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Política

Após velório do neto, Lula volta à carceragem da PF

Ex-presidente Lula teve liberação para acompanhar o velório e a cremação do quinto neto, em São Paulo

Ex-presidente Lula recebe apoio no velório do neto, ArthurEx-presidente Lula recebe apoio no velório do neto, Arthur - Foto: Miguel Schincariol/AFP

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou o velório do neto em São Bernardo do Campo por volta das 13h deste sábado (2), após quase duas horas no local.
Ele partiu até o aeroporto de Congonhas, e então foi levado de volta para a sede da Polícia Federal em Curitiba, onde o helicóptero que o transportava pousou às 15h45. O ex-presidente cumpre pena desde abril de 2018 por condenações de corrupção na Lava Jato.

O ex-presidente saiu do helicóptero cabisbaixo e não chegou a acenar para os cerca de 30 apoiadores que se manifestavam na parte de trás da PF. Entre a saída e a chegada em Curitiba, Lula passou cerca de nove horas fora da prisão.

Sob escolta armada, Lula foi levado pela manhã ao cemitério Jardim da Colina aos gritos de "Lula livre" e "Lula guerreiro do povo brasileiro". Na ocasião, ele acenou para os simpatizantes, que se aglomeravam no entorno, contidos por grades. Os apoiadores rezaram um Pai-Nosso em seguida.

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Arthur Araújo Lula da Silva, 7, morreu em decorrência de meningite meningocócica na sexta (1). O menino visitou o avô por duas vezes na sede da PF, no ano passado. Era filho de Marlene Araújo Lula da Silva e Sandro Luis Lula da Silva, filho do ex-presidente e de Marisa.

Familiares e amigos se despediram de Arthur num caixão branco aberto. À frente, foram colocados brinquedos, bola de futebol e um par de chuteiras. A sala estava repleta de coroas de flores, enviadas por políticos, membros da família, sindicatos e também pelo ditador da Venezuela, Nicolás Maduro.

Apenas a família e poucos políticos tiveram acesso a Lula dentro do crematório. Segundo relatos de pessoas que estiveram ali, o ex-presidente chorou compulsivamente ao entrar e, após as falas de um padre e dois pastores metodistas, discursou brevemente ao lado do corpo da criança.

Lula disse que irá levar seu "diploma de inocência" para a criança no céu. Segundo os presentes, ele afirmou que Arthur sofreu muito bullying na escola por ser seu neto e prometeu a ele que iria provar que não é culpado.

O petista disse ainda que não é natural uma criança morrer antes dos avós, referiu-se a si mesmo como alguém que "está fazendo hora extra" e afirmou que as pessoas que o condenaram não podem olhar para os netos com a consciência limpa que ele olha para Arthur. Lula pôde circular pela sala onde está o caixão do neto e pela sala adjacente. A Polícia Federal proibiu o registro de imagens, vídeos e áudios, inclusive pela equipe de comunicação do PT.

Aproximadamente 100 pessoas, entre políticos e familiares, assistiram à cerimônia de cremação de Arthur junto a Lula. O ex-presidente passou a primeira hora recebendo cumprimentos dos presentes. Ao ver a criança, segundo os relatos dos presentes, se debruçou ao lado do caixão, chorando. Depois, assistiu de pé à celebração religiosa. O padre Jaime Crowe, o primeiro a falar, disse estar diante de uma "dupla tragédia": segundo ele, a prisão de Lula e a morte de Arthur.

​A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, esteve no velório na noite de sexta. Na manhã de sábado, também estavam presentes os petistas Emídio de Souza, Aloizio Mercadante, Gilberto Carvalho, Benedita da Silva, José Genoíno, Alexandre Padilha, Clara Ant e Elenora Menicucci, os deputados Carlos Zarattini (PT-SP) e Ivan Valente (PSOL-SP), além do vereador de São Paulo Eduardo Suplicy (PT) e do líder do PSOL Guilherme Boulos.

