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Após um mês da criação do Ministério da Reconstrução do RS, autoridades locais cobram Pimenta

Titular do governo federal é pressionado pela gestão estadual e por prefeitos por resultados que pleiteiam mais agilidade no envio de recursos para recuperação das cidades

Pressão sobre Paulo Pimenta aumentou Pressão sobre Paulo Pimenta aumentou  - Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Um mês após a criação do Ministério da Reconstrução do Rio Grande do Sul, prefeitos e integrantes da gestão Eduardo Leite (PSDB) aumentaram a pressão sobre Paulo Pimenta, titular da pasta, para a apresentação de resultados efetivos do governo federal.

Embora políticos gaúchos elogiem a facilidade de acesso ao ministro, autoridades locais reclamam que, frente à dimensão da tragédia, ainda falta mais agilidade no envio de recursos para recuperação das cidades.

Aliados de Leite avaliam que, após a fase de comoção pela calamidade no estado, Pimenta passará a ser cada vez mais cobrado pelas entregas de anúncios que já foram feitos pelo presidente Lula em visitas ao Rio Grande do Sul.

O recado do Palácio Piratini ocorre em um contexto em que, embora Pimenta e Leite tenham adotado um tom público de relação institucional e união para o enfrentamento à tragédia climática, a ação conjunta é também marcada por atritos, cobranças e divergências de entendimento sobre soluções para o estado.

A mais recente ocorreu com o desgaste gerado com o leilão para compra de arroz de outros países em meio à suspeita de irregularidades.

A ideia do leilão já havia gerado desconforto na cúpula do governo gaúcho, já que o estado produz 70% do grão consumido no país. Havia temor quanto ao impacto no setor produtivo local, uma vez que a safra já havia sido colhida em quase toda sua totalidade quando a enchente começou.

Na terça-feira à noite, Leite foi às redes sociais pedir uma “reflexão” sobre a necessidade de se fazer o leilão.

Outro atrito diz respeito às alternativas de soluções para o problema habitacional gerado pela tragédia.

Na semana em que Leite anunciou investimento em 500 casas provisórias para atingidos pela enchente, Lula avisou ao ministro das Cidades, Jader Filho, em uma reunião fechada no Palácio do Planalto, que é contra a medida.

A fala do presidente repercutiu mal no Palácio Piratini. Já o entorno de Pimenta não gostou de Leite ter se ausentado em anúncios voltados à manutenção do emprego feitos por Lula no Vale do Taquari na semana passada.

Na hora do evento, o governador estava em Porto Alegre recebendo um grupo técnico do governo da Holanda.

A atuação de Pimenta, no entanto, foi vista como fundamental pelo Piratini para haver uma linha única de atuação junto à Fraport, concessionária que administra o Aeroporto Salgado Filho, fechado por tempo indeterminado. Em reunião com o ministro, foi definido um cronograma de obras para tentar reabrir o terminal até o final ano.

— Ter o ministério aqui é ótimo se tudo andar dentro do que está estabelecido. O tempo não é elástico e as necessidades vão mudando. Se ele chegar aqui sem execução por mais uma semana, de coisas que foram anunciadas, claro que a pressão vai aumentar — afirma o deputado estadual Frederico Antunes (PP), líder do governo Leite na Assembleia Legislativa.

A cobrança é acentuada especialmente entre prefeitos. Cidade que Lula visitou na semana passada, Arroio do Meio, no Vale do Taquari, ainda espera recursos para recuperar estragos da enchente de setembro de 2023.

O prefeito Danilo Bruxel (PP) afirma que o município aguarda R$ 44 milhões anunciados para a construção de 244 moradias afetadas pelas chuvas do ano passado. Agora, o cenário de destruição é ainda pior.

O prefeito estima que o município de 21 mil habitantes terá que reconstruir mil casas em três bairros inteiros que precisarão ser realocados.

— Estamos muito aflitos, porque temos 350 famílias em aluguel social, em torno de 200 famílias em espaços públicos e ginásios. Esperamos que agora, com o ministro Pimenta aqui, ele consiga agilizar as coisas — afirma Bruxel.

Prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico (PSDB), cita o impacto na queda de arrecadação de ICMS e pede reforço para que as prefeituras se recomponham financeiramente:

— Tudo que veio até agora a gente não despreza, mas é infinitamente insuficiente.

Prefeito de Santa Maria, cidade natal de Pimenta, Jorge Pozzobom (PSDB) elogia a postura do ministro ao mesmo tempo que reclama da burocracia.

Segundo ele, três planos de trabalho do município já foram aprovados, mas é preciso mais agilidade para o recebimento de recursos.

Santa Maria recebeu R$ 10 milhões do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), mas só plano de recuperação de infraestrutura da cidade, no entanto, prevê que serão necessários R$ 110 milhões.

— A burocracia é o que nos incomoda. Entendemos a necessidade do trâmite: tem que dar dinheiro e prestar conta, mas precisamos de imediato — ressalta Pozzobom.

Aliado de Pimenta, o prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PSD), também pede mais celeridade. O município recebeu R$ 10 milhões de FPM e mais de R$ 10 milhões para obras, dos R$ 200 milhões solicitados.

Uma das cidades mais atingidas pela tragédia, Canoas tem 120 mil pessoas inscritas para receber o Auxílio Reconstrução de R$ 5,1 mil — 55 mil moradores já sacaram o valor.

A cidade levou 30 dias para conseguir baixar a água nos pontos mais críticos.

— Como estamos trabalhando em regime de urgência absoluta, o tempo para nós é uma matéria prima essencial, e hoje tenho quem buscar — diz Jorge.

Meta de três meses
O ministro diz que 562 planos de trabalhos enviados pelos prefeitos já foram liberados, totalizando 232 municípios atendidos e R$ 473 milhões liberados. Segundo Pimenta , 20 planos de trabalho são aprovados por dia, e, a partir daí os valores são aprovados, e empenhados na conta das prefeituras.

— Em três meses, quero estar com todos os projetos aprovados, que envolvem estradas, energia, conectividade, habitação e deixar o cronograma para reabertura do aeroporto encaminhado. Além de garantir o acesso ao Auxílio Reconstrução, pagamento de linhas de crédito às empresas e dois meses do auxílio salário-mínimo aos trabalhadores. — afirmou Pimenta ao GLOBO.

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