiação de pelo menos mais um parlamentar no Congresso é tida como prioritária — não só para ampliar a presença do Novo no cenário nacional, mas para garantir que o partido tenha uma vaga nos debates eleitorais no ano que vem. Uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de 2019 garante a participação em debates de candidatos dos partidos com representação no Congresso Nacional de, no mínimo, cinco parlamentares

Sobre a decisão de usar recursos públicos, integrantes da legenda ouvidos reservadamente pelo GLOBO dizem que a decisão veio tarde demais, enquanto outros a criticam. O Novo diz investir o dinheiro do fundo (em torno de R$ 100 milhões hoje) em renda fixa, que vem rendendo R$ 1 milhão por mês, valor suficiente para triplicar a antiga estrutura da legenda.

Até então, o partido sobrevivia principalmente de doações, eventos e contribuições de filiados, que diminuíram substancialmente nos últimos anos. A adimplência, que segundo antigos integrantes variava entre 75% e 80% quatro anos atrás, hoje gira entre 27% e 30%, segundo Ribeiro.

"Essa mudança vai garantir que o Novo consiga ter uma expansão digna de um partido grande. Com as constantes mudanças no financiamento partidário, a proposta do Novo foi prejudicada. Ficar sem esse recurso limitou muito a nossa competitividade frente aos outros partidos. E a missão do Novo é maior do que apenas mostrar que é possível manter um partido sem usar dinheiro público no Brasil", disse o dirigente, para quem as mudanças melhoraram o clima interno.

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