Após rival fechar alianças, MDB no Senado cobra postura de Bolsonaro e corre atrás de PSDB
A bancada do MDB afirma que Bolsonaro está sendo leniente com Alcolumbre e Pacheco, que estariam usando a influência do Planalto nas negociações
Após o candidato à presidência do Senado Rodrigo Pacheco (DEM-MG) obter o segundo apoio de bancada em dois dias seguidos, o MDB decidiu se insurgir contra a postura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e passou a enxergar uma aliança com o PSDB como fundamental para se manter na disputa.
Pacheco é o candidato do atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que tem se engajado na eleição e inclusive levou seu apadrinhado para um almoço com Bolsonaro, no Palácio da Alvorada.
Nesta quarta-feira (6), Pacheco recebeu apoio da bancada dos Pros, que conta com três senadores. Um dia antes, houve a adesão do PSD, segunda maior bancada, com 11 parlamentares.
O acordo foi fechado em um almoço na casa do prefeito reeleito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD). Participaram do encontro o presidente nacional da sigla, Gilberto Kassab, e o líder da bancada do partido no Senado, Otto Alencar (BA).
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Presentes no almoço confirmam que o principal ponto do acordo foi o compromisso por parte de Pacheco de que não vai disputar o governo de Minas Gerais, em 2022 –abrindo caminho para Kalil e outros nomes do PSD, como o senador Carlos Viana. Pacheco nega.
A bancada do MDB afirma que Bolsonaro está sendo leniente com Alcolumbre e Pacheco, que estariam usando a influência do Planalto nas negociações. O presidente da República havia dito que não iria interferir na eleição do Senado.
Fontes na bancada do partido confirmam que as reclamações serão levadas ao próprio Bolsonaro, pelo senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), que é líder do governo no Senado. A reunião está programada para esta sexta-feira (8).
Bezerra foi procurado pela reportagem, mas não quis comentar o assunto.
O MDB vai cobrar de Bolsonaro se o governo está sendo usado por Alcolumbre e Pacheco de forma "autorizada ou ilegal". Caso não haja uma posição clara do presidente e o partido seja derrotado nas eleições, prometem uma postura mais combativa em relação ao Planalto.
O MDB anunciou em dezembro que terá candidato único para a disputa. O critério estabelecido para a escolha –que deve sair na semana que vem– é angariar o máximo de apoio em outras bancadas, mostrando-se competitivo na eleição.
São pré-candidatos o líder da bancada. Eduardo Braga (MDB-AM); o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE); o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO); e a presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), Simone Tebet (MDB-MS).
A bancada acabou sendo surpreendida e se sentiu jogada contra as cordas após a rápida adesão do PSD à candidatura de Pacheco. Em particular, Braga, Gomes e Bezerra mantinham conversas para conseguir votos no partido.
Desconsiderando possíveis traições, o senador mineiro agora tem três bancadas que contam 19 votos para as próximas eleições –são necessários 41 para ser eleito em primeiro turno, caso todos os 81 senadores votem.
Após anunciar apoio para o candidato do MDB na Câmara, o PT no Senado também pende para o lado de Pacheco. A reunião que vai decidir a posição da bancada, que conta com seis parlamentares, seria nesta quarta, mas acabou adiada para a próxima segunda-feira (11).
"Há uma simpatia da bancada. Ele [Pacheco] esteve em reunião da bancada, tem o apoio do nosso líder [Rogério Carvalho], um bom relacionamento conosco. Mas a decisão vai sair após a reunião", afirma o senador Humberto Costa (PT-PE).
Aliados de Pacheco chegam até mesmo a divulgar que o candidato já tem os 41 votos necessários para presidir o Senado.
Alguns integrantes da bancada do MDB minimizam os apoios anunciados, afirmando se tratar de um novo fenômeno "Lira", em referência ao candidato à presidência da Câmara Arthur Lira (PP-AL), que anunciou cedo sua candidatura, obteve apoio inicial, mas acabou sofrendo defecções.
Outros, no entanto, mostram preocupação e apostam em uma aliança rápida com a bancada do PSDB para se manter na corrida. Os tucanos têm manifestado informalmente apoio para a regra da proporcionalidade, na qual a maior bancada –no caso, o MDB– teria direito à presidência da Casa.
O PSDB é apontado como o novo foco de cobiça, pois é a quarta maior bancada –sete senadores– e seu apoio não resulta na rejeição de novos acordos.
O Podemos, por exemplo, tem uma bancada maior, a terceira, perdendo apenas para MDB e PSD. No entanto, muitos integrantes da bancada são ligados ao movimento Muda Senado, que tem uma pauta anticorrupção mais radical, que envolve investigação parlamentar do Judiciário. Alguns partidos têm resistência a apoiarem candidato alinhado com o movimento.
Os partidos negociam com outras bancadas, mas consideram a hipótese de obterem votos em separado e não de todos os senadores dos partidos em bloco.
Os quatro pré-candidatos do MDB pretendem realizar reuniões presenciais com o líder do PSDB, Roberto Rocha (MA), nos próximos dias.
O partido, no entanto, mantém um bloco informal com Podemos, Cidadania e PSL, que chegam a 22 senadores e podem alcançar uma decisão conjunta sobre apoio.
"Com as duas maiores bancadas [MDB e PSD] já com lados assumidos, o voto decisivo está no bloco Podemos, PSDB, Cidadania e PSL", afirma Simone Tebet, pré-candidata do MDB.
"Se fecharem unidos a favor de um candidato, ou pelo menos 90% do bloco, eles serão os fiéis da balança", completa.
O bloco Muda Senado –que conta com 18 senadores, a maior parte de Podemos, Cidadania e PSL– também pretende anunciar seu posicionamento na próxima semana, no dia 15. Inicialmente, o bloco havia divulgado que teria candidato na eleição, mas muitos partidos agora fazem parte das negociações de apoio.
Há atualmente seis pré-candidatos no Muda Senado.