Após defender Maduro, ONG diz que Lula não tem posições "consistentes com direitos humanos"
Diretora da Human Rights Watch, Maria Laura Canineu, também criticou declarações do presidente brasileiro a respeito da guerra da Rússia e da Ucrânia
As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em apoio ao chefe de Estado da Venezuela, Nicolás Maduro, e a respeito da guerra entre Ucrânia e Rússia foram alvos de críticas da Human Rights Watch (HRW). A diretora da entidade, Maria Laura Canineu, afirmou nesta quarta-feira (7) que o mandatário brasileiro tem posições que "não são consistentes com os direitos humanos".
"Lula, nesses primeiros meses, deu algumas sinalizações contraditórias e muitas não consistentes com os valores dos direitos humanos" disse Maria Laura em entrevista à Agência Lusa, em Lisboa.
A diretora da HRW mencionou a recente visita de Maduro ao Brasil para participar da cúpula promovida pelo governo brasileiro no Palácio do Itamaraty, em Brasília. Na ocasião, de acordo com Maria Laura, Lula tomou posições condenáveis.
"Lula chamou de narrativa construída as acusações de que a Venezuela não vive uma democracia" disse a diretora, acrescentando que a HRW constatou uma série de transgressões aos direitos humanos no país.
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"[Há] violações muito graves na Venezuela, há muito tempo, ameaças muito fortes à democracia, um executivo que dominou o judiciário, dominou o legislativo para suprimir o acesso à justiça e acesso aos direitos fundamentais da população venezuelana"afirmou.
Maria Laura disse ainda que as declarações de Lula demonstram que ele "talvez não esteja preparado" para ter posições consistentes sobre direitos humanos, "independente do viés ideológico do Governo".
Guerra da Rússia e Ucrânia
A diretora da HRW classificou como "muito complicadas" as afirmações de Lula sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia. A ativista afirmou que as falas do presidente brasileiro não são baseadas na realidade ao equiparar as responsabilidades do presidente russo, Vladimir Putin, e do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Maria Laura argumentou que Lula costuma reforçar a ideia de se trabalhar com mecanismos multilaterais, e já existe uma série de iniciativas deste tipo para apurar responsabilidades do conflito na ONU, além de uma comissão de inquérito.
"[Se Lula] quer construir a paz, negociar a paz, ele precisa primeiro começar a apoiar essas iniciativas da ONU de apurar responsabilidades sobre o que está acontecendo no conflito" disse a ativista.