Após justificar pedido de vacina para STF, Fux diz estar 'em choque' com o caso e exonera servidor
No último dia 23, o presidente do STF havia defendido a medida, em entrevista à TV Justiça
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, disse que mandou exonerar o secretário de serviços integrados de Saúde da Corte, Marco Polo Dias Freitas, após o pedido feito à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) para reservar 7.000 doses da vacina contra a Covid-19 a funcionários do tribunal.
A exoneração, antecipada pelo jornal O Globo, foi confirmada por Fux à reportagem. Segundo o presidente do STF, a solicitação à Fiocruz foi feita sem o seu conhecimento. "Foi um choque para mim (quando soube do pedido). Não é do meu feitio fazer isso. Foi uma falta de noção, um pedido inoportuno. Estamos em videoconferência, não havia necessidade disso. Foi agressivo em termos de repercussão", disse Fux.
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No último dia 23, o presidente do STF havia defendido a medida, em entrevista à TV Justiça. Na ocasião, ele ressaltou a preocupação de não parar as instituições fundamentais do Estado, como Executivo, Legislativo e o Judiciário.
Questionado pela reportagem, Fux afirmou que não defendeu o pedido, mas que tentou apenas "amenizar" a situação. "Foi muito ruim o que fizeram. A administração do tribunal estava tão bem avaliada. A repercussão foi muito negativa", afirmou.
Marco Polo, que é médico e exerce o cargo de analista judiciário, não assina o ofício enviado à Fiocruz. O documento foi feito por Edmundo Veras Dos Santos Filho, diretor-geral do STF, no dia 30 de novembro.
No pedido, Santos Filho diz que a secretaria de Serviços Integrados de Saúde, ocupada por Marco Polo, ficará responsável pela realização da campanha de vacinação e, caso seja possível o fornecimento, o órgão enviará um servidor para a retirada das vacinas nas dependências da Fiocruz.
"Para maiores informações acerca da vacinação, indico o secretário de Serviços Integrados de Saúde, o Dr. Marco Polo Dias", disse.
O STF argumentou que a ação tinha dois "objetivos principais". Um seria imunizar o maior número possível de trabalhadores da casa, que desempenha "papel fundamental no país e têm entre suas autoridades e colaboradores uma parcela considerável de pessoas classificadas em grupos de risco".
O outro argumento foi o de que a realização da campanha pelo tribunal seria uma forma de contribuir com o país "nesse momento tão crítico da nossa história". "Ajudará a acelerar o processo de imunização da população e permitirá a destinação de equipamentos públicos de saúde para outras pessoas, colaborando assim com a Política Nacional de Imunização", disse.
O pedido, no entanto, foi negado pela Fiocruz, que informou que a produção é destinada "integralmente" ao Ministério da Saúde. Por meio de nota, a Fiocruz afirmou que visa garantir a produção nacional dos imunizantes, sem previsão de prioridade para qualquer órgão. O STJ (Superior Tribunal de Justiça) havia feito solicitação similar e também recebeu resposta negativa.