Após uso de 'meu' Exército e incômodo militar, Bolsonaro agora adota pronome 'seu'
Em cerimônia militar nesta quinta-feira (15), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) evitou utilizar expressões que geraram criticas nas últimas semanas por serem interpretadas como tentativas de politizar as Forças Armadas.
O recuo acontece duas semanas após ele trocar toda a cúpula militar do país, na maior crise nas Forças Armadas desde 1977.
Em discurso de passagem do comando militar do Sudeste, em São Paulo, o presidente evitou usar termos como "meu Exército" ou "nosso Exército", como havia se referido em diferentes ocasiões e provocado incômodo entre os militares. Dessa vez, ele disse "seu Exército".
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"A nossa nação tem uma vocação à liberdade acima de tudo e a certeza desse povo maravilhoso de mais de 210 milhões de pessoas que as suas Forças Armadas, sempre dentro das quatro linhas da Constituição, não medirão esforços para nos garantir oxigênio da vida, que é a nossa liberdade", afirmou Bolsonaro em discurso.
"A certeza que temos de sempre contar com a sua Marinha, com o seu Exército e com sua Aeronáutica nos traz a paz para governar."
Cinco dias antes, o presidente havia usado a expressão "nosso Exército" em passeio de moto na periferia do Distrito Federal.
"Eu tenho o poder de, numa canetada, fazer um lockdown no Brasil todo, mas isso não será feito. O nosso Exército não vai para a rua para obrigar o povo a ficar em casa. Quem está fazendo isso tudo são governadores e alguns prefeitos. Eu acho que chegou no limite, essa política não está dando certo", disse no último sábado (10).
No último dia 8, Bolsonaro usou a expressão "meu Exército". "Agradeço ao meu Exército brasileiro, o qual ainda integro, ao nosso Exército brasileiro, por este momento", em cerimônia de promoção de oficiais-generais.
No evento desta quinta-feira em São Paulo, também discursou o general Edson Pujol, que irá deixar o comando do Exército após ter sido substituído na crise militar.
Também participaram da cerimônia de comando os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil), ambos generais da reserva do Exército, além do presidente da Fiesp (federação de indústrias de São Paulo), Paulo Skaf.
Skaf tem intermediado o contato de Bolsonaro com o empresariado paulista em frequentes encontros.
Do lado de fora, cerca de 100 manifestantes pediam "intervenção militar com Bolsonaro no poder". Eles se reuniram em frente ao Comando Militar do Sudeste e aguardavam a possibilidade de falar com o presidente.
Com cartazes e palavras de ordem, criticavam a imprensa e o isolamento social. Tocavam vuvuzelas e até um berrante. Bolsonaro chegou ao local antes das 11h e saiu pouco depois das 13h, sem falar com participantes do ato.