Logo Folha de Pernambuco

Câmara dos Deputados

Às vésperas da eleição, Lira libera pacote de benesses que pode chegar a R$ 70 milhões

O pacote vem a reboque do fim do orçamento secreto, pelo qual parlamentares aliados direcionavam recursos para seus redutos eleitorais

Arthur LiraArthur Lira - Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Em campanha pela reeleição, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem liberado uma série de benesses aos deputados que votarão se ele continuará no cargo por mais dois anos. O pacote vai de reajustes nos salários a benefícios como passagens aéreas "extras" para ir e voltar de Brasília.

As benesses têm um impacto que pode chegar a R$ 70 milhões aos cofres públicos, conforme cálculo antecipado pelo jornal "O Estado de S.Paulo".

O pacote vem a reboque do fim do orçamento secreto, pelo qual parlamentares aliados direcionavam recursos para seus redutos eleitorais. O mecanismo, vetado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado, tinha em Lira um dos responsáveis pela distribuição das chamadas emendas de relator.

Lira ajudou a articular, por exemplo, o aumento salarial dos parlamentares, que passarão a receber R$ 41.650,92 a partir de abril. A medida foi aprovada por todos os deputados e senadores. Só em salários, o impacto anual do aumento significará R$ 61 milhões aos cofres públicos.

O presidente da Câmara também autorizou um gasto de R$ 13,4 mil para gastos com combustível e outras despesas. O auxílio-moradia é outro benefício que dobrará de valor e passará a ser de R$ 8,4 mil, contemplando até mesmo aqueles que não moram em imóveis funcionais.

Até o momento, apenas Chico Alencar (PSOL-RJ) se coloca como candidato de oposição a Lira. Expoente do Centrão, Lira tem, neste momento, o PT e o PL — donos das maiores bancadas da Casa — em torno da sua eleição. Os petistas, no entanto, se articulam para criar um bloco hegemônico, com o apoio do União Brasil, capaz de isolar o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

O plano esbarra no líder do União na Casa, deputado Elmar Nascimento (BA), que é defensor da criação de um único bloco. 

O apoio maciço a Lira causa incômodo até mesmo nos petistas, já que o poder de barganha do Centrão com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva crescerá de acordo com a votação que ele receber. Além de conceder os benefícios, Lira também se envolveu pessoalmente em alguns acordos políticos: coube a ele, por exemplo, articular a eleição do deputado Jonatan Jesus (Republicanos-RR) para a vaga no Tribunal de Contas (TCU) aberta com a aposentadoria de Ana Arraes. O PT se encaminha para apoiá-lo no cargo.

– Estamos negociando, ele (Jhonatan) nos visitou na liderança e a conversa foi muito boa – disse o deputado Zeca Dirceu, que vai liderar o PT na Câmara a partir de fevereiro.

Impasse com petistas
A poucos dias da reeleição, Lira se vê em uma "saia justa". Petistas tentam montar um bloco capaz de isolar o PL, dono da maior bancada na Câmara, e evitar que o partido de Bolsonaro comande a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), por onde passam todos os projetos que tramitam na Casa.

Na prática, o controle do colegiado dará ao Palácio do Planalto poder para pautar propostas de seu interesse ou segurar aquelas que não lhe agradem.

Com a intenção de ter os correligionários de Lula e Bolsonaro em seu entorno, Lira já sinalizou aos petistas que os dois partidos poderiam se revezar na CCJ, com o compromisso de que um nome da chamada "ala moderada" do PL vá assumir a Comissão. Nas contas de Lira, o apoio do PL significaria ao menos 35 votos sobre temas importantes na Casa. As alas mais ideológicas, no entanto, devem seguir votando de acordo com os interesses do clã Bolsonaro.

Veja também

STM frustrou dezenas de pedidos para anular decisões e prender Moraes após derrota de Bolsonaro
BRASIL

STM frustrou dezenas de pedidos para anular decisões e prender Moraes após derrota de Bolsonaro

Militar 'kid preto' será ouvido na próxima semana, e PF deve complementar relatório enviado ao STF
PLANO GOLPISTA

Militar 'kid preto' será ouvido na próxima semana, e PF deve complementar relatório enviado ao STF sobre plano golpista

Newsletter