Lula recebeu autorização da Justiça Federal do Paraná para acompanhar o velório e cerimônia de cremação. A Lei de Execução Penal prevê a permissão de saída de presos para velórios e enterros de familiares, incluindo descendentes. A saída do ex-presidente ocorreu sob forte esquema de segurança e uma logística com avião e helicóptero para transportá-lo. Ele deixou a superintendência da PF em um helicóptero às 7h. De lá seguiu para o aeroporto do Bacacheri, onde trocou de aeronave rumo ao aeroporto de Congonhas, na capital paulista.

Lula voou para São Paulo em avião do Governo do Paraná, cedido a pedido da Polícia Federal pelo governador Ratinho Júnior (PSD). De Congonhas, Lula seguiu de helicóptero para as proximidades do cemitério. O restante do trajeto foi feito de carro.
Mais de dez viaturas da Polícia Militar aguardaram a chegada de Lula no cemitério. Os policiais armados ficaram responsáveis pela segurança do lado de fora da sala do velório, enquanto a segurança de Lula ficou a cargo da PF.

Sindicalistas e apoiadores também tiveram a entrada autorizada, e a aglomeração no local cresceu ao longo da manhã. Simpatizantes e políticos, porém, tiveram que deixar o local onde estava o caixão de Arthur por uma determinação da PF de que somente familiares estivessem presentes. Seguranças do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC montaram uma estrutura de grades para controlar a entrada.

A presença de mais de uma centena de pessoas no local, porém, foi discreta em relação a mobilizações anteriores -a pedido de aliados do próprio petista, que se comprometeu a manter detalhes de seu roteiro sob sigilo. Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, informou aos policiais que a militância não foi convocada, e que o velório seria reservado a familiares e amigos. Líderes petistas demonstraram incômodo com a quantidade de policiais.

Okamotto, que é tio da mãe de Arthur, lembrou que o menino chegou a morar com Lula temporariamente para fazer companhia após a morte de Marisa Letícia. Ao deixar o crematório após a saída de Lula, o ex-prefeito Fernando Haddad classificou o momento como "muito difícil" e de "dor profunda". Disse ainda que sente a dor por ser pai.
Haddad disse que Lula é muito forte, mas que "tem que cuidar e acompanhar sua saúde" após um baque como esse.

Saída
É a primeira vez que Lula visita seu reduto político depois que foi preso, em abril do ano passado. Ele deixou a superintendência da PF apenas duas vezes, para prestar depoimentos no prédio da Justiça Federal do Paraná. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República, comentou em tom crítico na sexta-feira a autorização dada ao petista. "Lula é preso comum e deveria estar num presídio comum. Quando o parente de outro preso morrer ele também será escoltado pela PF para o enterro? Absurdo até se cogitar isso, só deixa o larápio em voga posando de coitado", escreveu no Twitter.

Neste sábado, disse: "Perguntado se Lula deveria sair da cadeia respondi que não –até por uma questão de isonomia com os demais presos. Agora, sobre a morte da criança é óbvio que é um fato lamentável e indesejável. Isso independe de ideologia. Não misturem as coisas."

A saída da prisão foi autorizada pela juíza Carolina Lebbos, responsável pela execução penal de Lula, nesta sexta-feira. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal também se manifestaram favoravelmente à decisão. Os detalhes da segurança e do deslocamento do ex-presidente, no entanto, foram mantidos sob sigilo para "preservar a intimidade da família e garantir não apenas a integridade do preso, mas a segurança pública", segundo informou a Justiça Federal do Paraná.

Neste sábado, poucos assessores acompanharam a saída do petista, do lado de fora da PF. No horário de partida do helicóptero, não havia militantes na Vigília Lula Livre, montada em frente à PF desde que o ex-presidente foi preso, em abril do ano passado.
Os militantes decidiram não organizar atos de apoio para dar condições à saída do petista. Por volta das 9h, cerca de 30 pessoas que fazem parte da Vigília Lula Livre realizaram um ato menor, cantaram "força, Lula", e fizeram um minuto de silêncio em homenagem ao neto do político.

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